Jornal GGN - Pouco antes de anunciar ameaça de abertura de impeachment contra o atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), havia recebido uma notificação: a abertura de mais um inquérito, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), desta vez envolvendo propinas para a construção da usina de Belo Monte, no Pará.
Nas conversas divulgadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, os interlocutores do PMDB haviam manifestado preocupação com o resultado da delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral. Mas logo quitaram as chances de sucesso, diante do já isolamento de Delcídio por todas as frentes - oposição e governo. À época, não imaginaram que poderiam surtir outros efeitos de provas.
Mas os procuradores da força-tarefa da Lava Jato convenceram mais um personagem a endossar as narrativas do ex-senador, pelo menos no caso referente à Belo Monte.
Delcídio havia contado que a cúpula do PMDB, sob o comando de Renan Calheiros, com Edison Lobão, Jader Barbalho, Romero Jucá e Valdir Raupp tiveram grande influência no governo, atuando para se beneficiar em contratos do Ministério de Minas e Energia, da Eletrosul, Eletronote, diretorias de abastecimento e internacional da Petrobras, além das usinas de Jirau e Belo Monte.
O parlamentar - preso no último ano em flagrante por tentar interferir no andamento das investigações da Petrobras - disse que nas obras da usina hidrelétrica no Pará houve pagamento de, pelo menos, "R$ 30 milhões, a título de propina pela construção de Belo Monte, pagos ao PT e ao PMDB" e que o dinheiro ao partido de Renan foi "destinado ao grupo de José Sarney", incluindo os nomes de Lobão, Renan, Jucá, Raupp e Barbalho.
Um novo depoimento, em 30 de março deste ano, reforçou a investigação. O relato do engenheiro da Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, dava conta de que a usina gerou R$ 21 milhões em propina ao PT e ao PMDB.
Contou um episódio, em 2011, que levou ao então presidente da empreiteira, Dalton Avancini, a "cobrança" do então presidente da Andrade Gutierrez, Flávio Barra, mas exclusivamente dos pagamentos relacionados ao PMDB. Segundo o depoimento, Barra disse que os valores direcionados ao PT seriam tratados diretamente por ele.
Relatou que desconhecia como seria realizado o pagamento ao PT. Mas que, desta quantia, cerca de R$ 10,5 milhões seria para a cúpula do PMDB.
Diz trecho da delação: "1% dos valores desembolsados no contrato das obras civis de Belo Monte deveria ser encaminhado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB); que, complementando, afirma que a participação da Camargo Corrêa no empreendimento compreendia a participação de 16% no consórcio construtor (CCBM), pelo que lhe caberia o pagamento de R$ 21 milhões a título de propina aos citados partidos, 50% para cada".
Ainda sobre as propinas ao partido de Michel Temer, o engenheiro disse à PF que 10% da quantia na usina de Belo Monte seria destinado ao ex-ministro Delfim Netto.
Luiz Carlos Martins detalhou que foram pagos R$ 160 mil em quatro parcelas ao ex-ministro. Corrigiu a outra informação de que 50% seria ao PMDB e 50% ao PT: na verdade, seria 45% para cada e os 10% restantes a Delfim Netto. "Todos reclamaram disso, mas Flávio informou que era uma determinação do agente político do PMDB", disse o executivo na delação.
O engenheiro ainda explicou que a quantia foi acertada com o sobrinho do ex-ministro, o advogado Luiz Appolonio Neto, e repassada pela empresa de Delfim, a Aspen Assessoria e Planejamento. À equipe da Lava Jato, o advogado informou, em petição, que a quantia não lhe pertencia e foi repassada "integralmente" a Delfim Netto.
Renan vai avaliar sexto pedido de impeachment
No mesmo dia em que as delações foram validadas já em inquérito aceito pelo Supremo, com o objetivo de aprofundar nas investigações da propina paga ao PMDB no caso da usina de Belo Monte, Calheiros anunciou que, após arquivar cinco pedidos de impeachment contra o procurador-geral da República Rodrigo Janot, "entendeu" que seria apto avaliar o sexto.
O pedido de afastamento de Janot partiu de duas advogadas também ligadas ao movimento pró-impeachment de Dilma Rousseff. Elas acreditam que o PGR deu tratamento diferenciado a políticos do PT e do PMDB, que também estariam envolvidos em "situações análogas" no esquema de corrupção da Petrobras.
Apesar de os pedidos das advogadas voltarem-se contra o próprio senador Renan Calheiros, o intuito é responder a um possível tipo de pressão que o peemedebista estaria sofrendo para entrar na mira de réus da Lava Jato no STF.
Nas conversas com Sergio Machado, o ex-presidente da Transpetro afirmava que sofria pressões de Janot para entregar os caciques do PMDB. Também no diálogo, o presidente do Senado chamava Janot de "mau-caráter".
Renan anuncia que não rejeitará, de imediato, o pedido de impeachment de Rodrigo Janot no mesmo dia que o STF aceita o inquérito dos investigadores. Entrou em contradição, ainda, com um discurso recente quando arquivou o pedido de impeachment contra o ministro do STF, Marco Aurélio Mello.
"Não podemos ser levianos com a democracia, nem subestimar a importância da separação dos poderes da República. É hora de o Legislativo ser Legislativo, de o Judiciário atuar como Judiciário e de o Executivo se portar como Executivo", havia discursado.
Com mais esse inquérito, Renan Calheiros passa a ser alvo de um total de 10 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), somente na Lava Jato.
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