Alzira Soriano elegeu-se prefeita da cidade de Lages em 1928Arquivo Pessoal |
Oitenta
e dois anos antes de Dilma Rousseff, ela administrou o município de Lages, no
sertão do Rio Grande do Norte
Rudolfo
Lago
Em
chinês, a palavra “crise” é formada pela junção dos ideogramas que significam
“perigo” e “oportunidade”. O que a ideia indica é que toda situação crítica, se
pode levar à tragédia, pode também abrir outros caminhos nunca antes pensados.
A
noção de que uma tragédia pode vir a ser o caminho para novas oportunidades
encaixa-se perfeitamente à trajetória de Alzira Soriano, pioneira da luta pela
emancipação das mulheres brasileiras. Foi a tragédia que fez com que Alzira
viesse a se tornar a primeira mulher eleita para um cargo político no Poder
Executivo em toda a América Latina, prefeita da cidade de Lages (RN), em 1930.
Em
1919, Luiza Alzira Soriano Teixeira tinha 22 anos. Duas filhas pequenas e uma
terceira na barriga. Um ano antes, o navio europeu Demerara desembarcara no
Brasil trazendo dentro de si os vírus de uma das maiores epidemias da história
do planeta, a gripe espanhola. Rapidamente, a epidemia, que matou em todo o
mundo cerca de 40 milhões de pessoas, alastrou-se pelo Brasil de maneira
avassaladora. Tão avassaladora que chegou a vitimar o próprio presidente da
República, Rodrigues Alves.
Além
do presidente, entre as vítimas da gripe espanhola estava Thomaz Soriano de
Souza, o marido de Alzira Soriano. Advogado, Thomaz era também o proprietário
de uma fazenda no sertão do Rio Grande do Norte, a Fazenda Primavera. Genro de
um dos principais líderes políticos da região, Miguel Teixeira de Vasconcelos,
Thomaz vinha sendo preparado para disputar as eleições para governador do
estado. A gripe, porém, abateu todos esses projetos políticos, e deixou Alzira
viúva, com três crianças pequenas e uma fazenda no sertão para administrar.
Alzira
não aceitou a condição de vítima de uma tragédia. Assumiu o comando da Fazenda
Primavera e foi para o sertão mandar nos rudes vaqueiros e lavradores que ali
trabalhavam. Sem dar atenção à sua condição de mulher naquele mundo então quase
que exclusivamente masculino começou a obter sucesso na administração da
fazenda. Em pouco tempo, era uma figura respeitada na região de Jardim de
Angicos, onde ficava a fazenda, então um distrito ligado ao município de Lages.
O
sucesso de Alzira alguns anos depois chamou a atenção das sufragistas do Rio
Grande do Norte, que buscavam uma mulher que pudesse vir a ser candidata nas
eleições municipais, em 1928. Alzira aceitou a tarefa. Ouviu muitas piadas e
xingamentos. Seus adversários contrapunham a ideia de “homem público”, ligada
ao político, a “mulher pública”, para insinuar que ela era uma prostituta por
fazer política, por administrar uma cidade. A necessidade de ter de responder a
esse tipo de coisa fez de Alzira uma mulher dura, que não levava desaforo para
casa. Era, porém, a forma possível para exercer autoridade sobre seu
secretariado, todo composto apenas por homens.
A
aventura de Alzira Soriano como prefeita durou pouco. Um ano depois de sua
posse, houve a revolução de 1930, que levou à ascensão de Getúlio Vargas ao
poder. Com a revolução, ela foi deposta. Foi, no entanto, duas vezes vereadora
pela UDN. Chegou a presidir a Câmara e liderar a bancada de seu partido no
município.
Alzira Soriano e seu gabinete, apenas de homensArquivo pessoal |
Hoje,
a casa em que Alzira Soriano nasceu, em Jardim de Angicos, agora emancipado
como município, é um museu que guarda a memória de sua trajetória política.
Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente da República brasileira, foi
eleita 82 anos depois de Alzira.
Fonte:
fatoonline
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