SUPERAÇÃO |
"Quero fazer escola de magistratura e ser juíza. O aprendizado é contínuo", disse Ana Karla Foto: Guilherme Ferrari |
Formada
desde junho, Ana Karla está à espera da carteira da OAB para começar a advogar
Mulher.
Negra. Pobre. Aos olhos de algumas pessoas, Ana Karla Santa Ana, 33 anos, tinha
tudo para ser mais uma na multidão, mas com muita determinação, ela mudou um
destino que já estava pré estabelecido. Se formou em Direito, passou na prova
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes de concluir o curso e provou que
para ser basta querer.
“Quero fazer escola de magistratura e ser juíza. O aprendizado é contínuo”, disse Ana Karla, que já trabalhou como babá.
Após
concluir o ensino médio em 2009, na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos
(EJA), Ana Karla prestou Enem em 2010, e obteve 800 pontos na prova de redação
e média de 649 na prova objetiva. O resultado foi a conquista de bolsas
integrais em três instituições. No segundo semestre de 2011 começava a batalha
rumo a um sonho: ser advogada. O desejo tornou-se realidade no mês de junho.
O
caminho foi difícil, mas ela contou com a ajuda de alguns “anjos da guarda”. O
primeiro deles é o marido, Sidnei Lima da Silva, 32, que a inscreveu no Enem e,
durante todo o curso, a ajudava a custear as despesas, vendendo balas no
Terminal de Laranjeiras, na Serra.
Ele conta que a apoiou desde o momento que ela falou do sonho de ser advogada. “As pessoas falavam que ela não conseguiria, mas eu sempre acreditei.”
A renda que Sidnei obtinha, entre R$ 800,00 e R$ 1 mil mensais, era usada para pagar as despesas da casa e garantir passagens e alimentação para a esposa. “Certa vez um professor me deu R$ 50,00 para eu pagar passagem, mas quando eu não tinha dinheiro, também pedia carona nos ônibus”, conta a bacharel em Direito.
Uma
amiga, em especial, marcou a trajetória de Ana Karla: a universitária Ruth
Gonçalves. Antes dela entrar na faculdade, Ruth deu a ela um emprego de
vendedora na loja onde trabalhava como gerente. “E por eu morar próximo a
faculdade, nos reencontramos. Eu a ajudava como podia. Sua humildade a fez ir
longe”, afirma Ruth.
Prova
No
último ano do curso, Ana Karla, que é moradora de Nova Carapina, na Serra,
intensificou os estudos para passar na concorrida prova da OAB. Ela lembra que,
às vezes, entrava na faculdade às 8h e saía após às 22h.
“Estudava até de madrugada, pois os conteúdos que aprendia na faculdade revia em casa. Os livros eram emprestados da biblioteca.”
O
professor de Direito Civil e coordenador do curso de Direito da Faculdade
Estácio de Sá, Carlos Alberto Hackbardt, é só elogios à postura de Ana Karla.
“Ela serve de exemplo para as pessoas buscarem aquilo que almejam, ao invés de
esperar de mão beijada.”
E
por essa postura, Ana Karla recebeu ontem, na Câmara de Vereadores da Serra, a
comenda Nelson Mandela, uma homenagem de honra ao mérito.
Incentivo
veio na infância
Glória fez muitas faxinas para ajudar a filha, Ana Foto: Guilherme Ferrari |
Nascida
na região da Grande São Pedro, Ana Karla lembra que a infância foi humilde
porém, o incentivo aos estudos nunca faltou, principalmente por parte da mãe, a
diarista Glória Maria Santa Ana, 52, que não se cabe em tanto orgulho em ver a
filha formada.
Glória
conta que os médicos que fizeram o parto falaram para ela que a filha tinha
cara de doutora.
“Eu fiquei pensando como conseguiria transformá-la em doutora. Condições financeiras eu não tinha, mas sempre a incentivava a estudar.”
Mesmo
com tendinite, Glória não abria mão de fazer faxinas para ajudar a primogênita
Ana Karla. “Ela é a minha primeira filha a ter curso superior, mas um dos
irmãos, inspirado na história dela, também quer fazer faculdade. Ele sonha em
ser músico.”
Depoimento
“Desde criança sonhava em cursar Direito” - Ana Karla Santa Ana, bacharel em Direito
“Minha infância foi muito humilde, meu pai era padeiro e vendia peixe, lembro que só comprávamos roupas no Natal. Mas, apesar de não terem estudado, os meus pais sempre me incentivaram a estudar. Desde criança sonhava em cursar Direito, me encantava com os julgamentos que via nas novelas. Já ouvi que quem nasce para tapete nunca será chapéu. Agora estou provando que a gente pode costurar o tapete e transformar em chapéu, depende da nossa força de vontade.”
Fonte: A Gazeta
Fonte:
gazetaonline
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do BVO - Blog Verdades Ocultas. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Blog Verdades Ocultas para saber o que é impróprio ou ilegal.