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Vivi
os anos de chumbo em minha adolescência.
Lembro-me bem que ainda muito jovem
vivia o tempo do medo. Era proibido aglomerar. Conversas de esquina podiam
detonar a desconfiança dos meganhas. "Olha o rapa", era o sinal para
nos recolhermos.
Podia estar falando da festinha do fim-de-semana, do
namoradinho que acabara de conhecer, da bronca da professora. Não importava.
Estava em grupo; e isso era proibido. Era perigoso! Já não podíamos zoar com os
motoristas dos ônibus que carregam os estudantes. "Vamos levar para o
Dops", era ameaça comum aos meninos e meninas que queriam brincar.
Nossa
rebeldia era ir a peças de teatro que falavam de política, mesmo que o assunto
fosse Cinderela. Rebelávamos nos pequenos detalhes. Greve de estudantes
dispersada na borracha. Medo. Era a época do medo.
Com
meu espírito rebelde por natureza, causava preocupação em minha mãe. Mas era
tão jovem, que nem pude gritar tudo o que queria. O grito morreu na garganta.
Vi
o Brasil em ódio extremo. Amigos que desapareciam. Famílias desintegradas.
Grandes projetos, pequenos avanços. A opressão em todos os níveis. A obediência
era a ordem, a única saída para a paz. Tanta tristeza, tanta miséria, tanta dor
guardada no peito.
Mas
também vi a reação. Participei dos movimentos pela volta da democracia. Homens
íntegros, e outros nem tanto, se revezavam no palco. E o povo voltou às ruas. E
me lembro de Tancredo, o escolhido para fazer essa transição. Foi ele o eleito
para dar reinício à nossa tão jovem democracia. E agora vejo seu neto fazer o
caminho inverso. Querer o retrocesso, o golpismo. O que diria Tancredo hoje?
Por: Luciene Ferreira
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