Oposição
entrega pedido de impeachment com base em novas pedaladas
Felipe
Amorim e Leandro Prazeres
Do
UOL, em Brasília 21/10/2015
Deputados
da oposição entregaram nesta quarta-feira (21) à presidência da Câmara dos
Deputados um novo pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT)
elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, um dos pioneiros do PT, Miguel Reale
Júnior, ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e
Janaína Conceição Paschoal, advogada.
O
documento incorporou as denúncias de que as chamadas pedaladas fiscais
continuaram a ser praticadas este ano, com base em representação do Ministério
Público do TCU (Tribunal de Contas da União). O novo pedido também é visto como
uma forma de superar a discussão jurídica sobre se o impeachment pode ser
aplicado com base em fatos ocorridos no mandato anterior.
Bicudo
e Reale Júnior já haviam protocolado um pedido de impeachment, mas o documento
original foi apresentado antes das decisões do STF e não incluía os argumentos
contra as pedaladas fiscais em 2015. Além dos juristas, a professora de direito
da USP, Janaína Paschoal também assina o pedido.
Participaram
do ato na manhã desta quarta-feira o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio
(SP), o líder da minoria, Bruno Araújo (PSDB-PE), o do DEM, Mendonça Filho
(PE), e o do PPS, Rubens Bueno (PR).
O
documento tem 65 páginas e começa com uma frase do pensador cristão santo Tomás
de Aquino: "O princípio geral a se observar é que '(...) não se deve
proceder contra a perversidade do tirano por iniciativa privada, mas sim pela
autoridade pública', dito isto, reitera-se a tese de que, cabendo à multidão prover-se
de um rei, cabe-lhe também depô-lo, caso se torne tirano".
O
líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), fez um breve discurso. "Esse é um
movimento não é apenas da oposição", disse. "Estamos hoje aqui
apresentando o pedidobde impeachment, em nome dos juristas e da oposição, mas
principalmente em nome da população brasileira que não suporta mais esse
governo mentiroso e corrupto", afirmou.
Também
participaram do ato a filha de Hélio Bicudo, Maria Lúcia. Junto ao pedido, foi
entregue uma lista impressa de assinaturas de apoio ao impeachment coletadas em
uma petição na internet.
A
filha de Bicudo, a advogada Maria Lúcia, citou frase atribuída ao ex-deputado
Ulysses Guimarães (PMDB): "A praça pública é maior do que a urna",
disse aos jornalistas.
Integrantes
do MBL (Movimento Brasil Livre) também estiveram presentes no ato. Eles
prometem acampar em frente ao Congresso como forma de pressionar pelo
acatamento do pedido. "Essa é uma vitória dos movimentos de rua",
afirmou Kim Kataguiri, um dos líderes do movimento pró-impeachment.
Após
o recebimento do documento, Cunha afirmou que o pedido será analisado com
"total isenção".
Principais
argumentos
O
novo pedido de impeachment se baseia em quatro principais pontos:
Decretos
de aumento de despesa: o TCU apontou que em 2014 o governo Dilma publicou em
2014 sete decretos que abriam crédito suplementar para despesas do governo sem
autorização do Congresso Nacional, num momento em que o aumento de gastos era
incompatível com a meta de superavit (economia para pagar juros da dívida
pública). O pedido aponta que decretos semelhantes foram publicados este ano.
Pedaladas
fiscais: o governo atrasou o repasse a bancos federais para o pagamento de
programas governamentais. Isso, na prática, representaria um empréstimo dos
bancos ao governo, o que é proibido por lei.
Não
registro da dívida: as dívidas do governo com os bancos, relativas às
pedaladas, não foram computadas na Dívida Líquida do Setor Público, que serve
para conferir o cumprimento das metas fiscais.
Omissão
em casos de corrupção: o pedido sustenta que a presidente Dilma não agiu para
combater os casos de corrupção na Petrobras, investigados pela operação Lava
Jato, e que teriam, segundo as investigações, beneficiado o PT.
Balanço
dos pedidos
Este
é o 27º pedido de impeachment protocolado na Câmara em 2015, mas é considerado
por políticos e movimentos sociais de oposição como o principal deles. Isso
porque, caso o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) determine seu arquivamento,
deputados da oposição pretendem recorrer para levar a decisão a plenário. Cunha
é investigado pela Procuradoria Geral da República por suposto recebimento de
propina no esquema da operação Lava Jato.
A
estratégia, porém, foi barrada por três decisões do STF (Supremo Tribunal
Federal). A possibilidade de recurso ao plenário havia sido fixada por Cunha ao
responder a questão de ordem da oposição sobre como seria feita a tramitação
dos pedidos de impeachment. Os ministros do Supremo entenderam que essas regras
não estão previstas na Constituição ou na lei que trata do impeachment.
Com
a decisão do STF, o entendimento de políticos da oposição é que, agora, apenas
Cunha teria o poder de aceitar o pedido. Após essa fase, é necessário submeter
a decisão de abertura de processo de impeachment ao plenário da Câmara, onde é
preciso o voto de dois terços (342) dos deputados.
As
decisões do STF foram emitidas em caráter provisório (liminar) e o caso não foi
julgado em definitivo pelo tribunal. Cunha recorreu contra as liminares.
De
acordo com a Mesa Diretora da Câmara, dos 27 pedidos de afastamento de Dilma,
20 já foram arquivados e sete estão em andamento.
Outro
lado
O
advogado Flávio Caetano, que representa a campanha de Dilma no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), afirmou, em nota, que a apresentação do novo pedido de
impeachment é uma manobra para burlar as decisões do STF que determinaram a
suspensão do rito processual estabelecido pela presidência da Câmara para a
tramitação de pedidos do tipo.
"Com
efeito, o novo pedido de impeachment representa uma manobra processual para
descumprir as decisões do STF", disse Caetano. "Ora, o STF decidiu
pela suspensão da tramitação dos atuais
pedidos de impeachment e pela proibição de aditamentos. Em clara manobra para
burlar as decisões do STF, os autores desistiram do pedido anterior e
formularam um novo pedido, que nada mais é do que um aditamento
impróprio", afirmou o advogado.
Segundo
Caetano, a tramitação do novo pedido na Câmara deve aguardar o desfecho do
julgamento da questão no Supremo.
Fonte:
uol
Nota
de Esclarecimento
01/04/16
19:24
O
Tribunal de Contas da União esclarece que, em relação aos decretos de abertura
de créditos suplementares ao Orçamento Geral da União de 2015, foi autuado
processo a partir de representação formulada pelo Ministério Público junto ao
TCU e de solicitações do Congresso Nacional para averiguar a existência de
indícios de irregularidades na execução orçamentária daquele ano.
Atualmente,
o processo está em fase de instrução – na qual podem ser requeridas informações
junto aos órgãos gestores e são realizadas análises por auditores federais de
controle externo. Contudo, não foi emitido qualquer parecer preliminar por esta
Corte, cuja manifestação somente ocorrerá após a conclusão da instrução
processual.
Fonte: tcu
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