EMIR
SADER
Colunista
do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos
brasileiros
Nunca
os Estados Unidos haviam estado tão isolados no continente, como neste século.
Desde que Lula foi eleito presidente em 2002 e, logo no começo da sua política
exterior, conduzida por Celso Amorim, o pais brecou a assinatura da Alca (Área
de Livre Comércio das Américas), se iniciou um processo de consolidação e
expansão dos processos de integração regional, que isolaram como nunca antes os
EUA na America Latina.
A
eleição de Nestor Kirchner na Argentina, em 2003, permitiu que os dois mais
importantes governos da Ameérica do Sul constituíssem um eixo, em torno do qual
se fortaleceu o Mercosul, se constituiu a Unasul, o Conselho Sulamericano de
Defesa, entre outros organismos da região, até se chegar à Celac, que dava por
terminada, finalmente a Doutrina Monroe na America Latina.
Diante
dessa realidade de fato, os governos norteamericanos trataram de incentivar
polos alternativos, como a Aliançaa para o Pacifico, centrada no México, no
Peru e em outros governos neoliberais na America Latina, sem muito sucesso.
Depois de querer erigir o Mexico como alternativa neoliberal no continente, viu
o governo de Peña Nieto fracassar rapidamente. Da mesma maneira, com o governo
de Sebastien Piñera no Chile.
Enquanto
isso, operava nas margens possíveis, como foram os casos dos golpes brancos em
Honduras e no Paraguai. Em Honduras, o papel de Hillary Clinton foi decisivo,
como ela foi cobrada agora nos debates das primárias democratas e ela confirmou
sua participação direta no golpe.
Diante
do isolamento no continente, os EUA buscavam conviver com os governos
brasileiros. Obama usava seu fair play para exaltar o Lula como “o cara”,
diante da inevitável projeção internacional do presidente brasileiro, mas teve
dificuldades para justificar as escutas de espionagem do seu governo, diante da
Dilma. Hillary visitou a presidente Dilma, supostamente para aprender das
nossas experiências de sucesso de políticas sociais, para dar um verniz
progressista na sua campanha, que precisava consolidar seu apoio entre os
negros e os latinos, para triunfar nas primárias.
A
eleição de Mauricio Macri abriu as portas para o sonho norteamericano de romper
o eixo da integração entre os governos do Brasil e da Argentina. Depois de se
negar a intervir para evitar o absurdo da operação de arbitrário juiz
nortemamericano a favor dos fundos abutre, Obama correu rapidamente a visitar o
novo presidente argentino, para expressar a identidade dos EUA com a nova
política economica do governo argentino e sua disposição de abrir uma nova fase
nas relações entre os dois países.
Diante
do golpe branco em curso no Brasil, o silencio tanto do presidente
norte-americano como da favorita para sucedê-lo é ensurdecedor. Enquanto quer
aparecer como defensor da democracia diante de regimes como os da Venezuela e
de Cuba, ao se esboçar o maior golpe branco existente até aqui no continente,
tanto Obama quanto Hillary não conseguem esconder que seu silêncio é sinal de
aprovação da tentativa de expulsão do PT do governo, mesmo depois dos elogios
ao sucesso desses governos.
O
sonho de reconstituir um eixo neoliberal no coração da America do Sul, como
havia tido entre os governos de FHC e de Menem, parece se tornar realidade,
mesmo se de maneira ainda hipotética e muito precária no caso do Brasil. Seria
o ponto de apoio para isolar e buscar derrotar os governos com que os EUA
sempre se incomodaram mais no continente – os da Venezuela, da Bolívia e do
Equador.
Uma
cumplicidade escandalosa com os golpistas demonstra como o Império não muda no
fundo das suas politicas, apenas se adapta às situações adversas. Mas o
prestigio dos EUA no continente está definitivamente golpeado, mais ainda que
sua decadência economia não lhe permite competir com os extensos acordos da
China e da Russia em toda a região. Mas a política imperial norteamericana
nunca deixou de embarcar nas aventuras golpistas na região, como as atitudes
vergonhosas do Obama e da Hillary comprovam.
Fonte:
brasil247
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