NÊGGO
TOM
Cantor
e compositor. É pobre, detesta doença e mais ainda camarão
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justificativas e relativizar o fato são dois recursos que costumamos utilizar
quando não somos as vítimas de uma determinada ação. É comum, infelizmente, nos
depararmos com comentários e opiniões temperados com muita frieza e pouco bom
senso, diante de situações as quais não resta a menor dúvida de quem é o
culpado e qualquer tentativa de justificar a sua culpa, deixa de ser opinião e
se torna cumplicidade. A cultura popular legitima, infelizmente, ditados,
citações, afirmações e conceitos que nem sempre, ou quase nunca, devem ser
levados em consideração.
Se
um negro foi vítima de racismo a culpa é dele, que não tem sensibilidade o
suficiente para entender que o racismo faz parte da nossa cultura europeia de
autoafirmação e que sempre foi permitido classifica-lo como inferior. Em alguns
casos tudo não passa de uma simples piada de preto, contada inocentemente e que
o ignorante não soube levar na brincadeira e interpretou como racismo.
Palhaçada! Sempre foi assim. Vai querer mudar isso agora, em pleno século 21?
Aceita que dói menos! Se um homossexual é vítima de um ataque homofóbico, de
quem é a culpa se não for dele mesmo? Afinal, quem manda ser diferente? Ninguém
é obrigado a aturar gays andando felizes pela rua, como se fossem pessoas
normais. Essa gente pede para apanhar e depois reclama.
Se
uma mulher é vítima de estupro, a culpa é dela. Por que ela foi passar por ali
sozinha, sabendo que é perigoso? Aposto que ela deu algum sinal de que estava
gostando do assédio. Também, com uma saia desse tamanho, estava pedindo para
ser estuprada. Se estivesse em casa, lavando louça, não teria sido violentada.
Ou se estivesse usando um cinto de castidade, isso não teria acontecido. A menina
foi estuprada por 30 homens? Onde ela estava? Em um baile funk? Quantos anos
ela tem? 16 e já tem um filho de 3 anos de idade? Boa bisca não deve ser. E
ainda usa drogas? Ih! Tem caroço debaixo desse angu. Ninguém estupra ninguém
assim do nada. Ela sabia do risco que corria. Pediu para ser estuprada.
Até
quando as mulheres continuarão pedindo para não serem estupradas? Até quando os
negros continuarão pedindo para serem respeitados e tratados com igualdade? Até
quando os gays continuarão tentando viver como se fossem normais? Até quando os
pobres continuarão sonhando que um dia terão direitos iguais em nossa
sociedade? Será que essa gente não se cansa de nadar contra a maré? Será que
eles não entendem que isso faz parte da cultura da nossa sociedade? Que gente
mais sem noção! Não quer ser estuprada? Não saia de casa. Não quer ser vítima
de racismo? Não frequente lugares que não foram feitos para pessoas da sua cor.
Não quer sofrer ataque homofóbico? Se comporte como gente normal. É tudo muito
simples. Ou não é?
Já
passou da hora de compreendermos que os culpados são vítimas e que as vítimas
são, quase sempre, são os verdadeiros culpados. Como diz o ditado: “Quem
procura acha.” Ninguém é estuprado em casa, na igreja, na escola, na faculdade,
no trabalho. Às vezes o sujeito nem estava pensando em estuprar ninguém, mas aí
aparece uma mulher com um shortinho provocante, num corpo sensual e o cara
perde a linha. Sabe como é, né? Homem é movido pelo instinto. Ele olha para um
lado, olha para o outro e não vê ninguém e já era! Temos mais uma vítima da
tentação e da falta de postura dessas mulheres que andam se oferecendo por aí,
pedindo para serem estupradas. Depois não querem ser chamadas de vadias.
Ninguém
sofre racismo em vão. Se o negro não tivesse se metido a besta de entrar
naquela loja ou em algum outro ambiente, os quais ele já sabe que normalmente é
frequentado só por gente branca, ele não teria sido ofendido. A culpa é dele.
Depois não quer ser chamado de macaco. Muitas vezes, o cidadão de bem está lá, na
dele, tomando a sua água de coco, às três da tarde, no calçadão de Ipanema, e
de repente passa um preto. É claro que ele tem todo o direito de achar que se
trata de um suspeito. Imagina se é normal um preto passear no calçadão de
Ipanema em pleno horário de expediente? Ainda mais num sábado. Claro que ele
vai torcer o nariz e a madame vai esconder a bolsa. Ali é uma área pública, mas
o território é nobre. Será que é preciso desenhar para essa gente entender
isso?
Todos
os dias, mais de 15 mulheres são estupradas no Rio de Janeiro. Vocês acham isso
normal? Se elas não tivessem ficado expostas ao perigo, esses estupros
aconteceriam? Não sabe que a nossa sociedade é machista e o estupro faz parte
da nossa cultura? Fica em casa. É mais seguro. Nenhuma menina de 16 anos é
assediada ou estuprada em casa. Quem seria capaz de fazer isso com ela em seu
próprio lar? O pai? O tio? O avô? O padrasto? O vizinho amigo da família?
Impossível! Jamais isso aconteceria em casa. Nenhum adolescente seria
violentado se estivesse numa igreja. Quem faria isso com ele na casa de Deus? O
Pastor? O padre? O Bispo? O Reverendo? O obreiro? O missionário? Impossível!
Jamais isso aconteceria lá.
Estou
vendo muita gente pedindo a castração química para estupradores. Isso é
absurdo! Como eles poderão estuprar novamente se forem castrados? Será que essa
gente não entende que quem estupra uma vez, também vai estuprar duas, três,
quatros, vinte, trinta vezes? E como eles poderão cumprir o seu papel na
sociedade sem que os seus órgãos genitais estejam funcionando em perfeito
estado? Que covardia! A sorte é que o pessoal dos direitos humanos não vai
permitir essa capação coletiva. Talvez as vítimas de estupro, de racismo, de
homofobia ou de quaisquer outras formas de violação da dignidade humana, é que
precisem passar por um processo de ressocialização, para aprenderem a conviver
com a estupidez e com a irracionalidade dos outros, de forma mais civilizada e
tolerante.
Quanto
aos estupradores, deixe-os viver em paz. Não mudem as leis que tratam do
estupro. Deixe-as como estão. Se eles forem menores de idade, não os coloque no
meio de estupradores adultos. Afinal, eles são seres inocentes e não têm noção
do que estão fazendo. Aos juízes de plantão, sugiro que continuem tentando
justificar de alguma forma, o estupro sofrido por uma mulher ou por uma
adolescente. Isso é tão digno quanto o estupro por elas sofrido e não
contribui, de modo algum, para que a cultura do estupro seja perpetuada em
nossa sociedade. Siga expressando a sua
estultícia pelas redes sociais, até o dia em que o estupro bater a sua porta.
Ou você acredita mesmo que está seguro?
Seja
humano! Raciocine! Seja Homem! Não estupre!
Fonte:
brasil247
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