Um país às moscas
Quais são os projetos adiante dos brasileiros?
O que o cidadão comum pode esperar olhando para a frente?
Não tem emprego ou, se tem, pode perdê-lo rapidamente, como os 1.200 professores da Estácio demitidos de batelada, para serem substituídos por outros, mais barato, contratados por hora, como atendentes do McDonald’s.
Saúde e Educação Pública, que já são ruins, só podem piorar com o teto de gastos que congelará os gastos e investimentos nos mais importantes serviços públicos.
Aposentadoria, se não está como eu, para além do Cabo da Boa Esperança, diga adeus, porque 40 anos de contribuição é para provectos que, num mercado de alta rotatividade e devorador de carne fresca, o exclui de tudo que não seja o serviço público ou um pequeno negócio “por conta própria”.
Andar na rua, até sob o sol do meio-dia, tornou-se, em muitos lugares, um perigo.
As esperanças de sucesso voltaram a ser a mega-sena, a carreira de jogador de futebol ou a de modelo-manequim ou a de subcelebridade que, como provam Luciano Huck e Jair Bolsonaro, habilita alguém, até, para ser presidente da República.
Não há esperanças materiais e não há esperanças imateriais, que são a alavanca daquelas.
A esperança restante, a de voltarmos ao caminho que, com todos os seus defeitos e insuficiências, nos permitia esperar e prosperar, caminha para o cadafalso, onde três carrascos, com baraço, pregão e toga, a executarão impiedosamente.
Luís Costa Pinto, em ótimo texto publicado agora há pouco no Poder360, faz o retrato do que se passa na cabeça do país.
É um desalento percorrer as ruas da capital da República nesse fim de ano: há moscas e miséria por todo lado. O mormaço da desesperança se reproduz por todo o país, basta que saia às ruas.
As moscas chegaram tardiamente a Brasília, posto que a chuva desse ano demorou a cair. Em geral, as larvas eclodem em novembro. Esse ano, a eclosão auxiliada pela umidade coincidiu com os cestos mais fornidos nos depósitos de lixo da cidade, em razão dos restos de confraternizações de Natal. Os insetos, assim, disputam os rejeitos com as hordas de miseráveis que chafurdam em busca de algo para comer – há 20 anos não se via tantas pessoas com tamanha avidez em busca de restos de alimentos nos lixos brasilienses. A miséria voltou, e é palpável.
Moscas e miseráveis parecem conferir contornos de metáfora trágica à ascensão de Carlos Marun ao posto de garçom das carcaças do Estado brasileiro nesse fim de festa de uma turma que confraterniza retalhando o que era público. Mascaram o desmonte nacional com discursos implausíveis.
As moscas, na mitologia greco-romana, simbolizam o remorso, a culpa que, teimosa, voeja e pousa todo o tempo de quem se beneficiou de um crime. São as Erínias gregas, as Fúrias romanas, a maldição sartreana.
Ou, apenas, uma boa definição para a casta que nos governa.
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