O maior símbolo da defesa dos povos indígenas deste país é um militar: Cândido Rondon, ele próprio descendente de índios terena e bororo, que conduziu com métodos bem diferentes dos da cavalaria americana a nossa versão da “marcha para o Oeste”.
Com toda a crueldade que hoje se percebe na ocupação dos territórios tradicionais dos povos indígenas, todos os que olham a história percebem as virtudes de um militar – e nos tempos em que um civil não poderia fazê-lo – tomar a si esta tarefa. A maior delas, sua melhor qualidade: o exercício da tolerância, que se expressa na frase que lhe ficou de mais típica: “morrer, se preciso for; matar, nunca”.
Não é, portanto, ser militar o que ofende na indicação do general da reserva do Exército Sebastião Roberto Peternelli Júnior para a presidência da Funai.
É o fato de não ter a menor ligação com a questão indígena, o que ele próprio admite, assumindo nem mesmo ter servido em regiões com presença destes povos e que, como piloto militar, “voou pela Amazônia”.
É o fato de ser indicado por uma cúpula de pastores evangélicos do PSC, com evidentes preocupações de expansão religiosa dentro destas comunidades. Algo tão delicado que só depois de séculos passou a ser encarado com respeito pela Igreja Católica, que abandonou, ao menos em grande parte, a postura “catequética” em relação aos índios.
E é, sobretudo, o fato de demonstrar, pelo que se noticia, ser uma pessoa intolerante, porque 50 anos depois, ainda enaltece as barbaridades que fez o golpe de 1964;
Mostra que não há, nele, o espírito da frase célebre de Rondon.
Deveria ser o primeiro a dizer, diante da notícia, que, humildemente, defendia que nossos índios merecem que, no mínimo, possam ser cuidados por quem tem uma vida dedicada defesa de suas vidas, de sua cultura, de suas terras.
Como foi, em outros tempos, o marechal do Exército Brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon.
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