ALEX SOLNIK
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).
O
bravo comandante Michel Temer e seus peemedebistas favoritos estão preparando,
nos melhores alfaiates, as indumentárias mais vistosas, reservando os melhores
perfumes para embarcarem, excitadíssimos, na viagem do impeachment sem
desconfiarem que a sua aventura tende a ser tão desastrosa quanto a do Titanic.
Desastrosa
não só para eles, mas para todos os brasileiros que os saúdam e aplaudem – e
também os que os vaiam - enquanto eles gloriosamente sobem ao convés.
Pobre
Temer, pobres peemedebistas!
O
impeachment que sempre foi e sempre será um golpe civil, na medida em que sua
finalidade é depor um presidente (ou vice ou ambos) eleito é um processo tão
tortuoso e danoso ao país que jamais aconteceu entre nós, ao contrário do que
afirmam editoriais tendenciosos e deputados mal informados.
“Mas
tivemos o impeachment do Collor! E ele não foi danoso! Não fez mal algum ao
país, só fez bem! E ninguém chamou de golpe”!
Ledo
(e Ivo) engano!
O
impeachment compõe-se de três etapas. Na primeira, os deputados federais votam
se o processo deve ser aberto – é o que acontece nos dias que correm. Se 342
deles optarem pelo sim passa-se à segunda etapa, que é quando os senadores,
também por maioria absoluta, devem confirmar a decisão da Câmara dos Deputados
para o processo seguir adiante.
Nessa
etapa Collor renunciou, impedindo que a terceira etapa acontecesse.
E
é na terceira etapa que mora o perigo.
Se
os senadores aprovarem a abertura do impeachment (até aí vota-se apenas a
abertura e não o mérito), o presidente ou, no caso, a presidente é afastada
provisoriamente por 180 dias.
E
o vice assume, também provisoriamente, por 180 dias.
Nesse
período ocorre, enfim, o julgamento do impeachment, realizado no Senado, mas
sob o comando do presidente do STF. É quando o processo político veste o
figurino jurídico.
Jamais
um impeachment chegou a essa etapa no Brasil.
Essa
grande festa para a qual o PMDB ansiosamente se embeleza e distribui convites
tem, portanto, duração limitada.
Se
o Senado decidir que a presidente não cometeu crime de responsabilidade – que é
o mais provável, pois crime não há - ela volta ao poder e o governo provisório
do vice afunda no iceberg da sua estupidez e irresponsabilidade.
Mas
não é só.
Durante
esses seis meses as denúncias que Temer acumula na Lava Jato estarão sob a lupa
do STF e poderão transformá-lo em réu.
Em
último caso, seu mandato poderá ser cassado (motivos não faltam) pelo STF e ele
então terá de ser substituído por seu sucessor imediato, que é o presidente da
Câmara, que já é réu.
Assumindo,
e seu processo estando em andamento, o sucessor poderá vir a ser condenado
(faltam motivos?) e, em consequência, também cair. E seu sucessor imediato é o
presidente do Senado, que também é freguês da Lava Jato.
Se
este também for impedido, assumirá o presidente do STF, que convocará novas
eleições.
Nessa
altura do campeonato já poderemos estar nos aproximando de 2018 para quando as
próximas eleições estão, de fato, programadas.
Resumo
da estupidez número 1: o país vai perder esse tempo todo para chegar ao mesmo
ponto a que chegaria naturalmente, sem que tudo isso fosse necessário e com
consequências imprevisíveis para a já frágil economia, que se encontra em
recessão.
Resumo
da estupidez número 2: o impeachment terá ferido, mas não assassinado a única
autoridade – a presidente Dilma - que não é investigada pela Lava Jato para
abrir espaço a sucessores atolados em seus particulares mares de lama.
É
preciso alertar aos brasileiros que, ao contrário do que pregam os arautos do
golpe, o impeachment – se consumado - não vai tirar o Brasil da crise econômica
e sim aprofundá-la, pois a instabilidade de um governo provisório, ameaçado não
só pelo fantasma da volta da presidente como pela mão pesada da Lava Jato e do
STF não vai proporcionar clima favorável a investimentos e sim – aí sim – à
paralisia da atividade econômica.
Se
os peemedebistas pretendem embarcar no Titanic, tenham bom proveito.
Mas
levar com eles uma nação inteira não é apenas estupidez. É crime de
lesa-pátria.
Fonte:
brasil247
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