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STF, humildemente, peço que varra Bolsonaro para o limbo da história


Você tem mãe, pai, irmãs, irmãos, filhas, filhos, avós, avôs, tias, tios, primas, primos, amigas e/ou amigos, certo? Escolha um deles. Aquele pelo qual você daria a própria vida.

Agora, imagine essa pessoa nua. As mãos e os pés estão amarrados. Esse seu ente querido está chorando. Não aguenta mais. Ele (ou ela) já levou choques nas partes íntimas, teve a cabeça submersa até perder o fôlego, engasgou com o próprio vômito, foi espancado e mutilado. Os agressores estão bem ali, rindo. As feridas no corpo vão fechar, mas a alma nunca será cicatrizada. Uma imagem deveras agradável, não?

Pois bem.

Você tem mãe, pai, irmãs, irmãos, filhas, filhos, avós, avôs, tias, tios, primas, primos, amigas e/ou amigos, certo? Escolha um deles. Aquele pelo qual você daria a própria vida.

Agora, imagine essa pessoa nua. As mãos e os pés não estão amarrados. Ainda assim, encontram-se imóveis. Esse seu ente querido está chorando. Não aguenta mais. Ela (ou ele) acaba de ser estuprado. Foi violentado. Teve a dignidade dilacerada por alguém que não vê problemas em dar vazão aos próprios instintos à custa do sofrimento alheio. Afinal de contas, ele (ou ela) mereceu. Não importa se tem 10 anos, não importa se tem 70. Por que usava aquela saia tão curta? Por que se insinuou daquela forma? Por que dançava daquele jeito? Mas, agora, acabou. O agressor está bem ali, satisfeito. As feridas no corpo vão fechar, mas a alma nunca será cicatrizada. Uma imagem deveras agradável, não?

Pois bem.

Esse é o mundo em que vive o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Uma sociedade na qual um dos maiores torturadores da história recente deste país merece homenagem no plenário da Câmara, a chamada Casa do Povo. Ao exaltar o coronel Brilhante Ustra naquele já longínquo domingo de abril, quando a Nação acompanhava ao vivo a votação que autorizou a abertura do processo de impeachment contra a petista Dilma Rousseff, Bolsonaro cuspiu na cara de quem foi vítima do mais vil dos seres humanos — o torturador. Um ser covarde que, desprovido de qualquer sentimento, é capaz de submeter um semelhante indefeso a toda sorte de maldade.

Pois bem.

Esse é o mundo no qual vive o deputado federal Jair Bolsonaro. É natural que quem defende a tortura não veja imoralidade alguma em abusar sexualmente de alguém. A não ser, é claro, que você seja “feia demais para ser estuprada”. A deputada federal gaúcha e ex-ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário tem essa sorte. “É muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria”, afirmou Bolsonaro, em entrevista há dois anos.

Bolsonaro defende a tortura e a cultura do estupro. Também tem nojo de pretos e homossexuais. Diz que a população indígena é “fedorenta e não educada”. Classifica os refugiados que vêm ao Brasil de “escória do mundo”.

Bolsonaro foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com 464 mil votos em 2014. É o sexto mandato dele, que acalanta um sonho (pesadelo para muitos) com o Palácio do Planalto. Portanto, a vida pública deste senhor nascido em Campinas, em 1955, vem desde antes de a Nação ser dividida entre coxinhas e mortadelas.

Não me surpreende um radical de direita que fincou a bandeira do extremismo em um nicho pouco explorado pelos contumazes aproveitadores da política nacional se tornar popular entre seus pares. Embora seja um militar da reserva e tenha lá seus apoiadores na caserna, a esmagadora maioria das nossas Forças Armadas não coaduna com os preceitos bolsonarianos — que, aliás, remetem muito mais a caraterísticas presentes no fascismo e no fundamentalismo religioso do que a outras ideologias.

O que me surpreende, de fato, é ver parentes, amigos e colegas saírem em defesa de figuras como Bolsonaro. Como pessoas com as quais convivi por boa parte de minha vida e pelas quais nutro carinho conseguem apoiar um sujeito que vê na diversidade algo a ser eliminado da face da Terra? Como aplaudir um sujeito que vê os diferentes como inimigos, tal qual os mais sórdidos ditadores que já existiram?"

A palavra-chave aqui talvez seja empatia. O conceito é simples. Diz respeito a se colocar no lugar do outro, a ser capaz de sentir o que ele sente. Uma abstração que caminha de mãos dadas a outra, chamada respeito.

Pois bem.

Pergunto-me o que houve na vida desses parentes, amigos e colegas para fazer com que eles tenham apagado, ainda que seletivamente, o termo empatia dos próprios dicionários. Não sei se houve algum evento traumático. Não sei se o flerte com o autoritarismo, que traz consigo a inevitável tentativa de subjugar e obliterar as minorias, reflete apenas um momento político conturbado.

Sei apenas que o mundo no qual vive o deputado federal Jair Bolsonaro está aí. No parlamento, em nossas famílias, nas redes sociais. E precisa ser combatido.

Esta semana, o Supremo Tribunal Federal entrou na roda, e o parlamentar radical virou réu em uma ação movida pela deputada federal Maria do Rosário. Aquela que “não merece ser estuprada por ser feia demais”. Na realidade, foram aceitas duas ações penais, uma por suposta prática de apologia ao crime de estupro, outra por injúria.

E Bolsonaro, que talvez não tenha a real dimensão do que seja uma tortura ou estupro — afinal, pelo que consta oficialmente, nunca praticou ou foi vítima de alguma dessas agressões —, sabe exatamente o tamanho do problema em que se meteu.

Se perder no STF, Bolsonaro vai ser enquadrado em um dos critérios da Lei da Ficha Limpa. A norma diz que ficam inelegíveis “os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado,” aqueles que incorrerem em uma série de crimes. Entre eles, “os contra a vida e a dignidade sexual”.

O terror bateu à porta de quem costuma se vangloriar de provocar medo nos outros. E Bolsonaro trocou o discurso feroz pela resignação ao tentar sensibilizar os magistrados do STF na última terça-feira (21/6). “Eu apelo humildemente aos ministros do Supremo Tribunal Federal que votaram pela abertura do processo que reflitam sobre esse caso”, disse o deputado.

Pois bem.

Eu, na condição de cidadão, apelo humildemente aos ministros do Supremo Tribunal Federal para que varram Bolsonaro ao limbo da história. E levem com ele qualquer pessoa que desconheça as palavras respeito e empatia pelo próximo.

Pelo bem de todas nossas mães, pais, irmãs, irmãos, filhas, filhos, avós, avôs, tias, tios, primas, primos, amigas e/ou amigos.


Fonte: metropoles

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