Em seu livro, FHC revelou que durante seu governo teve conhecimento de que havia corrupção na Petrobras |
por Helena Sthephanowitz, para a RBA
Caso
guarda semelhanças com o episódio que livrou a cara do banqueiro Salvatore
Caciolla. em 1999: operação cambial lesiva ao erário para "comprar" prejuízos
de empresas privadas com dinheiro público
Recentemente,
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) revelou em livro escrito por
ele que durante seu governo – mais precisamente 18 anos antes da deflagração da
primeira fase da Lava Jato – teve conhecimento de que a Petrobras era palco de
um escândalo de corrupção.
No
último 18 de março, eis que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) resolveu mexer
nessa história determinando a realização de uma perícia, pela Petrobras, em
contrato firmado entre a estatal e a corporação ibero-argentina Repsol YPF em
2001, no segundo mandato do tucano.
A
ordem do STJ é resultado de ação civil pública ajuizada por petroleiros ainda
naquele ano contra o ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras à
época, o ex-parlamentar do PFL, atual DEM e ex-ministro do Tribunal de Contas
da União (TCU), José Jorge Vasconcelos Lima. A ação denunciava outras 18
pessoas e mais quatro empresas. O processo indica que o negócio, uma troca de
ativos, resultou num prejuízo de US$ 2,3 bilhões à petrolífera brasileira.
Tudo
começou em 7 de março de 2002, dia em que o jornal O Estado de S.Paulo
noticiava "Subsidiária da Petrobras na Argentina tem prejuízo de R$ 790
milhões". Da notícia tratada com discrição (e inexplicavelmente escondida
no caderno "Cidades") extraímos as informações e complementamos:
´pouco tempo antes, em dezembro de 2001, a Argentina estava quebrada,
implantando o chamado "curralito", ou seja, o confisco da poupança e
depósitos bancários, semelhante ao Plano Collor no Brasil.
Nem
precisa desenhar que quem estava com investimentos na Argentina queria sair.
Caso da Repsol, que não tinha perspectivas de obter retorno lucrativo na
refinaria de Bahia Blanca. E quem não estava com dinheiro investido lá nem
pensava em entrar. Menos a diretoria tucana da Petrobras, naquele governo
FHC/PSDB.
No
mesmo mês de dezembro de 2001, os tucanos fecharam o negócio da troca da
refinaria e postos na Argentina da Repsol por parte da Refap (Refinaria Alberto
Pasqualini, no Rio Grande do Sul) e postos no Brasil, no mesmo pacote.
Um
presentão de mãe para filho aos espanhóis donos da Repsol.
Menos
de um mês depois, em janeiro de 2002, a Petrobras já contabilizava o prejuízo
na refinaria Argentina de R$ 790 milhões em dinheiro da época, pela desvalorização
do peso frente ao dólar (coisa que era mais do que prevista e anunciada).
O
peso argentino valia US$ 1,15 em dezembro de 2001 e disparou para US$ 1,95 em
janeiro de 2002. Corrigindo o valor do prejuízo da Petrobras de apenas um mês
na Argentina para valores de hoje, a cifra ultrapassa os R$ 2 bilhões (pelo
IGP-M). O prejuízo total das perdas do patrimônio cedido no Brasil pode chegar
a bem mais do que isso.
A
Repsol se deu bem em cima dos cofres públicos da Petrobras, quando era
administrada pelos tucanos. A REFAP deu lucro líquido de R$ 190 milhões em
2001, repartido com os espanhóis.
Detalhe
curioso: a troca da refinaria foi fechada três dias antes do então presidente
da Petrobras, Henri Phillipe Reischstul, escolhido por FHC, deixar o cargo.
Qual
a diferença deste caso com o caso Cacciolla, de 1999? Em ambos, uma operação
cambial lesiva ao erário ajudou empresas "amigas" a se livrarem de
rombos e prejuízos. No caso Cacciolla foi o Banco Central que
"comprou" o rombo com dinheiro público. No da Repsol foi a Petrobras
que "comprou" o prejuízo anunciado da Repsol.
Durante
os dois governos do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Ministério
de Minas e Energia serviu para o loteamento político, sendo ocupado por
indicados do então PFL (atual DEM). Em julho de 2001, o próprio FHC culpou a má
gestão pelo apagão energético. Na presença de José Jorge, titular da pasta na
época, disse que "seria muito melhor" se tivesse havido um
"gerenciamento mais adequado".
José
Jorge e seus dois antecessores – Rodolpho Tourinho e Raimundo Brito – foram
indicados pelo PFL. Tourinho foi demitido da pasta no começo de 2001, após
desentendimentos de FHC com Antonio Carlos Magalhães, responsável por sua
indicação. Brito também fora indicado por ACM . José Jorge assumiu e retirou
aliados de ACM. O grupo chamado de "PFL do B", de Jorge Bornhausen,
ganhou espaço. Só após o anúncio da crise energética é que FHC criou um
"ministério do apagão" chefiado por um técnico – Pedro Parente.
Também
foi o PFL/DEM quem escolheu o senador José Jorge (PE) para ser vice na chapa do
candidato do PSDB à Presidência da República em 2006, Geraldo Alckmin.
Resta
saber se haverá investigação séria sobre o caso e se, apuradas as
responsabilidades, se fará justiça.
Fonte:
redebrasilatual
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do BVO - Blog Verdades Ocultas. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Blog Verdades Ocultas para saber o que é impróprio ou ilegal.