No Viomundo
Ex-economista da Petrobrás denuncia que é falsa a crise na empresa e que ela foi criada para justificar venda de ativos
Muito se fala que a situação de caixa da Petrobrás está delicada, o que serve de argumento para que a estatal empreenda uma verdadeira liquidação de ativos, subsidiárias e participações em importantes projetos, numa espécie de privatização branca.
Mas de acordo com o economista aposentado da própria estatal, Cláudio Oliveira, o cenário das finanças da Petrobrás não é nada catastrófico, como vem sendo alardeado nos últimos anos.
“A mentira foi espalhada por todo o Brasil, conquistando a opinião pública, principalmente com o surgimento dos impairments, as perdas geradas pela reavaliação do valor recuperável de ativos, lançados no balanço, causando elevados prejuízos contábeis. Não que a prática estivesse totalmente equivocada, mas levou muitos leigos a entender que realmente a empresa tinha problemas financeiros quando, na realidade, são ajustes contábeis que não afetam o caixa da companhia”, detalhou Oliveira.
O economista explicou que a Petrobrás é uma empresa com grande capacidade de geração operacional de caixa acima dos US$ 25 bilhões, nos últimos cinco anos.
“Só por estes números é possível afiançar que a Petrobrás, que tem uma dívida liquida inferior a US$ 100 bilhões, não tem problemas na sua administração e portanto não existe necessidade de se desfazer de ativos”, acrescentou.
Como o senhor avalia a estratégia de desinvestimentos da Petrobrás?
Para entender melhor, é preciso voltar um pouco no tempo.
Na última Assembleia Geral de Acionistas (AGE) da Petrobrás, realizada nesta última sexta-feira (15), a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), na qualidade de acionista minoritário, e exercendo seu direito de fiscalização, se posicionou totalmente contrária ao atual plano de desinvestimentos.
Lembrou que quando Pedro Parente era presidente do Conselho de Administração da Petrobrás (1999/2003), foram tomadas diversas decisões contrárias aos interesses da companhia, como a venda de 36% das ações da empresa na Bolsa de Nova Iorque a preço vil, e iniciado um processo de privatização da empresa, que quase teve o seu nome mudado para Petrobrax.
Em seu voto, a AEPET denuncia que o atual plano de desinvestimentos já causou perdas de R$ 200 bilhões à Petrobrás.
O fato é que, após a descoberta do pré-sal, a empresa passou a ser o principal objeto da cobiça das grandes petroleiras mundiais, que se encontram em situação de penúria, com acentuada queda de suas reservas e receitas.
Para se manter equilibrada na bolsa de valores, a Chevron, que em 2016 apresentou um prejuízo de US$ 500 milhões, efetuou distribuição de dividendos de US$ 4 bilhões.
A Exxon, maior petroleira mundial, apresentou um lucro de US$ 7 bilhões, mas fez uma distribuição de US$ 12 bilhões em dividendos.
Pasmem, estas empresas estão pegando empréstimos para pagar dividendos. É um suicídio financeiro.
Esta situação das grandes petroleiras é o pano de fundo de tudo que ocorre hoje na Petrobrás. Para elas, o pré-sal brasileiro é a tábua de salvação. A única esperança visível.
Algumas revelações mostraram a forte interferência.
O jornalista Glen Greenwald noticiou a negociação do governo Temer para entrega do pré-sal e da Petrobrás para o cartel multinacional.
Tivemos as conversas de Serra com a Chevron detalhadas pela Wikileaks.
Mais recentemente, vimos a revelação do jornal britânico Guardian sobre o lobby montado pela Shell, dentro do governo brasileiro, para a elaboração de leis absurdamente favoráveis ao cartel.
O lobby gerou a MP 795/2017, uma renúncia fiscal de R$ 40 bilhões por ano ou R$ 1 trilhão em 25 anos, além da liberação do conteúdo local, transferindo empregos e renda que seriam criados no Brasil para o exterior.
No Brasil, estas grandes petroleiras ganharam também o apoio de importante parte da mídia, que há vários anos trabalha para desmoralizar a Petrobrás e o pré-sal.
Em 2008, Carlos Alberto Sardenberg em artigo dizia: “O pré-sal só existe na propaganda do governo”, esclarecendo que em diversas partes do mundo este tipo de área havia sido pesquisado sem sucesso.
Em 2009, Miriam Leitão reconheceu “O pré-sal existe mas a Petrobrás não tem tecnologia para retirar petróleo nestas profundidades”, e concluía dizendo que a Petrobrás precisaria de apoio tecnológico de outras petroleiras.
A Petrobrás desenvolveu suas tecnologias sem apoio externo e mostrou ser possível extrair petróleo no pré-sal.
Em 2011, Miriam Leitão dizia que a Petrobrás podia retirar petróleo no pré-sal, mas o custo era muito alto. O negócio era economicamente inviável.
A Petrobrás desenvolveu novas tecnologias, ganhou muitos prêmios internacionais e diminuiu o custo de extração a um nível que nenhuma grande petroleira conseguia chegar.
Viabilizou o negócio. Evidentemente, este fato criou um pânico na mídia.
E agora, o que fazer ?
Mas em 2015, com uma elevada oscilação cambial, a dívida da Petrobrás em reais cresceu muito e serviu de motivo para a criação da mãe das mentiras: “A Petrobrás tem sérios problemas financeiros. Tem uma dívida impagável”.
A mentira foi espalhada por todo o Brasil, conquistando a opinião pública.
Problemas financeiros? Então vamos dar uma olhada nos dados dos últimos cinco (2012/2016) balanços auditados e publicados pela empresa:
2012 2013 2014 2015 2016
Saldo de caixa (bi de dólares) 13,52 15,876 16,66 25,06 21,20
Geração Operacional de Caixa 27,04 26,30 26,60 25,90 26,10
Liquidez Corrente 1,7 1,5 1,6 1,5 1,8
Não é preciso ser analista de balanços para verificar que uma empresa com estes números não tem, nem nunca teve, problemas financeiros.
No final de abril de 2016, Carlos Alberto Sardenberg publicou um artigo divulgado em todo o Brasil pelas afiliadas da Globo, com a seguinte afirmativa: “Quebraram a estatal. A Petrobrás só não fez ainda um acordo judicial porque é uma empresa estatal. Mas para sobreviver vai precisar de recursos do tesouro”.
O que ocorreu foi exatamente o inverso.
No final de 2016, a Petrobrás adiantou R$ 20 bilhões para o BNDES, aliviando o caixa do banco.
Ao mesmo tempo, um crédito de R$ 16 bilhões que a empresa tem junto à Eletrobrás é mantido em “banho maria”.
Mesmo assim, a companhia terminou o ano com mais de US$ 20 bilhões em caixa.
Naturalmente, Carlos Alberto Sardenberg não se retratou, e o que ficou como verdadeiro para a opinião pública brasileira foi sua falsa e irresponsável notícia.
Mas a imagem da Petrobrás ficou ainda mais abalada depois das revelações da Lava Jato, mostrando o envolvimento de chefes partidários (PT e PMDB) com funcionários da empresa num processo de corrupção envolvendo altíssimas quantias.
É claro que entendemos que todos os responsáveis pelas falcatruas devem ser punidos e, se possível, os recursos roubados devolvidos para a empresa.
O que não podemos aceitar é que estes fatos sirvam para acobertar erros ainda maiores.
Juntaram-se a tudo isto, as revelações da delação da JBS, incriminado o presidente Temer e principalmente Aécio Neves.
Foi a gota d’água para a desesperança dos brasileiros que não acreditam em mais nada.
Tudo uma grande desgraça para a nação brasileira, mas uma grande oportunidade para os vendilhões-da-pátria que se aproveitaram da situação para atuar praticamente sem nenhuma contestação.
O estratégia de desinvestimento da Petrobrás tem por objetivo transformá-la numa empresa insignificante.
Todos sabem da importância das petroleiras manterem atividades integradas (do poço ao posto). Assim, atuam todas as grandes petroleiras do mundo.
O preço do petróleo é muito oscilante e quando a empresa não pode lucrar com o óleo, lucra com o refino ou o transporte.
Durante a guerra do Golfo, por exemplo, o preço do transporte se tornou três vezes mais caro que o preço do petróleo.
Uma empresa só vende ativos lucrativos por extrema necessidade de caixa.
O que não é o caso da Petrobrás. Pelo contrário.
Hoje a Petrobrás está vendendo ativos que rendem mais de 20% ao ano (NTS, Liquigás, Gaspetro etc.) para antecipar amortização de empréstimos que custam 7% ao ano.
Que lógica é esta?
Uma empresa que mantém em caixa mais de US$ 20 bilhões. Pior ainda.
As vendas estão sendo feitas a toque de caixa, sem licitação e a preço de banana, como já denunciado por diversas entidades (Febrageo, Asmirg, Aepet etc. )
Portanto, a política de desinvestimento da Petrobrás é uma parte deste processo de entrega do pré-sal e desmonte da petrolífera brasileira.
É parte do plano de ação de um governo de colonizadores, que só pensa em explorar o país e seu povo.
Em nenhum momento, pensa no seu desenvolvimento.
PS do Viomundo: E, como a Globo prazeirosamente noticiou em dezembro de 2013, a Petrobrás tinha 32% de chance de falir, segundo a consultoria estadunidense Macroaxis.
O petróleo do pré-sal só existe na campanha do governo
qua, 03/09/08
Fala-se do petróleo do pré-sal como se fosse a maior moleza. Para Lula, em um ano, é possível que em um ano a exploração esteja em fase comercial, em larga escala. A ministra Dilma Roussef diz que se encontrou óleo “atrás do galinheiro”.
E os fatos? Iniciou-se uma produção experimental em um campo, o de Jubarte, que é uma circunstância muito especial. Ali, o petróleo do pré-sal está bem abaixo de um poço, digamos, normal. A camada de sal perfurada é de apenas 250 metros e a jazida fica a 70 quilômetros do litoral.
Já no Campo de Tupi, o único para o qual a Petrobras fez uma estimativa de reservas (de 5 bilhões a 8 bilhões de barris), a jazida está entre 5,5 e 7 quilômetros de profundidade, e a camada de sal a ser perfurada chega a 2 mil metros.
Hoje, a Petrobras tem tecnologia garantida para chegar a poços localizados a até a 3 mil metros de profundidade. Para mais, ainda precisa desenvolver tecnologia.
Não é impossível, mas é um enorme desafio, dizem os técnicos da Petrobrás. E o custo é altíssimo, cerca de US$ 1 milhão ao dia só para pesquisar e procurar.
Ou seja, não está atrás do galinheiro, nem vai ter produção em larga escala daqui a um ano.
Acreditar que o óleo está na mão é como acreditar que o Brasil á auto-suficiente em petróleo, mesmo com um déficit de US$ 5,5 bilhões neste ano na conta de óleo e combustíveis.
A auto-suficiência foi tema da campanha de 2002. O pré-sal já é de 2010.
Enterrar de novo o populismo
Os governos petistas sempre tiveram como meta fortalecer as estatais como o melhor meio de combater as propostas de privatização, reais ou imaginárias. Importante esta última ressalva porque, a rigor, privatizar a Petrobras nunca entrou na pauta política brasileira.
Mas isso não importava. Defender as estatais, eis o discurso básico do PT. O partido também procurou desmontar a tese implantada no governo FH, segundo a qual as companhias públicas deveriam ser administradas profissionalmente, quase como se fossem privadas, por executivos e quadros técnicos do setor.
Isso, dizia Lula, era neoliberalismo. Seria colocar as estatais a serviço do mercado e dos interesses privados.
Vai daí, as estatais deveriam ser administradas pelos quadros partidários, pelos companheiros, para que fossem encaminhadas na direção correta.
Essa direção era: ampliar as atividades e o alcance das estatais; objetivos políticos e sociais eram mais importantes que lucros ou valor de mercado; comprar e contratar no mercado nacional, mesmo que a preços mais caros.
Fizeram isso, com requintes de populismo, como o de entregar a administração de recursos humanos da Petrobras a representantes dos sindicatos de petroleiros.
Quebraram a estatal. Vamos falar francamente: a Petrobras só não está em pedido de recuperação judicial porque é estatal. Todo mundo espera que, em algum momento, o governo imprima dinheiro para capitalizar a empresa.
A companhia tem problemas em todos os lados, inclusive de excesso de pessoal e de pessoal mais bem remunerado que no mercado. (Aliás, a ideia era exatamente essa).
A Petrobras não quebrou apenas por corrupção. A causa maior é a péssima administração, consequência daqueles “princípios” estatistas.
Por isso estamos falando do assunto. O estatismo tem sido dominante entre nós. E ainda hoje, muita gente partilha daquelas ideias implantadas pelo PT. Diz esse pessoal: a coisa saiu mal por causa da incompetência dos governos Lula e Dilma, e não porque a tese seja errada.
Esse é o grande risco que corremos. O modelo populista está errado, a doutrina estatista é origem do fracasso. Nem um gênio da gestão empresarial conseguiria evitar o desastre da Petrobras nesse processo em que foi lançada por Lula.
Vai daí que será preciso aproveitar a oportunidade para fazer o contrário, em tudo. Citamos mais a Petrobras porque é o caso mais notável. Imaginemos uma teoria conspirativa: um presidente neoliberal que tivesse a ideia macabra de quebrar a Petrobras para poder fechá-la e, assim, coloca-se uma equipe talhada para produzir o desastre.
Pois não teria conseguido fazer o que a gestão petista aprontou.
Hoje, por exemplo, seria impossível privatizar a Petrobras — a menos que se vendesse a preço de banana. E por falar nisso, a ação da Petrobras não está mesmo valendo menos que um cacho de bananas?
Mas é possível — e absolutamente necessário — vender pedaços da Petrobras e privatizar um monte de ativos. E o que sobrar deve, sim, ser administrado por quadros do mercado, com regras de gestão privada.
O presidente da companhia também deveria ser procurado no mercado, inclusive no mercado internacional. Qual o problema de se colocar um executivo chinês ou norueguês tomando conta da Petrobras, conforme programas aprovados pelos conselhos?
Isso vale para as demais estatais quebradas, como a Eletrobras.
E mais um programa de privatização não envergonhada. Quando percebeu que não tinha mais dinheiro nem competência para arrumar aeroportos, estradas, portos etc., o governo petista resolveu concedê-los à iniciativa privada. Mas como era feio privatizar, colocaram um monte de regras que tornaram o negócio menos atraente e mais caro para os concessionários.
Por isso, isso andou mal.
Fazendo o contrário, aqui há uma hipótese de rápida retomada de negócios. Muitas empresas médias, nacionais e estrangeiras, estão prontas para tomar o negócio das empreiteiras apanhadas na Lava-Jato. O que não funciona é privatizar e dizer que o concessionário não pode ganhar dinheiro ou só pode ganhar quanto o governo autorizar.
Tudo isso vale também para os bancos públicos. Todo o mercado desconfia que estão em situação pior do que no final dos anos 90, quando o governo FH precisou colocar um monte de dinheiro no BB e na Caixa.
A contrapartida foi a gestão profissional nesses bancos, também desmontada pelos governos petistas. Quebraram de novo.
A tristeza disso é que os governos Lula/Dilma estragaram o que estava pronto e funcionando. O que traz um certo ânimo é que sabemos o que precisa fazer: é só repetir a combinação privatização/profissionalização/equilíbrio das contas públicas.
O país já havia conseguido enterrar o populismo estatizante. Ressuscitou. Agora é preciso corrigir o desastre e colocar esse populismo numa cova bem profunda, em algum cemitério privado, claro.
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