A lista de Janot, em torno da qual criou-se um clima artificial de tensão, não passaria de uma grande farsa. Prova disso é que os possíveis listados estão tranquilos e se reunindo, inclusive com a presença de um representante da Suprema Corte, para tramar mecanismos de proteção que lhes assegurem a permanência no poder, caso percam o controle da situação. Na verdade, a lista não passaria de uma encenação para dar ao povo a ilusão de que "a coisa é mesmo séria" e que agora os peixes grandes serão apanhados. Se houvesse efetivamente interesse em punir os corruptos não haveria sigilo em torno dos seus nomes e os inquéritos há muito teriam sido abertos. Por que quando a acusação é contra Lula o trâmite se faz acelerado e sem segredo, e ele rapidamente é transformado em réu? Por que não deixam que as ações contra o ex-presidente operário prescrevam, como fazem com o senador Aécio Neves e outros tucanos?
Ainda recentemente o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, atendendo a recomendação do Procurador Geral, Rodrigo Janot, mandou arquivar um dos processos contra Aécio por ter prescrito em 2016. O pedido de Janot, para que o processo contra o presidente nacional do PSDB fosse arquivado, foi encaminhado por ele ao ministro Fachin no dia 3 deste mês de março, quase um ano depois da denúncia de Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro, em maio do ano passado. Machado disse que Aécio recebeu R$ 1 milhão, em 1998, para financiar deputados que o elegeriam presidente da Câmara, tal como aconteceu com Eduardo Cunha. Não é muito difícil perceber-se a demora na tramitação das providências por parte da PGR de modo a permitir a prescrição. Janot só pediu ao STF a abertura de investigação em outubro do ano passado, recebendo autorização no mesmo dia, mas só voltou ao caso em março deste ano e assim mesmo para pedir o seu arquivamento. Alguma dúvida?
Por outro lado, a manutenção do sigilo em torno das delações da Odebrecht e da lista de Janot parece sinalizar uma ação coordenada para proteger os acusados e garantir, ao mesmo tempo, a permanência de Temer no Palácio do Planalto. De outro modo, por que a presidenta do STF, ministra Carmen Lúcia, não determinou ainda a suspensão do sigilo? Ainda recentemente o Supremo mandou suspender o sigilo em torno dos processos no Superior Tribunal Militar, sob a alegação de que a proibição do acesso aos documentos daquela Corte seria um descumprimento frontal à Lei de Acesso à Informação, vigente desde 211, conforme destacou a presidenta do Supremo. Ela disse ainda que "a Assembleia Nacional Constituinte, em momento de feliz inspiração, repudiou o compromisso do Estado com o mistério e com o sigilo, que fora tão fortemente exaltado sobre a égide autoritária do regime anterior (1964-1985)". Por que esses argumentos só valem para os outros? Por que não valem também para a lista de Janot e para as delações da Odebrecht?
Na realidade, tem muita coisa estranha acontecendo ao mesmo tempo. O ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, se tornou figura obrigatório nos encontros promovidos por Michel Temer com seus auxiliares e os presidentes da Câmara e Senado, todos envolvidos nas delações da Odebrecht. Não sendo parte interessada nos assuntos ali tratados, o que é que Gilmar foi fazer lá? Por que, sendo um juiz que julga crimes de corrupção, ofereceu um jantar a essas mesmas figuras acusadas desses crimes? O rega-bofe não poderia ser interpretado como uma absolvição antecipada dos acusados? Por que a presidenta do STF silencia diante dessa inusitada movimentação de um dos membros da Corte? Ela teria conhecimento antecipado dos seus passos? São perguntas que povoam a cabeça do povo, naturalmente confuso diante do comportamento do ministro Gilmar Mendes e do silêncio da Corte. E muita gente se pergunta: afinal, o que significa essa confraternização de um membro do Supremo com os delatados?
Ninguém consegue entender os acontecimentos. Enquanto o doleiro Aberto Youssef, réu confesso no esquema de propina da Petrobrás, ganha a liberdade após três anos de prisão, mesmo condenado a mais de 100 anos, a Policia Federal indicia a sua ex-amante, a modelo Taiana Camargo, pelos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. Para a PF, ela sabia das atividades ilícitas do doleiro "ou, ao menos, era presumível que soubesse delas". Incrível o argumento para seu indiciamento: ela sabia ou presume-se que soubesse. O fato é que por ter delatado os outros, que continuam presos, o doleiro vai ganhar a liberdade. É o mesmo Alberto Youssef que ficou conhecido por sua participação no escândalo do Banestado, caso do envio de recursos para o exterior através do Banco do Estado do Paraná e que, por pura coincidência, teve como juiz o mesmo Sérgio Moro, da Lava-Jato.
Enquanto isso prossegue o cerco a Lula. O procurador Deltan Dallagnol, que coordena a força-tarefa da Lava-Jato e persegue a celebridade para igualar-se em fama ao juiz Sergio Moro, resolveu voltar a atacar o ex-presidente operário. Em entrevista ele classificou Lula como "um general em crime de guerra" que pratica "crimes a partir do seu gabinete". Por que ele não cita os crimes praticados por Lula? Simplesmente porque não existem. Dellagnol, na verdade, não precisa gostar de Lula, mas ele deveria ter um mínimo de respeito pelo menos ao próprio Ministério Público, onde trabalha, não utilizando o cargo para dar vazão a seu ódio gratuito e inexplicável contra o líder petista. Ele já condenou a priori o ex-presidente desde o início da Lava-Jato, independente do resultado das investigações e, por isso, não se interessou em participar de nenhum dos 73 depoimentos de testemunhas do caso, certamente porque elas não conseguiriam mudar o seu sentimento. Todas inocentaram o ex-presidente, o que certamente não agradou o procurador com nome de remédio, responsável por aquele espetáculo ridículo e vazio que acusou o petista de comandante supremo do esquema da Petrobrás. Percebe-se que falta-lhe amadurecimento para uma tarefa de tamanha responsabilidade. Daí os arroubos infantis.
Fonte: brasil247
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