O empresário que agora coage funcionários a votar em Bolsonaro, ameaçando com demissões, foi condenado pela Justiça por evasão de divisas e denunciado pelo MPF, em 2004, por uma série de crimes, incluindo fraude em importações e uso de contas no exterior descobertas no Banestado. Caso foi rejeitado pela Justiça em 2008
Desde de 2016, quando se intensificaram os boatos de que um dos filhos de Lula seria proprietário da Havan, o sócio-fundador da rede de lojas Luciano Hang decidiu colocar a cara no sol e não recuou mais. Nesta segunda, 1º de outubro, a menos de uma semana do primeiro turno da eleição presidencial, mais um vídeo de sua autoria viraliza nas plataformas de redes sociais. Hang, cabo eleitoral declarado de Jair Bolsonaro, pratica terrorismo com seus funcionários, insinuando que haverá demissões a depender do resultado das urnas.
"A Havan vai repensar nosso planejamento. Talvez, não vai abrir mais lojas. Se nós voltarmos para trás, você está preparado para sair da Havan? Você está preparado para ganhar a conta da Havan? Você que sonha em ser líder, gerente, crescer com a Havan, já imaginou que tudo isso pode acabar em 7 de outubro?"
No trecho divulgado massivamente na internet, Hang afirma que PT, PCdoB, PSOL e PDT são partidos de esquerda alinhados ao comunismo que destrói a "sociedade", a "família" e "emprego" em países como Venezuela e Cuba.
Citando uma pesquisa entre "colaboradores", cujo resultado aponta que 30% não definiu-se por um candidato ainda, Hang disse: "Se você não for votar, anular seu voto ou votar branco, depois do dia 7 de outubro, ganha a esquerda e vamos virar uma Venezuela. (...) Até eu vou jogar a toalha."
DENÚNCIA: Luciano Hang, dono das Lojas Havan grava vídeos intimidando funcionários de suas lojas a não votarem na esquerda e PSDB. Cabo eleitoral de Bolsonaro, admite em vídeo que faz pesquisa internas em sua loja para saber o voto destes. Faz ameaças: "Vai querer sair da Havan?" pic.twitter.com/DkVo6ejyWv
— gramich (@gramich) 1 de outubro de 2018
O que Hang faz é terrorismo eleitoral porque não há nenhum dado indicando que a empresa quebrará, do ponto de vista financeiro, num governo de "esquerda", em caso de vitória de Fernando Haddad pelo PT. A rede de lojas existe há mais de 3 décadas, ou seja, atravessou os governos Lula e Dilma Rousseff e, mesmo na gestão dramática de Michel Temer, lucrou bilhões ao ano e abriu novas unidades.
Segundo a revista Exame, são 107 lojas de departamento e 12.000 funcionários pelo país, com faturamento de mais de 5 bilhões de reais em 2017. De acordo com o El País, o próprio Hang disse que "a Havan cresceu 45% em vendas só no primeiro semestre deste ano e deve fechar 2018 com um faturamento de 7 bilhões de reais."
Esses dados que contrastam com as ameaças de fechar postos de trabalho e reduzir o tamanho da empresa despertam dúvidas de outro gênero em internautas.
Há quem imagine que, com empréstimos milionários tomados do BNDES e condenação na Justiça por sonegação fiscal e outras irregularidades - inclusive com dívida milionária negociada no Refis para ser paga em mais de 100 anos -, Hang tenha percebido "o tamanho da bolha que criou e se prepara para fechar as portas e aplicar um golpe milionário, inclusive nos funcionários. E quer 'cair de pé', acusando a esquerda pelo fracasso", escreveu um leitor ao GGN, levantando uma "mera hipótese".
Na toada de empresários que entraram para a vida pública nos últimos anos, capitalizando o descrédito da classe política em meio à crise de representatividade, Hang ensaiou, em janeiro, uma candidatura ao governo de Santa Catarina, mas desistiu. Passou a atuar incisivamente como cabo eleitoral de Bolsonaro nas redes sociais, a ponto de ser autuado pelo Tribunal Superior Eleitoral por pagar pelo impulsionamento de seus vídeos em favor do capitão da reserva no Facebook.
Apesar de pregar moralismo, as irregularidades encontradas contra Hang numa rápida busca na internet são várias. Entre elas, consta que em 2004 o Ministério Público Federal acusou a Havan de "diversos crimes cometidos, entre eles facilitação de descaminho, descaminho, falsificação, crime contra o sistema financeiro e ordem tributária, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha." A Procuradoria afirmou que Hang "simulou vendas, inseriu elementos inexatos em livros exigidos pela lei fiscal, falsificou notas fiscais e elaborou contratos sociais e alterações que não correspondiam à realidade."
O MPF achou elo de Hang com o Banestado e apontou que a Havan fraudava pagamentos de tributos pela importação de produtos, no final da década de 1990, num nível em que, quando o esquema que envolvia propina a funcionários da Receita foi desmontado, a União registrou "crescimento da ordem de 28,32% para o Imposto de Importação e de 52,66% para o IPI vinculado à Importação." A ação acabou rejeitada pela Justiça em 2008.
FUNCIONÁRIOS COAGIDOS
Ao mesmo tempo em que ataca as esquerdas brasileiras, Hang presta homenagem aos Estados Unidos nas fachadas lojas Havan, onde há réplicas da estátua da liberdade. Diz ele que representa sua admiração pela "liberdade" de mercado, um ideal que norteia seus negócios. Essa liberdade não parece se refletir no campo da política e no trato com funcionários.
Ainda nesta segunda (1º), Hang estrelou uma transmissão ao vivo no Facebook na qual parece coagir seus funcionários a votar em Bolsonaro. Dezenas de colaboradores foram reunidos pelo empresário para cantar o hino nacional, todos trajando obrigatoriamente o mesmo modelo de camiseta da cor verde e amarelo, com os dizeres: "O Brasil que queremos depende de nós." Hang, pessoalmente, aparece com uma outra camiseta amarela onde está escrito: "Bolsonaro presidente", e diz, sem enrolação: "No dia 7, é 17 [o número do PSL nas urnas]."
Por volta dos 25 minutos do vídeo abaixo, Hang diz que a Havan tem hoje 15 mil colaboradores e deles dependem 60 mil pessoas. O plano é ter, até 2022, 200 lojas espalhadas pelo País. "A cada 5 anos, são montadas mais 100 lojas. Mas quero dizer para vocês que não só eu, da Havan, mas todos os empresários estão esperando o resultado dessas eleições. (...) Não tem empresário neste País que vai investir dinheiro com o PT de novo no poder."
No início de setembro, o jornal El País publicou um perfil de Hang. Na matéria, o empresário admitiu que tomou empréstimo do BNDES "nos anos do PT", para comprar "máquinas e equipamentos financiados pelo Finame [Agência Especial de Financiamento Industrial]. Mas quem se beneficiou, na visão dele, foi "a empresa de quem compro o equipamento, não a minha pessoa", tentou justificar.
OS PROCESSOS
Na mesma matéria, El País resumiu as denúncias contra o dono da Havan.
"Segundo o Ministério Público Federal, o problemas com a justiça envolvendo a Havan e seu proprietário começaram em 1999, quando a Procuradoria da República em Blumenau deflagrou uma operação de busca e apreensão na empresa, que resultou na autuação da Havan em 117 milhões de reais pela Receita Federal e 10 milhões pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A autuação foi considerada a maior já realizada pela Receita Federal até então. A empresa recorreu a um financiamento da dívida por meio do REFIS e obteve um prazo, estimado pelo MPF à época, de 115 anos para quitar a multa."
"Em outro processo, que correu em segredo de Justiça, o empresário foi condenado a 13 anos, 9 meses e 12 dias de reclusão em regime fechado pelo crime de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Hang e os demais réus recorreram da decisão sucessivas vezes e conseguiram, inclusive, reduzir a pena do empresário para a 5 anos, 8 meses e 1 dia de reclusão em regime semiaberto. Em 2016, o ministro Rogerio Schietti Cruz do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em decisão monocrática afirmou que o prazo prescricional de oito anos que começa a correr após a condenação já havia vencido, de modo a punibilidade estava extinta, ou seja, os réus, mesmo condenados, não teriam mais que cumprir a pena pois o judiciário perdeu os prazos para responder aos recursos da defesa. O caso nunca transitou em julgado e por isso o certificado de antecedentes criminais de Hang permanece limpo."
A Havan também já foi processada em 2015 pelo Ministério Público do Trabalho por violar a liberdade dos funcionários, ao proibir relacionamentos amorosos fora do ambiente do trabalho e parentesco com qualquer outro colaborador. Leia mais aqui.
Do jornalggn
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