Brasil247
O conflito entre o senador José Aníbal (PSDB-SP) e o advogado Bruno Rodrigues de Lima, que o chamou de "golpista" e "traidor do Brasil" na manhã de ontem, na área próxima do desembarque de passageiros do Aeroporto JK, em Brasília, é um retrato atualizado do momento político brasileiro.
Para quem se habituou, desde o julgamento da AP 470, também conhecida como Mensalão, a assistir ao linchamento moral de personalidades ligadas ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores, a cena mostra uma situação oposta. José Aníbal foi o quarto caso de político ligado ao presidente interino Michel Temer que foi hostilizado publicamente.
Não é pouca coisa, quando se considera que Temer mal completou 30 dias de interinidade e, em teoria, teria uma imagem sem manchas nem desgastes para oferecer ao eleitorado.
Suplente empossado no cargo há pouco mais de um mês -- depois que o titular José Serra foi nomeado por Michel Temer para o Itamaraty -- ao desembarcar na Capital Federal José Anibal ouviu xingamentos equivalentes aos que eram dirigidos aos petistas.
"O menino só falava a verdade," garantiu ao 247 um motorista que havia deixado um cliente no aeroporto e preparava-se para ir embora quando ouviu os gritos de Anibal e resolveu registrar o que via na câmara do celular, produzindo um dos vídeos que acompanham essa reportagem. "O político estava completamente descontrolado.
Em declarações publicadas no portal G1, Aníbal disse: “ele me xingou de ladrão, eu xinguei ele de volta. Fui pra cima dele não para agredir, mas para interpelar. Dei um chute na mala dele e ele escorregou, quase caiu. Eu estava com uma página de jornal na mão, mas não o agredi”.
As imagens disponíveis mostram um senador bem mais agressivo, capaz de avançar várias vezes sobre Bruno. Numa das vezes, exibe um jornal na mão. Em outro momento, empurra o advogado e faz movimentos para lhe dar um tapa -- que a câmara não registra inteiramente.
"José Anibal só não me atingiu porque eu me protegi com o braço," diz o advogado, que faz curso de Direito na Universidade de Brasília e naquele momento pretendia embarcar para Salvador, onde tinha uma causa a defender.
O conflito de Brasília irá prosseguir na Justiça. Bruno já registrou queixa e é provável que o senador tome uma iniciativa equivalente.
A questão é política, porém, e gera um sinal negativo para o governo Temer, até porque não faltam antecedentes.
No domingo, Paulinho da Força e Beto Mansur foram vaiados durante um voo São Paulo-Brasília. Uma semana atrás, Henrique Eduardo Alves, ainda ministro do Turismo, foi obrigado a trancar-se no banheiro de um avião para fugir de vaias. Em maio, quando desembarcou em Manaus após a aprovação do pedido de impeachment pela Câmara, o deputado Pauderney Avelino enfrentou situação semelhante.
Embora o protesto de Bruno Ribeiro de Lima tenha tido um caráter individual, improvisado, como se vê pelas imagens, a experiência ensina que nem sempre essas manifestações podem ser consideradas inteiramente espontâneas.
Em vários casos, tanto os protestos contra integrantes do governo Lula-Dilma como aqueles que atingiram Temer e seus aliados tiveram a participação direta das partes interessadas.
A questão é saber como se portam aquelas pessoas que fazem o papel de platéia e apenas assistem ao conflito. Podem mostrar-se solidárias com um dos lados e adversárias de outro. Ontem, quando José Aníbal chegou a dizer que estava sendo agredido por "petistas", uma senhora que a tudo assistia, calada, reagiu:
-- Não é só petista não, disse.
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