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Esquema nas obras da Cidade Administrativa pode trazer a derrocada final de Aécio



IMAGINE QUE UM SIMPLES comerciante do interior de Minas Gerais tenha sido preso por participar de um esquema de vendas de habeas corpus para traficantes de drogas em conluio com um desembargador.

Imagine que este comerciante seja primo de um político responsável pela nomeação do desembargador que mais tarde se tornaria seu comparsa no esquema.

Agora, imagine que o comerciante e o desembargador tenham sido presos e que o Fantástico tenha feito uma excelente reportagem de quase 12 minutos sobre o assunto, mas não citou que o político em questão levava o nome de Aécio Neves (PSDB/MG).

Não precisa imaginar mais nada. Tudo isso aconteceu entre 2011 e 2012. A possibilidade bastante factível de as digitais de Aécio estarem presentes no esquema nunca foi sequer cogitada pela polícia ou pela imprensa. Com todo esse carinho e proteção, o mineiro despontou na corrida presidencial de 2014 com um duro discurso contra a corrupção e, poucos meses depois, lideraria a oposição no processo que derrubou a presidenta eleita.

Essa é uma história real que pouquíssimos brasileiros conhecem. Por outro lado, muitíssimos têm certeza de que um dos filhos de Lula é proprietário da Friboi – um boato que ganhou tanta força que quem ousar contestá-lo corre o risco de ser ridicularizado.

Essa semana, o senador mineiro apareceu novamente na boca mole de um executivo da Odebrecht. Segundo a delação de Benedicto Júnior, ex-presidente da empreiteira, houve uma reunião com o então governador mineiro para combinar a fraude na licitação da construção da Cidade Administrativa – a obra mais cara e inútil dos 8 anos do governo do faraó mineiro. Foram despejados mais de R$ 2 bilhões na nova sede oficial, que fica a 20km do centro de Belo Horizonte, obrigando muitos servidores a gastarem quase duas horas para chegar na “Brasília mineira” – o que não chega a ser problema para os servidores que andam de helicóptero.

O esquema teria sido criado para favorecer as grandes empreiteiras. Segundo o delator, o governador indicava Oswaldo Borges da Costa Filho, conhecido como Oswaldinho, para tratar das propinas. Oswaldinho foi nomeado presidente da CODEMIG – estatal que financiou integralmente a obra – por Aécio e é conhecido por tucanos e opositores como seu tesoureiro informal nas campanhas entre 2002 e 2014. Ele também foi dono de uma empresa de táxi-aéreo em sociedade com seu cunhado Clemente Faria (morto em 2012 em acidente aéreo), filho de Gilberto Faria, que foi padrasto de Aécio durante 25 anos. Foi com os jatinhos dessa empresa que Aécio viajou algumas vezes para Cláudio (MG), onde um aeroporto público foi construído dentro da fazenda de sua família e cujas chaves ficavam sob a responsabilidade do primo Quedo (sim, o mesmo que foi preso por vender absolvição para traficantes).

Você provavelmente já se perdeu nesse emaranhado de parentescos que aparelhou a coisa pública mineira, portanto, voltemos à caguetagem. Delações isoladas não provam nada, e Aécio tem se apegado a isso ao negar tudo. Mas quando pessoas de diferentes empresas narram o mesmo modus operandi dos pagamentos de propina, fica difícil não acreditar. A última delação bate com a de outras empreiteiras que participaram do consórcio. Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, contou no ano passado exatamente a mesma história que o ex-executivo da Odebrecht: a propina era de 3% do valor dos contratos e foi paga para Oswaldinho. Segundo apuração da Folha, ex-executivos da Andrade Gutierrez também irão contar a mesmíssima história nas próximas semanas.

Mas até blindagem sofre fadiga de material. Com tantas citações em delações nas costas, vai ficando cada vez mais difícil para os aliados de Aécio na imprensa segurarem essa barra que é gostar do mineirinho. Os detalhes das propinas na Cidade Administrativa foram apurados pela Folha e ganharam manchete de capa no jornal. Porém, ainda há na imprensa quem resista. O Estado de Minas, que se autointitula o “grande jornal dos mineiros”, escondeu a notícia em seu site sem oferecer nenhuma chamada na página principal. Nas edições impressas de quinta e sexta, nem vulto da notícia na capa. Parece que o fato de um ex-governador e senador mineiro estar sendo acusado de fraudar licitação na construção de uma obra faraônica não tenha sido a grande pauta de Minas Gerais dessa semana. Até a notícia “Internauta compara político ao ‘Dino da Silva Sauro’ e é condenado pela Justiça” ganhou chamada na página principal do site do jornal durante dois dias.

Já o Jornal Nacional continua funcionando normalmente. Assim como já havia ignorado quando o senador foi “discretamente” chamado para depor na Polícia Federal, o jornal televisivo de maior audiência do país fingiu que nada aconteceu com Aécio nesta semana e dedicou 0 segundo para o caso.

Bom, era isso o que eu tinha pra contar. Encerro lembrando que eleitores do mineirinho saíram às ruas para protestar contra a corrupção do governo Dilma vestindo uma camiseta com os dizeres: “Eu não tenho culpa. Votei no Aécio”.

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