Por Romulus
Comentário ao post "O xadrez da defesa da democracia"
Sobre os artigos esdrúxulos no Estadão e o editorial do Otavinho na Folha, reproduzo comentário que fiz mais cedo nas redes sociais:
"Essa foto foi um flagrante ontem na redação da Folha de SP.
-constatação após giro na timeline do twitter: maior sequela do enterro do golpe será orgulho (ainda mais) ferido da imprensa familiar e seus colunistas.
-não fazem nem acontecem mais...
-editorial de Otavinho reconhecendo que não há base para impeachment mas exigindo 'renúncia já' dá peninha...
-cinema bom é sempre ótima pedida para escapar da realidade adversa por algumas horas.
-mas se recomenda que as Glorias Swansons da imprensa familiar não vejam "Crepúsculo dos Deuses" antes de ajustar antidepressivo com psiquiatra".
Vamos medicar logo os editorialistas e colunistas para deixar a fala: "Mr. Demille, Mr. Demille... I'm ready for my closeup" apenas para a interpretação trágica de Gloria Swanson.
Não perceberam eles ou resistem a aceitar que o calendário passou. Não estamos mais nos anos 90. A mídia familiar, reverbera, acentua, exacerba, mas não define a pauta.
Minha preocupação com o "dia de amanhã" reside exatamente na constatação da parte final da coluna do Nassif. Não com a mídia, fora os brios feridos. Caso o impeachment seja enterrado de vez, ficamos com uma "pata manca" (na expressão americana) governando. Conta com quorum no Congresso para barrar o impeachment - secundado por uma retaguarda institucional dos legalistas do STF e social do movimento "não vai ter golpe". Mas não tem maioria para aprovar leis (como orçamento), que dirá emendas à Constituição (reformas) ou bloquear "CPIs fogo fátuo" da oposição. Ou seja, ambiente bastante hostil que, em não mudando, mantém o governo no córner mais 2 anos e pouco. O país aguenta?
Sejamos justos com Dilma em nossa crítica. Sim, ela não faz um bom governo desde meados do primeiro mandato. A questão é que ela já não governa desde o início das eleições de 2014. Pior que um mau governo é um não-governo. Como bem notou o Min. Marco Aurélio em seu tom sempre irônico, há uma tentativa de negar à presidente a governabilidade. "Por quê?" pergunta ironicamente o ministro.
Esse impedimento vem do casamento entre o golpismo de parte do PSDB/PMDB, com o medo de boa parte do Congresso da continuidade da Lavajato e com a claríssima agenda da "Força Tarefa" de esvaziar qualquer iniciativa do Executivo para tentar retomar algum protagonismo. Bem sabemos como: administrando no varejo o vazamento seletivo do estoque de documentos e delações de que dispõe. Já lá se vão 2 anos nessa dinâmica. 2 anos não com um governo ruim, mas com um não-governo. Agora eles atacam de Celso Daniel... (e eu suspiro de cansaço)
O relançamento do governo Dilma não depende apenas de a presidente aceitar suas limitações e abrir-se para quem possa ajudá-la (no governo e na sociedade). Passa também:
1) pela supressão da esperança por parte dos parlamentares implicados nas investigações de que possam escapar mediante conspiratas e acordões por cima. O desespero é péssimo conselheiro. Melhor a resignação frente ao inevitável; e
2) por de alguma forma a "Força Tarefa" deixar de antagonizar as ações administrativas (ou meras tentativas!) do governo federal.
Penso que condição inicial para esses dois fatores é político-jurídica: os dois grupos tem de estar certos de que Dilma não cai. Isso saberemos já em alguns dias ou semanas. As várias partes terão de entender-se e agir neste cenário - com Dilma titular da presidência. Indultos presidenciais e "abracadabras" institucionais (trocar PGR, aumentar número de ministros no STF, irtervenção pesada na PF...) somem como miragens no deserto conforme murcha a viabilidade do projeto Temer.
Outra condição compete exclusivamente ao PGR, Rodrigo Janot: Basta. Chega de jogo dúbio, rapaz!
Ainda custo a acreditar que todos os passos da força tarefa ocorram de acordo com seus desígnios. Parece-me mais que, como um realista político, tenta ficar no meio do caminho para não se queimar em definitivo com nenhum dos lados em contenda nem com a(s) opinião(ões) pública(s). Pensava ter sido a carta aos procuradores o sinal para o fim da dubiedade. Que nada! Pois na semana passada não nos sai Janot com a originalíssima sugestão "ministro sim, foro não"? Ou com o cronometradíssimo ataque ao PP?
Frente ao enterro ou não do impeachment, Janot terá que sair da zona de conforto e se assumir. Quer como avalista da governabilidade inibindo movimentações e cronogramas políticos da "Força Tarefa", quer aderindo de vez a essa Força como generalíssimo e partindo para o pau. Abertamente dessa vez. Espero que a saída seja a primeira. Combina mais com sua biografia até aqui. Mas se for a segunda, mesmo que doa e traga um período de exacerbação quase insuportável das instabilidades, será melhor do que a dinâmica atual. Melhor uma guerra quente de curta duração do que essa guerra fria durante todo o mandato de Dilma.
Para o bem e para o mal, sem Janot e STF à mesa não há acordo pela governabilidade sustentável.
Fonte: 247
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