"Senador
paulista fará o possível e o impossível para melar os Brics, com ou sem a
prudência necessária para não criar um mal-estar", analisa o jornalista
Fernando Brito, do blog Tijolaço; ele denuncia que gente do calibre de John
Craig Roberts, economista, colunista do The Wall Stret Journal e ex-dirigente
da Secretaria do Tesouro americano não usa meias palavras para descrever o
interesse americano nisso: 'Washington está se movendo para colocar no poder
político de um partido de direita que Washington controle, a fim de encerrar as
crescentes relações do Brasil com a China e a Rússia'; a inviabilização do
Banco dos Brics é uma peça chave para a imposição da política de “Aliança
Transpacífico” dos EUA para manter seu controle sobre o comércio internacional
e, acima de tudo, o poder incontrastável do dólar no padrão monetário
internacional
Por
Fernando Brito, do Tijolaço
Fiquei
penalizado, ontem, lendo o artigo do corretíssimo Paulo Nogueira Batista Jr.
sobre os avanços do Banco dos Brics, integrado, além do Brasil, por Rússia,
India, China e África do Sul. Batista é o diretor brasileiro, com mandato de
dois anos e Serra, a esta altura, deve estar analisando a possibilidade de
substituí-lo ou de “renunciá-lo”.
Gente
do calibre de John Craig Roberts, economista, colunista do The Wall Stret
Journal e ex-dirigente da Secretaria do Tesouro americano não usa meias
palavras para descrever o interesse americano nisso: Washington está se movendo
para colocar no poder político de um partido de direita que Washington
controle, a fim de encerrar as crescentes relações do Brasil com a China e a
Rússia.
A
inviabilização do Banco dos Brics é uma peça chave para a imposição da política
de “Aliança Transpacífico” dos Estados Unidos para manter seu controle sobre o
comércio internacional e, acima de tudo, o poder incontrastável do dólar no
padrão monetário internacional.
Para
quem não sabe, o fato de poder emitir sem gerar inflação interna – porque dois
terços dos dólares circulam fora de suas fronteiras – e poder manter sua moeda
sobrevalorizada – foi uma das chaves da hegemonia norte-americana desde o
pós-guerra e qualquer pacto multinacional que trabalhe fora do padrão-dólar é
perigoso a ele.
José
Serra, portanto, fará o possível e o impossível para melar os Brics, com ou sem
a prudência necessária para não criar um mal-estar. E melar a trajetória –
ainda tímida – de sucesso, na nova instituição, que nogueira Batista Jr.
descreve abaixo, inicialmente focada na área de energia sustentável.
Um
bom começo
Paulo
Nogueira Batista Jr.
O
Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) estabelecido pelo Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul) está avançando em ritmo acelerado. Queria falar
um pouco hoje sobre o que conseguimos alcançar nos primeiros meses de
existência da instituição. Bem sei que, em meio às convulsões que vive nosso
país, será difícil conectar o interesse do leitor com tema tão específico e
distante, mas vou tentar mesmo assim.
Quando
cheguei a Xangai, em julho de 2015, estávamos começando praticamente do zero.
Tínhamos o Convênio Constitutivo, assinado em Fortaleza um ano antes, e um
andar praticamente vazio de um prédio no distrito financeiro de Pudong. Agora,
em abril de 2016, apenas dez meses depois, a diretoria do NBD aprovou a
primeira leva de projetos do banco.
Confesso
que tive dificuldade de acreditar quando o presidente do NBD, K.V. Kamath,
definiu o objetivo de aprovar os primeiros projetos já no segundo trimestre de
2016. Mas conseguimos — à custa de muito trabalho e sacrifício de uma equipe
ainda pequena e do apoio que tivemos dos governos dos países fundadores. No
caso do projeto brasileiro, foi fundamental a parceria com o BNDES, um dos mais
experientes bancos nacionais de desenvolvimento do mundo.
Foram
aprovados quatro projetos, num total de US$ 811 milhões, a maior parte no campo
da energia renovável, seguindo orientação recebida dos líderes do Brics por
ocasião da sua última cúpula, em julho de 2015, na Rússia.
O
projeto brasileiro é um empréstimo ao BNDES, de US$ 300 milhões, que será
repassado a empreendimentos privados em áreas como energia eólica e solar. O
projeto chinês, denominado em yuan e equivalente a US$ 81 milhões, é na área de
energia solar. O sul-africano, de US$ 180 milhões, está direcionado ao
financiamento de linhas de transmissão de energia elétrica. O projeto indiano é
uma linha de crédito de US$ 250 milhões ao Banco Canara, destinada a projetos
nas áreas solar, eólica, geotérmica e ao financiamento de pequenas
hidrelétricas. Um quinto projeto, com a Rússia, está em fase avançada de
negociação.
Do
lado do funding, o NBD também está fazendo progresso. Em janeiro deste ano, os
sócios fundadores fizeram o primeiro aporte de capital, conforme previsto no
Convênio Constitutivo. A Rússia pagou adiantado a segunda parcela do seu aporte
e, assim, o NBD conta com mais capital do que o previsto, num total de US$ 1
bilhão. Estamos preparando também a primeira emissão de bônus, que deve ocorrer
em meados deste ano. Será um bônus verde, emitido em yuan no mercado chinês.
Assim,
o NBD, em linha com o seu mandato, está se configurando como um banco “verde”
tanto do lado do ativo quanto do lado do passivo. A questão da sustentabilidade
dos projetos apoiados está sendo e continuará a ser um dos focos fundamentais
do NBD.
Estamos
apenas começando. Há uma tarefa imensa pela frente. Temos muito que aprender.
Não subestimamos jamais o tamanho do desafio que este banco foi chamado a
enfrentar.
Afinal,
é a primeira vez que um banco que tem a aspiração de ser uma instituição de
escopo global está sendo construído exclusivamente por países emergentes, sem a
participação de países avançados.
Fonte:
brasil247
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