Todas
as máscaras estão a cair, não ficará uma para fazer parte do grande teatro
Grego. Todos verão quem é quem.
Vanessa
Maria de Castro; Magda de Lima Lucio
O
Brasil está desunido. Escutamos isso o tempo todo. E isso chama atenção e até
agora não compreendemos por qual razão soava como uma nota desafinada.
A
pergunta importante a se fazer agora é quando o Brasil esteve unido?
O
Brasil sempre foi dividido, entre colônia e metrópole, casa grande e senzala, cidade baixa e favela,
campo e cidade, rico e pobre, branco e negro, branco e indígena, homem e
mulher, mulher/homem e gay.
A
ideia de união nacional é uma fantasia que nunca aconteceu.
A
nossa única união é em final de Copa do Mundo, somente ali conseguimos ter a
tão sonhada união da Nação, mas como isso é muito raro, e somente dura 2 horas,
a união se esvai naqueles minutos.
O
Brasil é um País imenso de riquezas e contradições. E uma das maiores
contradições do Brasil é que ele deseja ardorosamente deixar de ser colônia,
mas os senhores de ontem e hoje não aceitam pagar o preço de perder as suas e
seus escravos. O maior erro é não
considerar que a desunião do Brasil encontra-se na eterna luta de classes.
O
Brasil nasce no berço das incipientes relações capitalistas, podemos até dizer
que foi Brasil que deu o alimento
primordial para construir a pedra angular de sustentação do sistema industrial,
fundamental para o surgimento do sistema capitalista. A América foi a que mais
nutriu a Europa em sua expansão imperialista na Era Moderna lhe dando boa parte
de suas riquezas e vidas.
O
capitalismo que surge se dá pelo fruto da nova riqueza agregada a Europa vindo
das Américas. Por isso as Américas que era prósperas, ricas e tinham um povo
consolidado em seu território foi dizimada pelo poderio da pólvora e a ganancia dos Europeu.
O
Brasil é uma nação que tem em sua história marcada pela impossibilidade em se
sentar à mesa da elite global, por que ainda é tratado como colônia, e o golpe
que está sendo construindo no Brasil é a representação desta narrativa
internacional que precisa dominar terras que tem riquezas.
O
golpe em curso no Brasil, agora em sua segunda fase, é um golpe contra a
população brasileira em sua experiência democrático. São somente 31 anos de
democracia contínua após o último período golpista (1964/1985).
A
pergunta que se faz agora é por qual
motivo eles querem tanto o poder? Questiona-se por que os opositores do governo
não podem esperar o processo eleitoral e participarem do processo de disputarem o seu projeto de nação?
Há
um estranhamento no ar de tanta velocidade em tirar um governo eleito
democraticamente, custe o que custar para implantar um projeto que na foi aceito e nem conhecido
do povo. Pergunta-se por que tanta
pressa?
Podemos
pensar em uma hipótese e neste sentido é uma hipótese que nos coloca em uma
situação gravíssima, pois ao não aceitarem o resultados do sufrágio universal,
eles reconhecem que não tem pelo voto condições de implantar o projeto de poder
que desejam, logo precisam destituir a pessoa eleita, e para isso precisa dar uma
demão de verniz de legalidade à
situação. Precisam do reconhecimento internacional, pois é a serviço do capital
financeiro internacional que agem,
precisam manter o ar de finos, elegantes democratas para os organismos
internacionais, pois almejam postos de decisão nestas instituições.
Os
opositores ao governo atual sabem que mediante ao voto eles não tem a menor
possibilidade de ganhar uma eleição majoritária. Lambem ainda a derrota deste
projeto nos pleitos de 2002, 2006, 2010 e em 2014. Só resta a eles artifícios
golpistas, com ar de legalidade para então forjar a legitimidade, sob a batuta da destruição do ambiente
constitucional.
A
Câmara Federal esta semana ao votar o impeachment demonstrou que a síntese do
jogo – arrancar a Presidenta de sua cadeira, custe o que custar. A negociação
que antecedeu a votação foi um dos capítulos mais deprimentes do parlamento, no
qual não esconderam que estavam ali para atender aos seus interesses privados,
individuais.
A
evocação da família e de deus deu um caráter quase xiita ao evento.
Tivemos
ainda a violência de alguns a homenagear torturadores, isso é simplesmente
crime, e como crime deve ser tratado. Não há como em um sistema democrático
permitir que um representante do povo, ou qualquer outra pessoa, evoque a
ditadura e a tortura na tribuna, ou nas
ruas.
O
golpe foi coroado pela fala deste parlamentar ao dizer entusiasticamente que
naquele momento glorioso revivia 1964.
E
todos aqueles que votaram pelo sim, não se constrangeram em apoia-lo. Forma-se então uma cadeia de ilegalidade e
cumplicidade em um único slogan
todos defensores de torturadores.
Os
parlamentares falaram em nome de seus eleitores, mas sabemos que apenas 33
poderiam efetivamente falar em nome de seus eleitores, pois os demais foram
eleitos sem que tenham a figura do eleitores de forma direta. Pois pela
proporcionalidade hoje estabelecida é preciso que a coligação atinja um mínimo
de votos e então vários candidatos pouco votados se beneficiam dos votos da
coligação, por isso foi criada a figura do ‘puxador de voto’. O Tiririca é um
destes puxadores, com os votos dele foram eleitos outros tantos sem votos
suficientes.
A
Casa do Povo foi enxovalhada por seus
representantes na votação do dia 17 de abril.
A
segunda-feira, dia 18 de abril, foi um
dia de ressaca para os ganhadores, havia um certo ar de vergonha no ar. Os
representes do povo promoveram um “circo
de horrores”, com todo respeito que temos ao circo e seus palhaços. O povo em
suas casas e nas ruas ouviram, viram as falas dos probos e traidores que são representantes do povo brasileiro,
com processos na Justiça convocando deus e suas famílias para garantir
legitimidade à sua decisão de serem golpistas ‘soft’.
O
ponto chave deste desastre político em curso no Brasil ocorre pelo simples fato
de que a democracia brasileira disse não aos antigos donos da Pátria verde
amarela. Para estes coronéis participar do pleito eleitoral é uma mera
formalidade, pois não há espaço para países que refutam as regras do jogo democrático
neste exato instante, nada mais que isso.
Sabemos
que apenas cinco presidentes eleitos conseguiram terminar seus mandatos na
República. Isso sim é gravíssimo, os
pretensos donos do Brasil sempre usaram do poder da imprensa e do poder
econômico para comprar votos e quando o voto não é suficiente, derruba-se o
governo.
O
problema é que o mundo mudou, hoje temos outros meios de comunicação e o povo
brasileiro começa a tomar partido e ter opinião sobre política. Acabou-se desta
forma os currais eleitorais, termo muito comum até a década de 1990 no Brasil.
Trocar o voto por um dentadura ou por um litro de
leite, não funciona mais, pois o Brasil hoje é um pais que a população tem
dente, a população não está mais desnutrida, em função das políticas públicas
sociais de distribuição de renda.
Como
não se ganha a eleição pelo voto, há de se ganhar na ‘mão grande˜, no
‘tapetão”, ou seja, pelo golpe.
O
que os golpistas não esperavam é que o
ato político de fazer-se um golpe no Brasil fosse na verdade
fortalecer ainda mais o campo da
esquerda no Brasil e a imagem da esquerda brasileira no exterior. Os partidos
de esquerda de sustentação do governou aumentaram suas filiações nestes 60
dias.
Os
movimentos sociais estão mais fortalecidos e conscientes que a luta somente
começou. Muitas pessoas que não estavam envolvida no fazimento da política
brasileira no seu dia-a-dia transformou este momento em uma questão de
fundamental importância e aderiram a
luta contra o golpe.
Os
movimentos sociais sempre souberam que para terem avanços em suas demandas é
necessário muita luta, pois até no governo de esquerda os avanços foram significativos, mas pequenos
para a população. Os movimentos sociais também sabem que estes pequenos
avanços podem ser perdidos, e por isso, lutam e lutarão pelos avanços já
conquistados e pelos que vão conquistar.
A
partir de agora a ordem é organizar os movimentos sociais, organizar as bases e
voltar a fazer política. Acabou a alienação das massas, que tanto alimentou os donos do poder no Brasil.
Organizar
e ganhar as eleições locais é uma bandeira fundamental neste momento.
A
alienação seria o pior remédio para o povo tomar agora. Ter consciência dos
fatos, fazer suas escolhas e deliberar a ação é o caminho dos movimentos
sociais. O Brasil mudou e nunca mais será o mesmo, os velhos
donos do Brasil, não farão mais
com a nação o que já fizeram tantas vezes, pois desta vez o povo sabe o que está acontecendo.
Todas
as máscaras estão a cair, não ficará uma para fazer parte do grande teatro
Grego. Todos verão quem é quem.
No
fim este será um momento exitoso, pois estamos a fortalecer a esquerda e os
movimentos sociais no Brasil. O feitiço virou contra o feiticeiro. De bons e
pobros, os velhos donos do Brasil passaram a traidores, escravocratas e
colonizados da elite internacional.
O
mundo olha com inquietação para o Brasil, e não há como negar depois do dia 17
de abril, pela falas dos representantes do povo, que o que fizeram ali foi uma
traição ao povo, ao voto em nome da família e de deus. Deus nos proteja de
tanta sandice na casa do povo, que
parecia mais um templário de Sodoma.
Créditos
da foto: Nilson Bastian / Câmara dos Deputados
Fonte:
cartamaior
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