Há
quem suponha que o novo Ministro da Justiça Eugenio Aragão sofra de
"sincericídio", tal a franqueza com que expõe suas opiniões. Esse
estilo ficou claro na gravação do programa Brasilianas, da TV Brasil - que irá
ao ar esta noite às 23:00.
Durante
50 minutos Aragão abordou de forma franca vários dos problemas que acometem o
país, não poupando críticas nem à corporação da qual se origina, o Ministério
Público Federal.
Para
Aragão, o país padece da estreiteza da visão penal, simplificadora, deletéria
de que todos os problemas do país se resolvem meramente condenando os
corruptos.
Ele
lamenta os setores da economia que estão sendo destruídos e lembra-se do que
ocorreu com a indústria naval nos anos 80. O Brasil tinha uma das dez maiores
produções de navio e uma frota invejável no Lloyds. Descobriu-se corrupção na
Sunamam (Superintendência Nacional da
Marinha Mercante). Em vez de apenas se punir os corruptos, promoveu-se o
fechamento da empresa e a destruição dos estaleiros nacionais, uma perda
enorme.
O
mesmo está ocorrendo agora com as empreiteiras nacionais, compara Aragão. O
Brasil conseguiu desenvolver uma tecnologia preciosa, à altura das melhores
internacionais. A destruição do setor produzirá um atraso de dez anos na
economia, prevê ele. Ele lamenta a visão
penal atrasada, que supõe que destruindo uma empresa, outra imediatamente
ocupará seu lugar.
O
Brasil padece de uma corrupção sistêmica, diz ele, e não se resolve isso apenas
o campo penal. Tem que se avançar na reforma política, em regras de
transparência.
O
Ministério Público
Um
dos grandes problemas institucionais, em sua opinião, é o processo que
atravessa o MInistério Público Federal.
Na
Constituição houve um lobby eficiente de poderes que apoiaram a ditadura, mas
se reciclaram a tempo de participar da Constituição. Três deles foram o
Judiciário, a Polícia Federal e o Ministério Público, este fortalecido por
algumas ações vistosas, como a defesa dos indígenas e dos direitos humanos.
Mas, nos três casos, manteve-se a mesma estrutura de poder anterior,
preservando as caixas pretas.
No
caso do MPF, a Constituição foi feita para um MP quase artesanal, diz ele, no
qual todos os procuradores praticamente se conheciam. Em cima dessa base houve
um crescimento exponencial do MP, conquistando altos salários e benefícios e
distanciando-se do conceito de serviço público - no qual os salários moderados
são compensados pela estabilidade do emprego. A melhor qualificação dos
procuradores veio acompanhado de maiores exigências salariais e funcionais,
trazendo atrás de si outras corporações públicas.
No
bojo dessa melhoria, abriram-se concursos que colocaram na corporação uma nova
geração, com ambição de fazer carreira nas mesmas condições financeiras dos
grandes advogados.
E,
pior, diz ele, no caso das três corporações - MP, PF e Judiciário - não há o
"accountibility", a prestação de contas, a análise das
responsabilidades funcionais, dos desdobramentos de decisões tomadas.
Segundo
ele, nem MPF, nem Polícia Federal nem o próprio governo tem conselhos
estratégicos analisando as implicações de suas ações sobre o conjunto da
sociedade e da economia. As análises estratégicas do MP são para dentro, tendo
como foco único a própria corporação.
É
essa falta de visão mais ampla que faz com que, nos acordos de cooperação
internacional, não haja uma visão mais estratégica no compartilhamento de
informações.
Quando
se trata de crimes contra a humanidade, terrorismo, narcotráfico, há uma troca
bastante eficiente de informações.
Quando
entra o chamado interesse nacional, o Brasil se comporta de forma desarmada,
diz ele. Outros países filtram suas informações de acordo com o interesse
nacional, não o Brasil. Segundo ele, jamais se conseguirá da cooperação
internacional com os EUA nenhuma informação que prejudique suas empresas.
A
entrevista, na íntegra, passará logo mais na TV Brasil.
Fonte:
jornalggn
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