Filho do último presidente deposto no Brasil, em 1964, João Vicente Goulart conta, nessa entrevista exclusiva ao 247, como foram os últimos dias de seu pai em território brasileiro, entre 31 de março e 4 de abril, quando, finalmente chegou ao Uruguai. Perseguido pelo Exército brasileiro, que desejava prendê-lo, João Goulart voava de uma fazenda a outra, com o objetivo de provar que ainda se encontrava no Brasil quando foi empossado o presidente interino, Ranieri Mazzili, para, dessa forma ficar claro que foi deposto por um golpe desfechado pelos militares. Segundo João Vicente, o que está acontecendo hoje no Brasil se parece muito com o que aconteceu com seu pai. “A diferença é que os quepes foram trocados pelas togas” afirma. Indignado com o movimento que tenta depor a presidente Dilma, por ele chamado de “farsa” e “palhaçada” ele espera que o Senado e o STF corrijam a arbitrariedade praticada pela Câmara dos Deputados. Ele também afirma que, apesar de a autópsia de seu pai, feita 38 anos depois de sua morte não ter provado de forma incisiva, mas também não ter descartado seu envenenamento, tem certeza de que ele foi vítima da Operação Condor, que eliminou na época, por volta de 1976 vários líderes populares da América Latina. “Miguel Arraes” diz João Vicente “avisou meu pai que ele era o terceiro da lista da Operação Condor”.
Você era muito pequeno quando teu pai foi derrubado, mas depois ele deve ter conversado com você a respeito do golpe. O que ele contou?
A gente foi crescendo no exílio e a vida de exilado é uma questão difícil porque a gente vai se criando em vários países e vai se formando numa pergunta num questionamento interminável: por que a gente não pode voltar ao país? Nós não somos delinquentes! Então, essa questão foi muito bem trabalhada, porque ele várias vezes teve que explicar o que era a luta democrática, o que era um golpe de estado...
Ele te contou se sabia que havia uma conspiração em marcha contra ele?
Ele contava a respeito das grandes traições que sofreu do Congressos, das forças... o golpe lá foi meio diferente do de hoje no que se refere às transformações de esquerda e de direita. Por um lado ele estava sempre muito pressionado pela esquerda mais radical para acelerar cada vez mais as reformas de base, na marra, tinha um grupo de esquerda que acelerava esse questionamento, que era aquelas Frente Parlamentar e, por outro lado, a direita tremendamente com medo das reformas de base, da reforma agrária, a ponto de ele perder, antes do golpe de estado o apoio do PSD e do PTB, que era a aliança que o vinha apoiando após Getúlio e Juscelino, a aliança PSD-PTB que também o traiu no último momento, se assustou com as reformas de base e saiu da base do governo. Então, a gente tem um pouco de comparação com os momentos atuais e é isso que a gente lamenta muito. Mas voltando aos dias atuais eu tive informações que amanhã está entrando uma propostas dos senadores Randolfe, do Cristóvam, do Paulo Paim e outros sobre eleição direta.
Mas como seria isso?
Eu não sei, eu soube agora, eu não conheço o teor exato da emenda...
Seria eleição direta para presidente ainda esse ano?
Sim. Eu acho que é a solução. Claro que tem que ver como se comporta esse Eduardo Cunha... ele está pensando que tem 2/3 da Câmara Federal... tem que ver... a gente está um pouco aturdido, 24, 48 horas em cima desse aturdimento, eu acho que ainda tem algumas questões a serem produzidas por aí. O Senado tem hoje a responsabilidade de unificar o país. Agora, não unificar em torno do Temer porque, veja só, ninguém vai entrar nessa conversa que eles estão querendo passar de fazer um governo de coalizão nacional para salvar o brasil. Como é que faz um governo de coalizão nacional em cima de um golpe? Em cima de uma ilegalidade? Vai ser muito difícil, eu acho que o Temer não consegue governar, os movimentos irão para a rua questionar o STF, que tem uma grande responsabilidade, então eu acho que ainda vai ter muito debate de rua, muita pressão popular em cima disso antes da consolidação dessa farsa que é a tomada de poder por esse grupo saqueador.
Voltando a 64, a gente sabe hoje que o golpe contra seu pai começou em 62, por aí. Ele sabia disso?
Ele previa isso. Quando ele aceita o parlamentarismo, em 61... o parlamentarismo foi uma solução emergencial, como nós vivemos hoje para não levar o país à guerra civil. Porque existiam, de um lado, as Forças Armadas e existia um movimento grande, levantado pelo Brizola que era o Movimento da Legalidade ao qual o III Exército aderiu. Então, ou se aceitava o parlamentarismo ou se marchava novamente, como fez Getúlio em 1930 para não aceitar o parlamentarismo e exigir a presidência com os poderes totais, como indicava a constituição. E hoje nós presenciamos mais ou menos isso. Não temos os militares, mas esse poder dos militares, de uma certa forma foi transferido para uma república jurídico-midiática. Hoje nós vivemos uma prepotência jurídica jamais vista no país. A tese de unificação e pacificação, essa conversa fiada do Temer não cabe bum governo ilegítimo, num golpe branco ilegítimo. O golpe antes se dava com a mobilização nos quartéis, hoje o quepe foi trocado pela toga. Então, ainda tem muita água para correr embaixo da ponte antes de legitimar essa presidência do Temer. E eu pergunto: como é que ele vai ser presidente se a Dilma poderá retornar em seis meses? Claro, depois que se abre a comporta é muito difícil segurar as águas, mas também vai ser difícil segurar as águas deles. Nesse momento o Senado pode aprovar por 50% mais um a deposição da Dilma, mas nesse segundo julgamento são 2/3 para aprovarem e é muito difícil conseguir 2/3 no Senado. Poucas vezes na história do Brasil houve acordo de 2/3 no senado. Então, se a proposta de eleições diretas partir do Senado vai ter o apoio das forças populares, inclusive das forças que não queriam mais a Dilma. Mas essas mesmas forças, pelo que vemos nas redes sociais não querem Cunha, um homem que está com 40 milhões de dólares escondido na Suíça. Eu acho que nós temos que acreditar nisso, no senado e no STF.
Teu pai nunca chegou a fazer um diário, não é? Ele deixou alguma coisa escrita?
Não, ele conversava muito com os amigos no exílio, mas ele não tinha esse costume de fazer diário, não.
Ele foi informado que ia acontecer aquilo no dia 1º. de abril ou foi uma surpresa para ele?
Ele já previa isso, já previa há algum tempo...
Mas ele tinha uma informação segura de que aquele seria o dia do golpe?
Não... tanto a esquerda quanto a direita condenavam ele pela não resistência, mas ele sabia da Operação Brother Sam através do San Thiago Dantas que era uma pessoa muito ligada a ele, ex-embaixador nos Estados Unidos antes de ser o seu chanceler. Então, ele tinha informações...ele foi ao Rio Grande do Sul tentar segurar... ver quais as unidades do III Exército que estariam dispostas a segurar o golpe...na reunião que ele teve com o comandante do III Exército que não, pôde nem sequer ser realizada no quartel, foi na casa do comandante, ele sentiu que a sua presença no Brasil... o golpe já estaria consolidado. Então ele tinha a informação de que a IV Frota Americana já estava se aproximando da costa brasileira, informação essa hoje confirmada pelo Lincoln Gordon, no dia 30 de março e autorizada pelo presidente Lyndon Johnson ele sentiu que havia um projeto de guerra civil e que, aliás, eu acho que a grande vitória de Jango foi essa: os americanos e os golpistas jamais pensaram que ele conseguiria impedir a guerra civil e a divisão territorial do Brasil. Porque o projeto era de no momento em que começasse a resistência... eles já tinham f eito isso na Coreia, estavam fazendo isso no Vietnã... o projeto era dividir o Brasil em dois... Belo Horizonte seria a nova capital do Brasil, reconhecida pelos Estados Unidos, que foi o primeiro país que reconheceu o governo oriundo do golpe militar, o que foi uma barbaridade que aconteceu na madrugada de 2 de abril, quando o Auro Moura Andrade declara a vaga a presidência da República com o presidente dentro do país...e na mesma madrugada o Ranieri Mazzilli é empossado e o novo governo é reconhecido pelos Estados Unidos e a nova capital seria reconhecida, em Belo Horizonte, mesmo que houvesse resistência.
No dia 31 de março de 1964 teu pai estava no Rio ou em Brasília?
Nós estávamos em Brasília, na granja do Torto, nós estudávamos aqui. Meu pai estava lá no Palácio das Laranjeiras, no Rio. A capital do país funcionava no Rio, as principais autarquias não tinham sido transferidas ainda para Brasília nem vários ministérios. E então ele resolveu vir a Brasília...já chegou em Brasília num clima muito difícil... chamou o comandante da região, o General Serpa e quando ele foi tentar ir para o aeroporto o avião falhou... as tropas que o general Serpa disse que estavam no quartel já estavam na rua... quer dizer, foi um efeito dominó...
Qual era o plano dele quando ele saiu de Brasília no dia 31 de março?
Era resistir em Porto Alegre. Mas quando ele chega em Porto Alegre, ele sente, nas conversas que tem com o comandante do III Exército que não havia mais condições. O comandante disse: “Presidente, se o senhor me der a ordem para resistir nós vamos resistir. Mas vai ter sangue”. E ele que já tinha evitado a guerra civil quando aceitou o parlamentarismo, lutou depois pelo plebiscito que lhe devolveu em janeiro de 63 e aí, sim, ele partiu para as reformas de base que eram o grande desejo da sua vida, da sua luta e quando ele parte para as reformas de base a aliança que sustentava o seu governo, que vinha com ele desde 1955, na campanha Juscelino-Jango, que foi uma aliança vitoriosa, já não existia mais. O PSD já tinha se bandeado para o golpe. A ponto de o presidente Juscelino ter votado no Castello Branco acreditando que ele devolveria as eleições presidências em 1965. Hoje nós temos uma repetição disso, só que sem os militares desse golpe tramado, que é um novo golpe, que se deu na República Dominicana, se deu em Honduras, no Paraguai e nós estamos presenciando isso no Brasil. A ponto de nós vermos o Congresso que, dizem as más línguas que quem ainda não estava decidido foi decidido por 400 mil reais por voto pagos pela Fiesp para ficar do lado dessa palhaçada travestida de golpe. Eu acho que a Rede Globo prestou um grande serviço à democracia quando mostrou ao povo brasileiro a sua Câmara de deputados federais. Foi um verdadeiro festival de indignação e palhaçada. Por isso que não foi difícil eles terem obtido, com o dinheiro da Fiesp toda essa votação e ficarem mais de 300 parlamentares ou quase 300, todos eles indiciados e financiados por esse outro, já réu pelo STF, Eduardo Cunha, que comandou a nossa nação e está comandando o impeachment de uma presidenta por 54 milhões de votos. Esse é o grande desastre! Agora, a indignação também é grande. Hoje eu conversei com vários amigos meus que não gostavam da Dilma que diziam “mas, João, que barbaridade de Parlamento, que absurdo isso aí que nós vimos, tem gente que está lá que não sabe como está lá, é uma vergonha para o país, é uma vergonha internacional, o mundo inteiro está dando risada desse circo que foi montado por um cara que escondeu 40 milhões de dólares na Suíça”. É essa a verdade que nós estamos passando.
A Dilma falou nos conspiradores. Que o Temer é conspirador. Você acha que adianta somente denunciar os conspiradores ou teria que prendê-los?
Nós temos que fazer uma análise. Será que o povo brasileiro, depois de ver o resultado das conspirações e ver o tipo de conversa dos conspiradores será que aceitará um conspirador no governo? Ou exigirá eleições diretas imediatas.
Um conspirador não comete um crime de lesa-pátria?
Sem dúvida. Todo processo tem que ter um início e um fim. Teria que abrir um processo de conspiração e provar. Tá na cara que existe essa conspiração! Agora, nós só conseguimos provar que o general Amaury Kruel foi vendido e comprado pela Fiesp cinquenta anos depois. Mas aí já não adiantava mais. Quem tem que julgar esse tipo de processo é o STF. O STF também deveria julgar se há responsabilidade do Temer nas mesmas pedaladas. Ele também assinou decretos.
O Marco Aurélio negou a liminar...
Por que? Pela pressão? Por que agora todos os deputados se posicionaram a favor do impedimento? Acovardado? Ou será que não existem mais juízes capacitados para tomarem uma decisão? Nós já vimos o que é a Câmara, vamos ver agora o Senado, daqui a pouco a população tem que ver o que é o STF. Pessoas que são nomeadas com 30 anos e ficam até os 75 anos sentados na mesma cadeira, sem um voto popular. Rever esse processo sempre começa por um questionamento.
O Renan pelo que li hoje também resolveu acelerar o processo.
Eu tinha outra informação, que ele não aceleraria.
Parece que também não resistiu à pressão. Não vai esperar até maio.
Que coisa, né!
Quando um golpe está em marcha é difícil segurar. A mesma coisa aconteceu com teu pai.
É verdade.
O golpe está em marcha. Se há uma conspiração, prenda-se os conspiradores. É o único jeito de a conspiração parar.
Mas quem é que prenderia?
Não sei. Eu também me questiono quem prenderia. Estou falando em tese.
Eu acho que agora tudo depende da grande farsa montada e esperar o que a população vai fazer. Eu acho que ela não vai aceitar piamente um conspirador, um ladrão vice-presidente da República e um STF calado. Não sei. Eu estou extremamente doído, porque eu já presenciei isso aí, passei 13 anos no exílio e conheço bem como funciona essa corja de conspiradores.
Quando teu pai chegou em Porto Alegre ele conversou com Brizola?
Sim, houve uma reunião entre ele, Brizola, o comandante do III Exército e alguns generais gaúchos, na casa do comandante. No quartel já havia certa insubordinação. Essa insubordinação militar hoje dá lugar à insubordinação da toga! Temos hoje um Judiciário com poderes além do que deveria ter. No sistema americano o povo escolhe seus representantes na Justiça. E eles têm prazo determinado de mandato, não ficam eternamente. Isso é do século 18.
Qual foi a posição do Brizola nessa reunião?
Brizola queria resistir. Brizola sempre teve um posicionamento diferente. Ele pediu para ser nomeado ministro da Fazenda e não sei mais quem estava ali, Ministro da Guerra. Mas não adiantava mais. A decisão de não resistir preservou o Brasil, preservou a guerra civil, preservou a territorialidade. Os próprios americanos tiveram que voltar com a IV Frota Americana. Enfim, Jango não retornou vivo ao país, mas pelo menos preservou seu nome na história. Quem é que se lembra hoje dos conspiradores, dos torturadores? Eu tenho orgulho de ser filho do presidente João Goulart. Teria nojo de ser filho de um general golpista ou de um torturador de pessoas dentro dos quartéis, pessoas que estão ali sob a proteção do estado.
Quando Olympio Mourão Filho saiu de Minas Gerais em direção ao Rio qual era o plano? Prender o teu pai?
O plano do Olympio, inclusive, foi adiantado, ele foi criticado por alguns comandos. Ele queria ser o chefe da conspiração e não conseguiu. Tanto é que o Castello, que foi o grande conspirador nos setores militares assumiu o governo. Eu te pergunto: como são tratados hoje os traidores? O próprio Auro de Moura Andrade, o próprio Congresso Nacional anulou aquela sessão como uma página negra da história. Quem sabe daqui a cinquenta anos não vão anular essa página negra que consistiu nesse circo de palhaços montado na Câmara Federal?!
A filha do Mourão Filho conta que quando ele chegou ao Rio foi recebido pelo general Costa e Silva...
De pijama!
Não, de cuecas!
De cuecas?
Ele encontrou o Costa e Silva de cuecas. Mas por que ele foi para o Rio e não para Brasília?
Porque o Rio era uma cidade onde tinha mais contestação política. O comício da Central foi no Rio de Janeiro... as centrais sindicais, tanto os marítimos quanto os petroleiros estavam lá... Brasília não tinha nenhuma significação e tinha 100 mil habitantes... qualquer quartel dominaria Brasília.
Ele queria prender teu pai?
Essa foi a grande vitória do meu pai. Ele chegou ao Uruguai no dia 4 de abril. Ou seja, no dia 1.o de abril à noite, quando houve essa reunião em Porto Alegre ele já sabia que ia ao Uruguai. Mas ele ficou voando de campo em campo, ali no Rio Grande do Sul, na sua fazenda, em fazendas de amigos esperando que empossassem Mazzilli para que se consolidasse a atitude do governo como golpe de estado. O Mazzilli foi empossado no dia 2. Ele ficou se escondendo para não ser preso. Ele chegava numa fazenda, os militares vinham prender, claro que isso às vezes a história demora a produzir, mas a verdade é essa: ele ficou em território nacional para consolidar o golpe de estado 0u seja, empossaram outro presidente enquanto ele estava dentro do território nacional.
Isso significa que a ordem era prendê-lo?
Era. Tanto é que ele não conseguiu ficar numa fazenda só. Os peões ficavam na beira do acesso das estradas, nas pontes, em cima de cavalos, para avisar “ó, o Exército está chegando”. Quando o Exército chegava na granja ele ia para o rancho, do rancho ele foi para a fazenda de um amigo, depois ele foi direto para o Uruguai.
E a família, ou seja, vocês estavam aonde?
Já estávamos no Uruguai. Nós chegamos no Uruguai dia 2 e ficamos na casa de um amigo dele, Don Alonso Quiteri. Na hora em que ele viu que não dava mais para resistir ele mandou primeiro nós, nós chegamos a Montevidéu no dia 2 de abril e ele chegou no dia 4. Fomos recebidos com honras. Os uruguaios enchiam a boca quando diziam: nós temos um presidente constitucional do Brasil morando aqui. Claro que depois mudou, em 1973 veio o golpe. Eu conto isso no meu livro que deve ser lançado agora em agosto. “Jango e eu: relato de um exílio sem volta”. Porque fazem 40 anos da morte dele este ano, em dezembro. Eu acho que a editora Civilização Brasileira quer lançar no dia dos Pais, uma coisa assim.
Teu pai foi perseguido pelos militares brasileiros enquanto esteve no Uruguai?
Sim, milhares de exilados estavam no Uruguai. E a ditadura brasileira mandou nada menos que o Pio Corrêa, o criador do Ciex (Centro de Informações do Exterior) para ser o embaixador. Que operacionalizou, depois de muitos anos o serviço secreto nas embaixadas brasileiras do mundo inteiro. Quando as democracias da América Latina nós fomos perseguidos, eu fui preso, minha mãe foi presa...lá no Uruguai. A mãe foi presa por transporte de carne. Eu fui preso no colégio, numa operação militar. Fiquei três dias no Batalhão de Engenheiros número 4, eles queriam saber se vinham armas do Brasil... aquelas coisas... o que é que o Maneco, que era o piloto do pai, trazia do Brasil...Prenderam muita gente. Prenderam o próprio Maneco. Tivemos que ir para a Argentina. O Perón nos convidou para morar na Argentina em 1973.
Como nasceu a suspeita de que teu pai foi assassinado?
A suspeita nasceu porque houve um agente que operava a serviço da JUP chamado Mário Ronald Neira Barreiro que foi destacado para fazer a vigilância do meu pai. Eles prenderam um dos exilados brasileiros, ligado ao Brizola, só que o cara disse que era do DOPS e perguntaram para ele como é que o DOPS brasileiro está aqui dentro do Uruguai? Aí eles pressionaram o cara e começaram a monitorar. Primeiro foi feita contra meu pai a Operação Escorpião, que foi de monitoramento, de seguir os passos do pai, depois, segundo ele, o próprio Fleury esteve em Montevidéu para determinar que ele fosse eliminado. Ele não poderia ser eliminado no Uruguai com violência, bomba ou metralhado porque o Uruguai era o responsável politicamente pelo seu exílio diante das organizações internacionais. Então, como ele viajava muito e era descuidado com os remédios, que ele era cardíaco, foi trocado um desses remédios por uma substância que elevaria a pressão arterial e aceleraria os batimentos cardíacos até produzir um derrame ou um infarto. A autópsia foi feita somente 38 anos depois. Foi detectada presença de uma substância numa quantidade mínima, não se podia afirmar que ela causou a morte nem que não causou. Não havia mais tecidos nos ossos. Mas foi produzido um relatório de mais de 1000 páginas.
Você acha que teu pai foi vítima da Operação Condor que eliminou vários líderes da América Latina?
Sem dúvida. Eu não acho, eu tenho certeza. O Miguel Arraes ligou para ele e disse: “Olha, estão nos informando através do serviço secreto argelino que você é o terceiro da lista da Operação Condor”.
Fonte: 247
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