Por
Jandira Feghali
Como
um explosivo, o advogado geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, implodiu o
pedido de impeachment dos juristas Janaína Paschoal, Miguel Reale Júnior e
Hélio Bicudo. Na Comissão que analisa o processo, ficou evidente a falta de
competência e má-fé que ronda o pedido de impedimento da presidenta Dilma
Rousseff.
Cardozo
foi firme ao mostrar que, constitucionalmente, um pedido deste, sem base legal
ou prova de crime de responsabilidade é um rasgo e um marco nefasto na História
de nosso país. Com o uso da força de expressão que repete-se cada vez mais no
país, deixou claro que este impeachment em curso é, sim, um golpe contra a
democracia, pois viola a Constituição e a legalidade brasileiras.
O
ministro também mostrou que o uso de decretos orçamentários tem sido prática
regular de governos anteriores, governadores e prefeitos, pois se sustentam nas
leis e tem jurisprudência.
De
outro lado, registra-se o oportunista parecer do deputado relator Jovair
Arantes, que desprezou a Constituição e promoveu uma política terrorista em relação
ao prognóstico brasileiro. Seu relatório ultrapassa a competência da comissão,
tratando de assuntos que não estão na denúncia e desconsiderando os argumentos
da defesa.
Cresce
no Brasil o entendimento que um impeachment conduzido por Cunha, réu no STF, e
articulado pelo vice-presidente, Michel Temer, não passa de um golpe para se
chegar mais rápido ao poder. E eles têm o apoio das mesmas instituições que
pregaram o golpe em 1964: uma elite conservadora incomodada com um projeto
popular.
Além
da defesa do ministro da AGU, o apoio de mais juristas e advogados a esta
posição faz ressoar no país a chama do entendimento e da reflexão, e isso tem
se revelado nos constantes atos em defesa do Estado democrático de Direito que
se multiplicam nas cidades. A oposição sentiu o baque e percebeu que o jogo
limpo e à luz do dia, sem desinformação, com o povo se manifestando em suas
múltiplas formas, ocupando as ruas e gritando contra o golpe.
No
programa Roda Viva desta semana, o ministro Marco Aurélio Mello foi extremamente
elucidativo. Sem rodeios, apontou erros, arbitrariedades e ilegalidades na
condução da Lava-Jato pelo juiz Sergio Moro e não recuou ante a selvageria dos
jornalistas que tentavam intimidá-lo com o ar autoritário, típico da Grande
Mídia.
Aliás,
esse tom violento e de ódio espumado tem permeado as manifestações contrárias
àqueles que defendem nossa democracia. Muitos artistas e intelectuais, até dos
que fazem oposição ao Governo Dilma, que se somaram ao coro que clama respeito
à Constituição foram vítimas de agressões fascistas e ações criminosas.
Mesmo
assim, o debate é livre e a exposição de ideias também. Levar para dentro do
Parlamento o clamor popular contrário ao golpe que invadiu as ruas das capitais
no dia 31 de Março é decisivo. Se somarmos as manifestações cotidianas do
Brasil, formamos uma explícita maioria contra o golpe, contra o retrocesso e a
retirada de direitos.
Na
Comissão do Impeachment, iremos até o último dia trabalhar para impedir que se
rasgue a Constituição, e nas ruas, aflorar a importância de nossa democracia em
corações e mentes. Chegará o dia em que poderemos comemorar, mas até lá é luta.
Muita luta. Minha e sua.
*
Jandira Feghali é médica e deputada federal (PCdoB/RJ) e vice-líder do governo.
Fonte:
altamiroborges
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