Ex-ministro
e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes disse nesta quarta-feira 30 em Porto
Alegre, onde participa de seminário na PUC-RS, que o processo de impeachment da
presidente Dilma está sendo movido por uma "coalizão de ladrões" que
deseja implementar uma "agenda entreguista", submetida a interesses
internacionais; especulação que circula hoje é de que a presidente chamou Ciro
para uma reunião de emergência em Brasília, e que por isso ele teria cancelado
uma palestra em Santa Catarina na sexta-feira; assessoria não confirmou, nem
negou o chamado de Dilma; confira a íntegra da entrevista ao portal Sul 21
O
ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta
quarta-feira 30 em Porto Alegre, onde participa de seminário na PUC-RS, que o
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff está sendo movido por uma
"coalizão de ladrões" que deseja implementar uma "agenda
entreguista", submetida a interesses internacionais.
As
declarações foram feitas ao portal Sul 21, do Rio Grande do Sul. Nesta quarta,
circula a especulação de que a presidente Dilma chamou Ciro para uma reunião de
emergência em Brasília, e que por isso ele teria cancelado uma palestra em
Criciúma, Santa Catarina, na sexta-feira.
Ao
247, a assessoria de imprensa do ex-ministro não confirmou, nem negou o chamado
de Dilma. Disse que assegurava que, naquele momento (por volta de 16h), ele
proferia palestra na PUC do Rio Grande do Sul e que, de lá, partiria para São
Paulo. Sobre o convite, a assessoria disse que não poderia falar em nome da
presidência. Quanto à palestra de SC, "existia um convite e uma previsão,
mas por problemas de agenda, não se confirmou", informou ainda a
assessoria.
Leia
abaixo a íntegra da entrevista ao Sul 21:
'Coalizão
de ladrões' quer derrubar Dilma para adotar 'agenda entreguista', diz Ciro
Gomes
Em
Porto Alegre para participar do Seminário Dívida Pública, Desenvolvimento e
Soberania Nacional, promovido pelo
Sindicato dos Engenheiros (Senge), na PUCRS, o ex-ministro e ex-governador do
Ceará Ciro Gomes (PDT) afirmou que o processo de impeachment da presidenta
Dilma Rousseff (PT) está sendo movido por uma “coalizão de ladrões” que deseja
implementar uma “agenda entreguista”, submetida a interesses internacionais.
Em
entrevista concedida ao Sul21 e ao Jornal Já, Ciro Gomes afirmou que a saída do
PMDB do governo federal,sacramentada em votação que durou três minutos na tarde
de terça-feira (29), em Brasília, tem o objetivo de acelerar o processo de
impeachment para tentar impedir que as investigações da Operação Lava Jato
atinjam mais nomes da classe política brasileira.
“O
doutor [Rodrigo] Janot, procurador-geral da República, está de posse de mil
contas na Suíça, com US$ 800 milhões já identificados e bloqueados, com a fina
flor dos políticos e dos empresários com eles conexos. Por isso que eles
precisam aceleradamente [do impeachment]. Faz cinco meses que o processo de
cassação do Eduardo Cunha não anda um passo sequer na Câmara e uma presidência
da República da oitava economia mundial, em menos de 15 dias, pelo que nós
estamos contando hoje, pode cair”, afirma Ciro.
Para
o ex-governador, provável candidato a presidência da República pelo PDT em
2018, o impeachment da presidenta ainda não é inevitável, mas será preciso que
o “povão acorde” e que haja uma mudança no contexto nacional para que ele seja
barrado. Ciro ainda prevê que, caso se concretize a queda de Dilma, o
vice-presidente Michel Temer terá muitas dificuldades para governar diante da
crise econômica e política vivida pelo país.
Esse
governo [Temer] não é gravemente negativo para o país só porque é ilegítimo e
viola a democracia. Esse governo vem com uma agenda basicamente entreguista
Confira
a seguir a íntegra da entrevista.
Como
você avalia a saída do PMDB do governo?
Ciro
Gomes: Isso é a crônica de uma morte anunciada. Se não fosse uma tragédia para
o país, eu seria um dos brasileiros que poderia estar dizendo, com muita moral
e coerência, que eu avisei. Quantas vezes eu falei com o Lula, eu falei com a
Dilma, lá na ancestralidade desse projeto, o quanto estúpido e equivocado era
colocar esse lado quadrilha da política brasileira na linha de sucessão do
País. Prevaleceu o pragmatismo que acabou entregando organicamente ao PMDB a
resultante do poder no Brasil, sem voto. E agora eles estão percebendo que
podem consumar o fato, eliminar os intermediários e assumir diretamente. São
componentes absolutamente escandalosos e enojantes. Eu não estou exagerando em
nenhuma palavra, porque assistir o País ir para o risco que está correndo, para
o Michel Temer, organicamente vinculado a tudo que está errado sob o ponto de
vista institucional e de corrupção no Brasil – eu sei muito bem o que estou
falando, é só pesquisar meu mandato de deputado federal, com ele na presidência
da Câmara – e parceiro íntimo do Eduardo Cunha, que vira vice-presidente da
República.
Com
isso eles vão, apoiados pelo PSDB nesse instante, cumprir a segunda tarefa
depois de assaltar o poder, que é matar a Lava Jato, que agora, sob o ponto de
vista dos politiqueiros de Brasília, parece ter saído do controle. Só para eu
lhe dar alguns dados que não saem na grande mídia porque não interessa. O
doutor [Rodrigo] Janot, procurador-geral da República, está de posse de mil
contas na Suíça, com US$ 800 milhões já identificados e bloqueados, com a fina
flor dos políticos e dos empresários com eles conexos. Por isso que eles
precisam aceleradamente [do impeachment]. Faz cinco meses que o processo de
cassação do Eduardo Cunha não anda um passo sequer na Câmara e uma presidência
da República da oitava economia mundial em menos de 15 dias, pelo que nós
estamos contando hoje, pode cair.
O
que acontece nos dias seguintes à chegada do Temer à presidência?
Ciro:
O que acontece é que um governo ilegítimo se constitui. Esse governo não é
gravemente negativo para o país só porque é ilegítimo e viola a democracia.
Esse governo vem com uma agenda basicamente entreguista,dos últimos interesses
nacionais que essa gentalha não conseguiu entregar para o estrangeiro. Anote o
que eu estou lhe dizendo: petróleo e gás. Mas também para arrebentar com o
rudimento de avanço social que o país experimentou, porque eles têm uma
convicção, está nos textos do Armínio Fraga, de que o salário mínimo, que é
base para toda massa salarial brasileira, passou do limite, que tem que ser
reduzido. Nos textos deles está lá que a política social não deve mais ser
universal, e sim focada em pequenos grupos como defende o neoliberalismo mais
tacanho, que inclusive está superado internacionalmente. Enfim, é uma tragédia
completa para o Brasil. O que significa dizer que, dado que esses politiqueiros
não conhecem o Brasil que existe hoje, que nós dissolveremos muito rapidamente
esse quase consenso que está sendo construído que é pela negação, porque a
sociedade brasileira está machucada pela crise econômica e indignada com a
novelização do escândalo. Mas, na hora que esse consenso negativo provocar uma
ruptura imprudente da nossa tradição democrática, no dia seguinte essa energia
não vai para casa. E eu estarei junto com eles tocando fogo, porque não
toleraremos que o Brasil seja vendido.
O
senhor já disse que será o primeiro a entrar com um pedido de impeachment do
Temer se ele assumir a presidência..
Ciro
: É todo um contexto. Eu não sou ninguém e há muita manipulação nesse Facebook,
com perfis falsos. O que eu disse, e vou repetir, é que o impeachment é um
procedimento jurídico-político. Ele não pode ser nem só político e nem só
jurídico, e está escrito na Constituição que essa interrupção de um mandato de
um presidente da República só se dará na condição de cometimento de crime de
responsabilidade. A Dilma não foi acusada de nenhum cometimento, de nenhuma
dessas figuras penais da lei de responsabilidade. O pretexto do pedido que está
tramitando e pode derivar numa ruptura democrática do país é o que eles chamam
de pedalada fiscal, que é um crime contábil, completamente errado, não defendo,
mas que todos os governos vêm fazendo e nunca, em circunstância alguma, é
crime. Entre o elenco formal da lei não é crime. Portanto você tem um golpe.
E
eu disse na entrevista e vou repetir pro senhor, se foi esse o pretexto que vai
levar à ruptura do Brasil e há esse risco de ninguém mais governar o nosso país
pelos próximos 20 anos, eu estou comovidamente convencido disso, eu entrarei
imediatamente com um pedido de impeachment baseado no fato, que eu já tenho
todos os documentos, de que o Michel Temer, como vice-presidente ocupando a
presidência da República, assinou dezenas de decretos de pedaladas fiscais,
igualzinho a Dilma. Portanto, se valer para ela juridicamente – evidentemente
que isso é só pretexto -, vai ficar a sociedade brasileira muito esclarecida de
que isto também foi uma molecagem de golpe. Mas vou entrar na hora.
A
partir do impeachment da Dilma e de um possível impeachment também do Temer,
qual seria a solução? Novas eleições?
Ciro:
Um impeachment só acontece quando há uma construção consensual. Hoje, esse
consenso não existe ainda. Ele se acelerou muito por conta de você ter feito
encontrar interesses internacionais poderosos, que têm uma influência
importante na formação da mega mídia, especialmente de São Paulo, que se
autodenomina imprensa nacional, e do Rio de Janeiro, com uma sociedade muito angustiada
com a crise econômica e com a loucura da denúncia moral, que foi extremamente
passionalizada com aquilo que pareceu ao povo uma jogadinha miúda, metendo o
centro da República nela, que é trazer o Lula para dentro do Palácio. Eu espero
que ainda dê tempo e que essa marcha da insensatez se interrompa. Não
acontecendo, o próximo passo de um impeachment do Michel Temer é muito
improvável, porque imediatamente ele passa a ser o representante no poder dos
interesses internacionais, que hoje estão na clandestinidade, balançando as
bases da democracia brasileira.
É
só vocês fazerem uma pesquisa rapidinha: quais são os lugares da Geografia do
mundo onde há petróleo com algum excedente e você imediatamente vai ver a mesma
instabilidade que há no Brasil, até agravada. Agravada, por exemplo, como é o
caso do Iraque. Agravada pelas tensões no Irã, agravada pelas tensões no Egito,
pelas tensões na Líbia. É uma coisa que não é coincidência. Arábia Saudita está
balançando. A Venezuela, na nossa América Latina, está completamente em
frangalhos, a sua institucionalidade. Isso é um jogo bruto, não é um jogo para
criança. Agora, esse interesse passa a vencer. Imediatamente a mídia correlata
já está fazendo o que para qualquer brasileiro é uma coisa enojante. Um partido
que está há 10 anos mamando, roubando, escandalosamente e fisiologicamente
entranhado no governo, que, portanto, se tem alguma coisa boa no governo, ele
pode reclamar para si também e, se tem alguma coisa completamente errada, o
PMDB também é responsável por isso. Sai (do governo) e a Rede Globo faz uma
novela dignificando, nobilitando o gesto do PMDB. É a novilíngua. George
Orwell, no livro “1984”, escreveu sobre isso.
Ciro,
você fala de entreguismo do PMDB…
Ciro:
Está escrito. Leia o que eles estão chamando ridiculamente de Ponte para o
Futuro.
O
senhor acha que o PMDB tem condições políticas de implementá-lo?
Ciro:
Nenhuma chance. É uma grande fraude. É uma grande e imensa fraude porque o
Brasil hoje tá pinçado por três crises, e uma alimenta a outra, e “trocar Chico
por Manel” não resolve nada. Pelo contrário, quando você excita expectativas
simplórias, grosseiras, como está acontecendo hoje, em que todo o problema
brasileiro seria essa novela moral, que nós vamos trocar uma pessoa que não tá
acusada de nada por uma linha de sucessão que é Michel Temer, Eduardo Cunha,
Renan Calheiros – os três estão citados na Lava Jato e ela é a única que não
foi citada nem é investigada em coisa nenhuma -, o que acontece no dia
seguinte? Eles vão trabalhar para desarmar a Lava Jato, mas as três crises vão
estar do mesmo tamanho.
Vamos
lá, crise número 1: internacional. Um constrangimento, eu diria para você,
paradigmático. O Brasil encerrou um ciclo, nós perdemos qualquer veleidade de
ter um projeto de desenvolvimento, nisso o PT comete talvez seu maior erro. Fez
um avanço, mas não institucionalizou nada, não mexeu em estrutura nenhuma do
País. O resultado prático é que, quando terminar o ano de 2016, entre produtos
industrializados que nós vendemos para o estrangeiro e produtos
industrializados que nós compramos do estrangeiro, o buraco já está em US$ 110
bilhões. A gente vinha, até 2014, pagando este buraco com um ciclo de
commodities muito caras. Então, eu estou trabalhando na CSN (Companhia
Siderúrgica Nacional), nós vendíamos, em 2014, uma tonelada de minério de ferro
por US$ 180. Chegamos a vender por US$ 40. O petróleo, quando nós comemoramos a
maravilhosa descoberta do pré-sal, eu estava lá ajudando a fazer a lei de
partilha, aquilo tinha e tem ainda o condão no futuro de mudar radicalmente a
estrutura brasileira social, econômica e de infraestrutura, o que acontecia, o
petróleo custava US$ 110. Então, a gente gasta US$ 41 para tirar um barril de
petróleo, com este nível de escala hoje, e vendíamos a US$ 110. É uma fortuna.
Pois bem, o petróleo custa US$ 41 para tirar e nós estamos vendendo a US$ 30.
“Micou” o pré-sal. Você tem a soja, o milho, etc., que não caíram tanto, mas
caíram 15%, 20% todos. Ou seja, a gente artificializou de fora para dentro uma
conta macroscópica do Brasil com o estrangeiro e esse ciclo morreu e morreu
para sempre – pelo menos pelas duas próximas décadas. O país está desafiado a
recelebrar toda a sua matriz de desenvolvimento agora, catando outro lugar
aonde assentar essa imprudência de não termos uma política industrial de
comércio exterior. Então, segura a primeira crise que eu quero ver como esses
golpistas vão tratar.
Segunda
crise, quando você tem um desequilíbrio nas suas contas externas, você
transfere para dentro do país uma variável que é a desvalorização da moeda. Eu
não tenho tempo aqui, mas, basicamente, se eu tenho um buraco nas contas com o
estrangeiro, a consequência prática dentro do país, a primeira, é que a moeda
se desvaloriza. O real se desvaloriza perante o dólar. Isto imediatamente se
irradia para os preços, todos os preços que são imediatamente sensíveis ao
câmbio. Por exemplo, você compra pão, pão é trigo, o Brasil não produz trigo
com suficiência, importa, é dólar. Então, se você tem uma desvalorização do
real frente ao dólar, o pão fica mais caro, a pizza fica mais cara. Remédio,
75% da química fina brasileira é importada. Se você desvalorizada a moeda, o
remédio fica mais caro. Passagem de ônibus, a principal variável é o diesel,
diesel é petróleo, petróleo é câmbio. Então, você tem uma pressão de preços
relativos que dá uma miragem de inflação. Tentaram botar desde o senhor
Fernando Henrique, e o PT manteve a mesma equação, a economia num tal
piloto-automático do inflation target, que aqui tomou o nome de meta da inflação.
Aí você atira com taxas de juros. Você tem a maior recessão, que não é mais, é
depressão econômica, da história do Brasil, e a taxa de juros do Brasil é a
maior do mundo. Eu quero ver o que essa calhordice aí, desses golpistas
salafrários, vai fazer no dia seguinte que tomar posse.
E,
terceiro, a crise política. Ou você acha que PT, MST, CUT, Ubes, eu e todos nós
que estamos convencidos de que há um golpe em marcha no Brasil vamos deixar
esse governo governar para vender o País para o estrangeiro. Nenhuma chance.
Nós vamos para o pau contra eles. Eu não reconheço legitimidade nesse governo
que está querendo se construir em cima do golpe. Eu não reconheço e vou lutar,
no meu limite, com as ferramentas que estiveram a meu alcance, para que essa
tragédia não se abata sobre o Brasil.
O
impeachment é inevitável?
Ciro:
Não é inevitável. Eu estou lhe falando e é preciso que a gente date as coisas,
porque as coisas estão muito frenéticas no Brasil, mas o que a sociedade
precisa saber é que o processo de cassação do Eduardo Cunha, pilhado com
milhões de dólares no estrangeiro roubados da Petrobras, flagrantemente, tudo
demonstrado com interações internacionais constrangedoras, faz cinco meses não
deu o primeiro passo ainda na comissão, e essa coalizão de ladrões, esta
cleptocracia que está se organizando ao redor do senhor Michel Temer, está
querendo derrubar uma presidente em 20 dias. Tá marcado para o dia 17 de abril
e, no momento em que eu estou lhe falando, só um milagre nos salva. Esse
milagre é possível de ser praticado se o nosso povo acordar, não só nós que já
estamos na luta, mas o povão, que ainda está vendo as coisas, com muita razão,
com um pé atrás, mas eu ainda tenho esperança que Deus toque o coração e a
cabeça da sociedade brasileira. E isso pode mudar as coisas.
Fonte:
brasil247
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