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Gabriela Souto, em seu Facebook
O
viralatismo é uma parte importante da ideologia conservadora brasileira.
Desde
o final do século XIX, pensadores sociais perguntaram como poderia dar certo um
país tropical, miscigenado, colonizado por portugueses.
O subtexto da pergunta
é acreditar que os países que dão certo estão no hemisfério norte, são
“racialmente puros” e colonizados por ingleses, franceses, holandeses ou algo
parecido.
O viralatismo gerou uma enorme quantidade de trabalhos que
responderam sua pergunta essencial de modos diversos, em alguns casos de forma
mais pessimista, em outros mais otimista: apesar de tudo, poderíamos dar certo.
Mas, independente da resposta sempre sobrava um preconceito de origem, que foi
comungado por vários pensadores sociais, alguns de esquerda, inclusive, como
demonstrou Jessé Souza, no livro “A tolice da inteligência brasileira”.
A
contraface do viralatismo é o ufanismo exagerado que se manifesta normalmente
em questões culturais e esportivas: melhor carnaval do mundo, melhor réveillon
do mundo, melhor futebol do mundo.
É como se dissessem: somos um país de merda,
mas sabemos fazer festa e jogar bola melhor que todos os outros. Considero o
ufanismo exagerado menos nefasto que o viralatismo, normalmente funciona como
uma catarse necessária: não somos tão ruins assim. Mas nesse momento não.
As
Olimpíadas do Rio elevaram a contradição entre o viralatismo e o ufanismo
exagerado até um ponto insuportável. Não dá para dividir o país, roubar o voto
de 54 milhões de brasileiros e depois falar em união nacional e paz social.
A
cerimônia de abertura foi linda, mas demonstrou claramente a contradição,
celebrou o funk e as favelas enquanto a pobreza é criminalizada e escondida,
falou em diversidade no país da bancada evangélica, homenageou o povo
brasileiro, enquanto sua representação política era composta por golpistas.
Não, não dá para esquecer tudo e só comemorar, principalmente vendo a mídia
golpista e propagadora do viralatismo tentando “virar a chave” para não
estragar seus lucros.
Torço
muito pelos atletas que, em geral, fazem um enorme sacrifício para exercer suas
habilidades e são pouco reconhecidos. Mas, mesmo quando vier a medalha de ouro,
permanecerá um gosto amargo na boca.
A
elite brasileira precisa decidir, somos vira-latas ou somos os “melhores do
mundo”? Se somos os “melhores do mundo”, mesmo que apenas em fazer festa e
jogar bola, merecemos escolher nosso governo e, principalmente, merecemos uma
elite melhor, uma elite menos vira-lata.
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