Ela |
Por
Kiko Nogueira
Usado
como fiador do discurso de que não houve golpe e as instituições funcionam
normalmente e blábláblá, o STF aparece cada vez menor à medida em que o governo
do interino agoniza e detalhes da doença são revelados.
Não
apenas o Supremo, mas o Congresso e, obviamente, Temer, o anão moral.
Em
menos de duas semanas de um governo desastroso que se vendia para trouxa como
de “pacificação nacional”, quem cresce na fita é Dilma.
A
segunda parte da pornografia do complô nas gravações de Sergio Machado,
ex-líder do PSDB investigado na Lava Jato, traz Renan Calheiros oferecendo
outros detalhes da autopsia do impeachment.
Transcrevo
uma parte do diálogo publicado hoje na Folha:
MACHADO
– [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos
passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com
isso. E esses caras do…
RENAN
– Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo
[inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira
coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
MACHADO
– Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.
RENAN
– A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma
decisão, interpreta isso e acaba isso.
MACHADO
– Acaba isso.
RENAN
– E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].
MACHADO
– Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.
RENAN
– Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade
mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está
abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está
gripada, muito gripada– aí ela disse: ‘Renan, eu recebi aqui o Lewandowski,
querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as
dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da
Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa
inacreditável’.
MACHADO
– Eu nunca vi um Supremo tão merda, e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser
pior ainda. […]
É
tragicômico. Segundo o bate papo, a presidente do Brasil convidou o presidente
da corte mais alta para debater a crise aguda.
Sentados
os dois num gabinete, cafezinho na mesa, copo d’água, Lewandowski propôs a
solução: aumentar o salário. Não rolou. Os caras ficaram “putos”. Claro, ué.
Quem nunca?
Fim.
Um
flashback rápido: em 28 de abril, o reajuste salarial do Judiciário ganhou
caráter de urgência na Câmara dos Deputados — graças a Eduardo Cunha. Ele havia
sido vetado no ano passado por Dilma Rousseff como parte do esforço pelo ajuste
fiscal.
Sob
a batuta de Cunha, o plenário aprovou, por 277 votos a 4, o pedido de urgência
do projeto de lei 2648/15. A proposta será incluída na pauta a qualquer
momento, mas não há previsão de votação. A proposta tem impacto orçamentário
para 2016 de R$ 1,160 bilhão.
O
afastamento de Dilma teve o efeito contrário do truque de tirar o bode da sala.
Ela desapareceu e tudo o que era podre ressurgiu em sua falsa normalidade.
Deu
ruim. Fica claro que Dilma não topou o jogo sujo. Seu retrato aumenta na
parede. Se vivêssemos numa democracia, o caminho natural seria devolver a ela,
no Senado, o mandato que lhe foi retirado no tapetão.
Se
vivêssemos numa democracia.
Fonte:
DCM
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