Por Fernando Morais em seu Facebook
o
áudio de michel temer.
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abaixo vai a transcrição da íntegra do pronunciamento à nação gravado pelo
vice-presidente michel temer e contido em áudio vazado hoje à tarde em
brasília, em um furo da repórter daniela lima, do uol.
conheço
michel temer há cerca de quarenta anos. fomos colegas em dois governos e tenho
com ele, como já disse aqui, uma relação reciprocamente respeitosa. nesse
episódio de hoje, porém, há, na minha modestíssima opinião, três questões a
avaliar:
1
– temer teria sido picado pela mosca da vaidade e do exibicionismo, tal como
ocorreu com fernando henrique no “episódio da cadeira da prefeito”. antes
fosse. mas não me parece que seja o caso. fhc era um noviço em política e um
vaidoso assumido. temer é um profissional. quem quer que tenha conhecido o
vice-presidente rapidamente sabe que, nesse quesito, ele é o anti-fhc.
discreto, fechado, baixo-perfil.
2
– a segunda hipótese, a mais grave, é que temer tenha recebido o espírito do
senador auro de moura andrade, que em 1964 declarou vaga a presidência da
república quando jango ainda estava em território nacional, abrindo a portas
para o golpe.
3
– o áudio vazou ou foi vazado? meu temor – não é uma acusação, é um temor – é
que a hipótese correta seja a de número 2, o que remete a um “vazamento”, assim
mesmo, entre aspas. uma divulgação proposital do áudio.
seja
o que estiver acontecendo, michel temer está correndo o risco de entrar para a
história pela porta dos fundos.
aí
vai a transcrição do áudio. na urgência de prestar um serviço aos seguidores do
foicebook, não foi possível corrigir maiúsculas e minúsculas, vírgulas e
pontuação. mas é fidelíssima.
Eu
quero neste momento me dirigir ao povo brasileiro para, dizer algumas matérias
que, penso, devam ser por mim, agora, enfrentadas. E o faço, naturalmente, com
muita cautela, porque na verdade, sabem todos que há mais de um mês eu me
recolhi, exata e precisamente para não aparentar que eu estaria cometendo algum
ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente
da República. Recolhi-me o quanto pude, mas evidentemente nesse período fui
procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país.
Mas
agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa
declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento contra a
sra. presidente, muitos me procuraram para que eu desse pelo menos uma palavra
preliminar à nação brasileira.
O
que eu faço com muita modéstia, com muita cautela, com muita moderação, mas
também em face da minha condição de vice-presidente e naturalmente de
substituto constitucional da Sra. presidente da República. Desde logo eu quero
afirmar que temos ainda um longo processo pela frente, passando pelo Senado
federal. Então todas as minhas palavras levarão em conta apenas a decisão da
Câmara dos Deputados. Portanto também as minhas palavras são provisórias, já
que nós temos que aguardar e respeitar a decisão soberana que o Senado Federal
proferirá a respeito desse tema. Seja quanto à admissibilidade da autorização,
seja quanto ao final do julgamento propriamente dito.
Porquanto
eu quero nesse momento prestar uma homenagem ao poder legislativo, tanto à
Câmara dos Deputados que já debateu amplamente este assunto, como ao Senado
Federal que irá debater. E desde logo eu quero comunicar aos amigos e colegas,
ehh... homens públicos, senadores, da melhor cepa ehh.. da melhor sabedoria, que
aguardarei naturalmente a decisão, aguardarei respeitosamente a decisão do
Senado Federal. Não quero avançar o sinal, ehhh... até imaginaria que eu
poderia falar depois da decisão do Senado, mas evidentemente sabem todos os que
me ouvem que quando houver a decisão definitiva, a decisão do Senado, eu
preciso estar preparado para enfrentar os graves problemas que hoje afligem o
nosso país.
E
desde logo quero dizer aos que me ouvem que, repetir na verdade, o que tenho
pregado ao longo do tempo. Os srs. sabem, os brasileiros sabem que há mais de
oito ou dez meses tenho feito pronunciamentos eh, referentes ‘a pacificação do
país. À unificação do país, porque é chocante, para não dizer tristíssimo,
verificar os brasileiros controvertendo-se entre si, disputando ideias e
espaços, até aí tudo bem, mas quando parte para uma coisa quase física, isso
não pode acontecer no nosso país. Portanto ao dizer agora que a grande missão
‘a partir desse momento é a pacificação do país, a reunificação do país, eu
quero repetir o que venho pregando há muito tempo, como responsável por uma
parcela da vida pública nacional.
Quero
dizer também, isso fica para o aconteça o que acontecer no futuro, que é
preciso um governo de salvação nacional, e portanto de união nacional. É preciso
que se reúnam todos os partidos políticos e todos os partidos políticos estejam
dispostos a dar sua colaboração para tirar o país da crise. Sem essa unidade
nacional penso que será difícil tirar o país da crise em que nos encontramos.
Para tanto é preciso diálogo, o fundamental agora é o diálogo. Em segundo lugar
a compreensão, e em terceiro lugar, para não enganar ninguém, a ideia de que
nós vamos ter muitos sacrifícios pela frente. Sem sacrifícios nós não
conseguiremos também avançar para retomar o crescimento e o desenvolvimento que
pautaram a atividade do nosso país nos últimos, nos últimos tempos, antes
eee... desta última gestão. Então é preciso retomar o crescimento e eu não
quero que isso fique em palavras vazias, pois tenho absoluta convicção, como
muitos me dizem, que a mudança pode gerar esperança. E que gerando esperança
isso gerará investimentos, não só investimentos nacionais, mas investimentos
estrangeiros. Porque precisamos fazer, restabelecer a crença no Estado
brasileiro, nas potencialidades do Estado brasileiro.
Devo
dizer aos que me ouvem que eu fiz muitas viagens internacionais no primeiro
mandato. E verifiquei o quanto os outros países que tem muito dinheiro em suas
mãos, querem fazer, aplicando no Brasil. Ou seja, querem acreditar no Brasil. O
que aconteceu nos últimos tempos foi um descrédito no nosso país. E o
descrédito é o que leva à ausência do crescimento, à ausência do
desenvolvimento e faz retomar a inflação. Por um lado, portanto, nós temos a
absoluta convicção de que é preciso prestigiar a iniciativa privada, é preciso
que os empresários do setor industrial, do setor de serviços, do setor
agrícola, do setor do agronegócio portanto, dos vários setores da
nacionalidade, se entusiasmem novamente com esses investimentos. Mas ao dizer
isso eu estou pensando apenas naqueles que possam investir? Não.
Diferentemente
eu estou pensando em manter as conquistas sociais obtidas nos últimos tempos.
Por exemplo, o emprego é uma coisa fundamental para todos os brasileiros. Para
que haja emprego é preciso uma conjugação dos empregadores com os
trabalhadores. Você só tem empregos se a indústria, o comércio, as atividades
de serviços todas estiverem caminhando bem. É a partir daí que você tem o
emprego, e com isso você pode retomar o emprego. De outro lado eu devo dizer também
que de fora a parte de projeto de empregabilidade plena, é preciso manter
certas matérias sociais, porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país
pobre, e portanto, e eu sei que dizem de vez em quando que, se outrem assumir,
que nós vamos acabar com o Bolsa Familia, vamos acabar com o Pronatec, vamos
acabar com o FIES, isso é falso.
É
mentiroso, e é fruto dessa política mais rasteira que tomou conta do país.
Portanto, nesse particular eu devo dizer que nós manteremos esses programas e
até se possível revalorizá-los e ampliá-los. Até que, e isso eu quero deixar
claro, o Bolsa Família, por exemplo, há de ser um estágio do Estado brasileiro.
Daqui a alguns anos é possível que a empregabilidade tenha atingido um tal
nível que não haja mais necessidade do Bolsa Família. Mas isso, enquanto
persistir a necessidade, nós manteremos. ...Pronatec, Fies, Prouni, todos esses
projetos que acabaram dando certo no país. Portanto eu lanço uma mensagem
àqueles que tem o capital, e lanço àqueles que querem uma mensagem do trabalho
e lanço uma mensagem para aqueles que sequer trabalho ainda conseguiram.
É
claro que nós vamos incentivar enormemente as parcerias público-privadas na
medida que isto pode trazer emprego ao país. Nós temos absoluta convicção de
que hoje mais do que nunca o Estado não pode tudo fazer, o Estado depende da
atuação dos setores produtivos do país, empregadores de um lado, trabalhadores
de outro lado. Esses setores produtivos é que, aliançados, vão fazer a
prosperidade do estado brasileiro. O estado brasileiro tem que cuidar da
segurança, da saúde, da educação, enfim, de alguns temas fundamentais que não
podem sair da órbita pública, mas o mais tem que ser entregue à iniciativa
privada. Da iniciativa privada no sentido da conjugação entre trabalhadores e
empregadores.
E
neste particular nós pretendemos fazer várias reformas que incentivem a
harmonia entre estes dois setores da produção brasileira.
Tudo
isso que estou a dizer, significará, devo registrar, sacrifícios iniciais para
o povo brasileiro. Em primeiro lugar. Em segundo lugar, não quero gerar nenhuma
expectativa falsa. Não pensemos que se houver uma mudança no governo, em 3, 4
meses estará tudo resolvido. Em 3, 4 meses pode começar a ser encaminhado, para
resolvermos a matéria ao longo do tempo. Se houver esse governo de transição,
ou se não houver, fique essa sugestão que eu estou fazendo para o governo que
vier a manter-se, ficam estas sugestões, que reitero, não são sugestões por mim
formuladas ou formatadas neste momento, mas que foram feitas ao longo do tempo.
Há
reformas que são fundamentais para o país, nós todos sabemos, não é possível,
agora, toda e qualquer reforma não alterará os direitos já formatados, já
adquiridos pelos cidadãos.
Nós
temos que preparar o país do futuro.
Algumas
matérias até estão em tramitação no Congresso Nacional e nós queremos ter uma
base parlamentar muito sólida que nos permita conversar com a classe política,
mas conversar também com a sociedade. Os srs. sabem, os que assistiram as
minhas palestras nos últimos tempos, que eu faço uma distinção e uma conjugação
entre governo, governança e governabilidade. Para dizer que o governo são os
órgãos constituídos, não há dúvida, legislativo, executivo, judiciário. A
governança vem exatamente pelo apoio político que o governo consegue dos
partidos políticos e do congresso nacional. Mas é preciso mais do que isso, é
preciso a governabilidade, e a governabilidade exige que haja uma aprovação
popular do próprio governo. Tanto a classe política unida com o povo levará ao
crescimento do país e portanto ao apoio ao governo. São esses três fatores que
nós vamos lidar.
É
claro que não vou falar aqui de reformas que são fundamentais, porque isso será
fruto de um desdobramento ao longo do tempo. Mas como não pensar numa reforma
política? Como não pensar numa reforma tributaria? Evidentemente que a reforma
tributaria envolve um outro tema, que é a revisão do pacto federativo. Porque
toda vez que você pensa numa reforma tributária você está pensando na
distribuição de competências e de recursos para as entidades federativas. É
preciso mais do que nunca que as entidades federativas tenham uma autonomia
verdadeira, ou seja, que nós tenhamos uma federação real, e não uma federação
artificial como tem acontecido nos últimos tempos. Sei por exemplo, no tópico
da federação, da grande dificuldade dos estados e municípios nos dias atuais. E
há estudos referentes à eventual anistia, ao perdão de uma parte das dívidas e
até uma revisão dos juros que são pagos pelas unidades federadas. Nós vamos
levar isso adiante, nós vamos estudar isso com muita detença, e vamos levar
isso adiante, porque a força da União também deriva da força dos estados e da
força dos municípios. E a força dessas entidades federativas depende da boa
vontade e do apoio da classe politica e do povo brasileiro. Há matérias
controvertidas como a matéria referente à legislação trabalhista e à legislação
previdenciária, que nós vamos fazer com grande diálogo nacional onde nenhum
setor será esquecido. Nem dos trabalhadores, nem dos empresários, nem do povo
brasileiro. Mas toda e qualquer modificação que vier a ser feita será para
garantir o futuro mesmo daqueles que já recebem salário, daqueles que recebem
aposentadoria.
É
nesses termos que nós vamos trabalhar, ou seja, o diálogo de um lado e a
conjugação de esforços do outro lado é que serão os alicerces, digamos assim,
do nosso trabalho.
Esta
é a manifestação que eu queria deixar ao povo brasileiro.
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