Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho
“Se ficarmos neutros perante uma injustiça, escolhemos o lado do opressor”, já dizia o bispo sul africano Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984 e ícone na luta contra o apartheid.
Essa é uma frase que vira e mexe aparece nossas timelines cotidianas, e hoje é dia dela dar o ar de sua graça novamente, afinal, o “isentão” dos novos tempos, o historiador Leandro Karnal, postou uma foto em seu Facebook ao lado de Sérgio Moro o chamando de amigo e dizendo apreciar a inteligência do juiz.
Não conheço o histórico do Leandro com Sérgio, às vezes a amizade dos dois consegue fazer com que o professor consiga enxergar alguma capacidade intelectual no magistrado de maneira a conseguir apreciá-la. Contudo, confesso que nesses três anos de Lava-Jato e bombardeio midiático de Moro, eu o observo como uma pessoa totalmente limitada e que, se não fosse o interesse da mídia por essas figuras intermediárias para fazer o trabalho sujo do manutenção de poder, não teria sequer destaque em transmissões ao vivo no Facebook.
A limitação do “herói das pessoas de bem” fica clara em diversas falas e posicionamentos dele: desdes os destemperos com as defesas de seus investigados (o que é um claro absurdo, pois juiz tem que ser imparcial), até posturas extremamente arrogantes (e ignorantes, pois não cabe prepotência na sabedoria) como mandar advogado fazer concurso pra juiz ou ironizar a estratégia de defesa de algum investigado.
Moro é fruto da mídia golpista, pilar essencial da aristocracia brasileira e, por isso, consegue destaque nacional mesmo sendo tão medíocre.
Nesse sentido, justiça seja feita, o caminho midiático do Sérgio é completamente diferente do Karnal. O professor é consequência de uma nova maneira de se comunicar, fortemente ancorada pelo streaming de videos na internet, processo que é infinitamente mais democrático do que a imposição midiática que a velha imprensa nos impõe e que sustenta o juiz curitibano.
Eu já havia me decepcionado com Karnal no Roda Viva que ele participou em 2016 quando ele teve a oportunidade de explicar o Golpe de Estado que o Brasil sofria – como seu colega Mário Cortella o fez no mesmo espaço – e escolheu ficar em cima do muro, medindo com a mesma régua a presidenta Dilma, mulher eleita pelo voto popular e dificílima de imputar alguma conduta corrupta, e Michel Temer que, todos sabem por fatos e áudios, é irmão siamês de Eduardo Cunha, hoje considerado a figura mais corrupta da política partidária nacional.
Entretanto, naquele mesmo Roda Viva, Leandro deu respostas incríveis, principalmente sobre a “asneira sem tamanho” que é a escola sem partido e sobre o fascismo, o que me fez dar um certo crédito para ele, apesar de ter “marinado” sobre o Golpe.
E é por aí que a decepção com a foto de ontem aumenta por demais.
Primeiro, pois o professor falou com muita propriedade que o “fascismo é uma cadela que está sempre no cio” e, no contexto atual, não enxergar que Sérgio Moro é um dos pilares do neofascismo brasileiro (mesmo que ele não queira ser) é de uma cegueira inaceitável. Eu aposto com toda tranquilidade meu PS4 com o FIFA 17 dentro que qualquer retrato do fascismo atual brasileiro que a gente for analisar, terá um “viva Sérgio Moro” estampado e destacado de verde limão e amarelo fluorescente, e é imperdoável que Leandro não leve isso em consideração.
Segundo, pois por ser um defensor assíduo da educação, Karnal deveria estar amplamente ligado na destruição que presidente golpista promove na área, patrocinando uma PEC que diminui investimentos e uma reforma que recebe Alexandre Frota (porta voz da tal escola sem partido), com a devida proteção que Moro lhe fornece para continuar no cargo cometendo essas atrocidades (basta ver que o juiz não teve o menor pudor de expor Dilma em áudios ilegais mas não deixou Cunha fazer algumas perguntinhas ao Temer).
Karnal escolheu ser isento. Escolheu a face midiática de Moro na qual ele “combate a corrupção” (sei, Andréa Neves e Cláudia Cruz estão de boas andando por aí) para lhe fazer um elogio, deixando de lado ações altamente controversas do juiz que não cabem, sob nenhuma ótica, na coerência do historiador.
Leandro escolheu se abster, num país que a desigualdade mata todo dia e que a plutocracia avança a passos largos. E espero, de coração, que a dinâmica da vida faça com que ele pende para o lado dos oprimidos, pois o inverno que se desenha num futuro próximo não será nada fácil e, particularmente, tenho certa admiração pelo caminho democrático da internet que promove pessoas como ele, Clóvis Barros ou Mário Cortella.
Todavia, hoje, Karnal escolhe o lado do opressor, e enquanto posar sorridente ao lado de fascistas em potencial como Moro, infelizmente, minhas curtidas, minhas citações e meu respeito ele não mais terá.
Fonte: ocafezinho
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