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O que diria Tancredo hoje?


Luciene Ferreira em seu Facebook
Vivi os anos de chumbo em minha adolescência. 

Lembro-me bem que ainda muito jovem vivia o tempo do medo. Era proibido aglomerar. Conversas de esquina podiam detonar a desconfiança dos meganhas. "Olha o rapa", era o sinal para nos recolhermos. 

Podia estar falando da festinha do fim-de-semana, do namoradinho que acabara de conhecer, da bronca da professora. Não importava. Estava em grupo; e isso era proibido. Era perigoso! Já não podíamos zoar com os motoristas dos ônibus que carregam os estudantes. "Vamos levar para o Dops", era ameaça comum aos meninos e meninas que queriam brincar.

Nossa rebeldia era ir a peças de teatro que falavam de política, mesmo que o assunto fosse Cinderela. Rebelávamos nos pequenos detalhes. Greve de estudantes dispersada na borracha. Medo. Era a época do medo.

Com meu espírito rebelde por natureza, causava preocupação em minha mãe. Mas era tão jovem, que nem pude gritar tudo o que queria. O grito morreu na garganta.

Vi o Brasil em ódio extremo. Amigos que desapareciam. Famílias desintegradas. Grandes projetos, pequenos avanços. A opressão em todos os níveis. A obediência era a ordem, a única saída para a paz. Tanta tristeza, tanta miséria, tanta dor guardada no peito.


Mas também vi a reação. Participei dos movimentos pela volta da democracia. Homens íntegros, e outros nem tanto, se revezavam no palco. E o povo voltou às ruas. E me lembro de Tancredo, o escolhido para fazer essa transição. Foi ele o eleito para dar reinício à nossa tão jovem democracia. E agora vejo seu neto fazer o caminho inverso. Querer o retrocesso, o golpismo. O que diria Tancredo hoje?

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