Expressão cotidiana no relacionamento familiar de antanho, mas
aparentemente fora de moda atualmente, usada na educação de base
repressiva de crianças e adolescentes, é “Deixe de ser sem-vergonha”,
que logo se revertia ou não em castigo, conforme a gravidade da ação
perpetrada que a suscitara.
Parece que ser “sem-vergonha” é atitude já incorporada aos hábitos de muita gente, como buzinar com insistência para que se abra o portão de casa, esquecendo que o som estridente agride toda a vizinhança;
atrasar o pagamento da taxa de condomínio,
onerando os demais condôminos;
contratar carroceiros para remoção de
entulho, sabendo que o material recolhido vai ser jogado logo adiante,
na propriedade de outrem;
faltar aos plantões, no caso dos médicos do
SUS, deixando pessoas doentes sem atendimento;
estacionar veículo diante
de pontos comerciais, “trancando” carro que está parado regularmente;
ou em fila paralela, para apanhar filho na escola;
ou sobre calçadas,
impedindo de algum modo a passagem dos pedestres;
transitar pelo
acostamento de rodovias engarrafadas para levar vantagem sobre os que
esperam sua vez;
desrespeitar o idoso, em qualquer circunstância;
não
recolher o carrinho do supermercado;
ingressar na representação política
visando finalidade diversa da prevista para o cargo etc.
A sem-vergonhice, hoje exacerbada, talvez resulte da inversão de valores da contemporaneidade, disciplinando a infância e a adolescência, formando adultos que ignoram tanto o que é “ter vergonha na cara” quanto o significado de cidadania.
* Extraído do Diário do Nordeste
Notas sobre o autor:
Antonio Borges Rego é Contador e Advogado
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