Ao analisar os recentes acontecimentos na política brasileira, o
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos se mostra decepcionado
com a atuação do Judiciário do país e pede união à esquerda para reagir
ao que chama de “golpe constitucional-judicial” e a retrocessos
defendidos pelo atual governo.; em entrevista, o intelectual disse ainda
ver paralelos entre a onda conservadora que atingiu o Brasil e a
situação de seu país em 2011
Ao analisar os recentes acontecimentos na política brasileira, o
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos se mostra decepcionado
com a atuação do Judiciário do país e pede união à esquerda para reagir
ao que chama de “golpe constitucional-judicial” e a retrocessos
defendidos pelo atual governo. Em entrevista à Carta Capital, o intelectual disse ainda ver paralelos entre a onda conservadora que atingiu o Brasil e a situação de seu país em 2011.
"Houve interrupção democrática semelhante à que tinha sido ensaiada
em Honduras e no Paraguai e, como nas anteriores, levada a cabo com a
aprovação ativa dos Estados Unidos. Tratou-se de uma passagem brusca e
sem respaldo constitucional de uma democracia de baixa intensidade, já
que eram bem conhecidos os limites do sistema político e do sistema
eleitoral em refletir a vontade das maiorias, para uma democracia de
baixíssima intensidade, com maior distância entre o sistema político e
os cidadãos, maior agressividade dos poderes fáticos, menor proteção
social das classes mais vulneráveis, menos confiança na intervenção
moderadora dos tribunais.
No caso do Brasil, o que mais custa a aceitar é a participação
agressiva do sistema judiciário na concretização do golpe, tendo em
vista dois fatores que constituíam a grande oportunidade histórica de o
sistema judicial se afirmar como um dos pilares mais seguros da
democracia brasileira. Por um lado, foi durante os governos PT que o
sistema judicial e de investigação criminal recebeu o maior reforço não
só financeiro como institucional. Por outro lado, era evidente desde o
início que Dilma Rousseff não tinha cometido qualquer crime de
responsabilidade que justificasse o impedimento. Estavam criadas as
condições para encetar uma luta veemente contra a corrupção sem
perturbar a normalidade democrática e, pelo contrário, fortalecendo a
democracia. Por que é que esta oportunidade foi tão grosseiramente
desperdiçada? O sistema judicial deve uma resposta à sociedade
brasileira."
Fonte: brasil247
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