1. O mundo
vive os efeitos incontroláveis de uma nova crise do capitalismo global. Na realidade
uma crise sistêmica: energética, ambiental, alimentar, econômica e de valores na perspectiva
dos direitos humanos, da cidadania e da inclusão. De duração imprevisível e de solução
incerta, projeta um longo período de incertezas.
2. No
Brasil, o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff não é um fim em si mesmo e não pode ser
lido fora desse contexto maior. A entrega do patrimônio nacional, em especial o
pré-sal, as iniciativas que visam a reduzir o papel do Estado e que objetivam retirar
direitos trabalhistas e previdenciários a cada dia deixam mais evidentes o
caráter e os objetivos
da ruptura institucional, neste novo momento de acumulação do capital.
3. Por outro
lado, há um processo crescente de resistência em curso. As ocupações nas escolas,
universidades e institutos federais, estaduais e municipais são a face mais
ativa da luta. Outros
setores atingidos pelas políticas do governo golpista organizados nas Frentes Brasil
Popular e Povo Sem Medo preparam uma agenda de resistência e mobilização para enfrentar os
efeitos do golpe no Brasil.
4. A
estratégia golpista de criminalização do Partido dos Trabalhadores, do
presidente Lula e dos
movimentos sociais e suas lideranças revelam nitidamente um pacto entre a
grande mídia e
setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal para atingir
o PT e proteger os
principais personagens da política tradicional envolvidas com os esquemas históricos
de corrupção no país. Mesmo com os resultados eleitorais favoráveis à direita nas últimas
eleições, a possibilidade de uma candidatura competitiva de Lula em 2018 atormenta
nossos adversários e inimigos.
5. Cabe ao
PT a tarefa de fazer um profundo balanço de sua atuação nesse último período enquanto
partido e governo, e se reinventar frente aos desafios da próxima conjuntura. O Partido dos
Trabalhadores tem sua trajetória marcada na luta pela construção de uma sociedade
mais justa e democrática. Nossos governos alcançaram profundas mudanças, especialmente
com as políticas de inclusão que transformaram a vida de milhões de pessoas até
então sem acesso aos direitos de cidadania.
6. No
entanto, cometemos erros que não podem ser minimizados. A perda de critérios e referências
nas alianças, a busca da governabilidade parlamentar a qualquer custo, a introdução
crescente de uma política econômica contrária aos setores que representamos e a opção
pelo financiamento tradicional da política, a partir de recursos doados por grandes
empresas nas campanhas eleitorais e principalmente para a manutenção das atividades
partidárias em períodos não eleitorais são equívocos de graves consequências para um
projeto de esquerda.
7. Os recuos
na implantação das políticas públicas nas áreas dos direitos humanos e nas políticas de
enfrentamento ao preconceito e à discriminação, a timidez dos avanços na reforma
agrária e na demarcação de terras indígenas revelaram uma concepção estratégica
equivocada eis que centrada na abdicação de pautas históricas do PT e dos movimentos
aliados e na ilusão de que assim conquistaríamos a confiança de setores conservadores
e reacionários. Uma não compreensão das relações de poder, que ignorou que estes
setores estariam na linha de frente do golpe e integrados no processo de fascistização
que vive a sociedade brasileira.
8. Perdemos
a oportunidade histórica de promover uma mudança estrutural e consistente no Poder
Judiciário. Não enfrentamos o oligopólio da mídia e não demos um passo sequer no debate sobre
a regulamentação dos meios de comunicação. Não fomos determinados o suficiente
nos compromissos de democratização da comunicação e nem no apoio e valorização
das mídias independentes, blogs e sites progressistas e rádios comunitárias. Permanecemos
reféns do mercado e não fizemos nem mesmo uma auditoria independente
da dívida pública. Não avançamos para um sistema de justiça tributária onde quem
tem mais paga mais, e quem tem menos pague menos. Os trabalhadores e a classe média
arcam com a maior parte da carga tributária, enquanto o capital financeiro, seus
tentáculos e interesses rentistas permaneceram intocados nos nossos governos.
9. Os
desafios do Congresso do PT são imensos. Avançar na discussão programática e na construção
de alianças com referências político-estratégicas para um projeto socialista como
alternativa para a sociedade contemporânea marcada pelos valores desagregadores do
capitalismo decadente cada vez mais desacreditado como alternativa de futuro
para a humanidade.
Esse é um desafio que supera a chamada inclusão social pelo consumo e se refere a uma
ruptura com os padrões desenvolvimentistas. A promoção da capacidade crítica e da
participação política permitem um processo de defesa dos direitos de cidadania, e
da melhoria na qualidade de vida, como conquistas coletivas e frutos de opções
governamentais e não meramente como resultado de capacidades individuais e da chamada
meritocracia.
10. Um
Congresso que seja capaz de debater e incorporar nas elaborações partidárias a compreensão
sobre o papel dos novos sujeitos sociais, em especial da juventude, das mulheres, da
população LGBT, dos movimentos étnico-raciais, suas formas de organização e suas
pautas, fundadas na indivisibilidade dos direitos humanos. Para além de reconhecê- los, o PT
precisa se afirmar como um Partido de interlocução permanente, que dialogue com estes
movimentos.
11.
Entendemos que o PT tem um papel estratégico para a construção de um projeto de esquerda.
Por isso não condicionamos nossa presença no Partido à suas eventuais maiorias ou
posições conjunturais. Como parte constitutiva dessa experiência revolucionária
de partido de massas que é o PT, vamos disputar democraticamente posições nas
instâncias formais e informais de petistas, e construir alianças internas para radicalizar
a democracia partidária, e imprimir transparência absoluta das finanças, no fortalecimento
da organização da base e na formação política da militância.
12. A
proposta aprovada no Diretório Nacional do PT que definiu as regras do
Congresso não contempla a
plenitude de nossas posições. Regras e mecanismos que objetivem a priori a preservação
de espaços na burocracia partidária e que busquem evitar qualquer possibilidade
de alteração nos espaços de direção não podem se configurar como obstáculo às
mudanças necessárias que o Partido precisa implementar.
13. No
entanto, há hoje um forte movimento na base do Partido que exige mudanças profundas,
revelando a dissintonia entre as aspirações de grande parte dos e das petistas
e as práticas
da atual direção. É na busca deste diálogo que vamos centrar nossos esforços e, assim,
eleger uma nova direção que represente uma nova política do PT para enfrentar
os desafios do
nosso tempo.
PAULO
PIMENTA – Deputado Federal
WADIH DAMOUS
– Deputado Federal
LUIZ FERNANDO
MAINARDI – Deputado Estadual
JUÇARA DUTRA
VIEIRA – membro do Diretório Nacional
LAURA SITO –
membro do Diretório Nacional
COORDENAÇÃO
ESTADUAL DO PT AMPLO E DEMOCRÁTICO, tendência interna do Partido dos Trabalhadores,
em 15 de novembro de 2016.
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