Foto: Reprodução/ Folha
Graves erros em reportagem do Datafolha sobre pesquisa de opinião devem ser corrigidos pela mídia internacional e brasileira, diz Co-Diretor do CEPR
no CEPR
Um relatório sobre dados de pesquisa de opinião publicado no sábado pela Folha de São Paulo, jornal de maior circulação no Brasil, continha erros tão "grandes e de fundamental importância para a atual crise política que exigem muito mais do que a correção de costume," afirmou hoje Mark Weisbrot, Co-Diretor do CEPR.
"Pesquisas ruins acontecem com bastante frequência, mas esses erros, tanto de pesquisa quanto de reportagem, são de uma magnitude completamente diferente ", disse Weisbrot.
Como destacado pelo site The Intercept ontem, a Folha de São Paulo havia relatado que, de acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Datafolha, 50% dos brasileiros queriam que o presidente interino Michel Temer ficasse no cargo até 2018; 32% queriam que a presidenta eleita Dilma Rousseff terminasse seu mandato; 4% não queriam nenhum dos dois; e apenas 3% queriam novas eleições.
No entanto, após a liberação dos dados da pesquisa, descobriu-se que não foi dada aos entrevistados a escolha entre estas quatro opções. Em vez disso, eles foram convidados a escolher entre apenas duas possibilidades: ou Temer, ou Dilma, servindo o restante do mandato em curso, que vai até o final de 2018.
Os 4% que não escolheram nenhum dos dois, e os 3% que optaram por novas eleições, consistiam apenas daqueles entrevistados que não responderam às perguntas.
"Portanto, é falso e grosseiramente enganoso reportar, como fez a Folha de São Paulo e muitas outras agências de notícias, que esta pesquisa constata que metade do país está a favor do presidente interino, Michel Temer, permanecer no cargo até 2018", disse Weisbrot.
"Mais importante, podem haver, potencialmente, enormes consequências se essa reportagem enganosa não for corrigida: ela daria aos senadores brasileiros, que vão decidir o destino de Dilma em cerca de três semanas, cobertura política para condenar Dilma e removê-la do cargo, e para permitir que Temer governe até o final de 2018."
Como observado pelos jornalistas Glenn Greenwald e Erik Dau, do The Intercept, uma pesquisa anterior, realizada em 25 de abril, "apontou que 62% [dos entrevistados] queriam que tanto Dilma quanto Temer deixassem o cargo e, em seguida, que novas eleições fossem realizadas; 25% queriam que Dilma permanecesse no cargo e concluísse seu mandato; e apenas 8% eram a favor do que aconteceu até agora: Dilma sendo removida e Temer permanecendo como presidente."
Como o artigo assinala, simplesmente não é crível que o número de pessoas favoráveis à realização de novas eleições tenha caído de 62% para 3% nos últimos três meses; ou que o número de pessoas que querem que Temer termine o mandato de Dilma tenha saltado de 8% para 50%. (Desde abril, o novo governo tem sido atingido por uma série de escândalos, envolvendo três ministros que se demitiram, e implicando o presidente interino Temer.)
Em vez disso, os resultados são, obviamente, impulsionado pelas escolhas limitadas oferecidas aos entrevistados.
"Cada meio de comunicação que repetiu este relatório falso e distorcido tem a responsabilidade jornalística de corrigir totalmente o registro e fornecer a seu público uma explicação sobre o que está errado com esta sondagem", disse Weisbrot. "Fazer menos do que isso seria mais do que irresponsável."
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