Há
tempos que pairam suspeitas de que a merenda escolar na rede pública estadual
de São Paulo tem servido para "alimentar" esquemas de propinas
envolvendo figuras próximas ao governador
Em
2009, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE) iniciou investigação
sobre pagamento de propinas envolvendo ao menos dez fornecedores de merenda
para a rede pública de educação de São Paulo e de pelo menos 13 municípios.
O
relatório, feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),
apontou que a terceirização do serviço custava quase quatro vezes mais do que
se o serviço fosse feito pela própria prefeitura. Durante a pesquisa, os
técnicos da empresa também concluíram que a qualidade dos alimentos servidos às
crianças não era adequada. Além disso, o Conselho de Alimentação Escolar
descobriu, em inspeções feitas entre 2006 e 2007, que em várias escolas e
creches o armazenamento dos produtos da merenda era precário, sendo que alguns
alimentos já estavam fora do prazo de validade e outros, em estado de
decomposição. Depois de algumas notinhas publicadas na imprensa, o Ministério
Público anunciou que a apuração correria sob segredo de Justiça. Não há
notícias de que alguém tenha sido punido e as pequenas notinhas sumiram da
imprensa.
Em
2011, o escândalo da propina na merenda escolar continuou dentro do governo do
PSDB no Estado de São Paulo. Mudou de cidade, ganhou mais umas notinhas em
alguns jornais e em seguida desapareceu. Desta vez, o MP incluiu no inquérito
que investigava a máfia da merenda em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, a
denúncia de que as refeições fornecidas pela empresa Verdurama eram
transportadas pela funerária de Lucas César Ribeiro. Lucas é filho do lobista
Paulo César Ribeiro, o Paulão, irmão de Lu Ackmin e cunhado de Geraldo Alckmin
(PSDB), governador de São Paulo na época.
Um
dos 11 irmãos da primeira-dama paulista, Paulão foi investigado pela promotoria
sob suspeita de integrar esquema que fraudava licitações e superfaturava o
preço de merenda em contratos com prefeituras mediante pagamento de propina e
doações eleitorais.
Com
influência na prefeitura de Pindamonhangaba, Paulão foi acusado de ter atuado
para que a Verdurama vencesse a licitação. O contrato, de R$ 6,8 milhões, foi
considerado irregular pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
De
acordo com as investigações, para transportar a merenda, a Verdurama contratou
uma empresa de transporte e logística de Lucas César Ribeiro, filho de Paulão.
A promotoria afirmou que a empresa era de fachada. Segundo um ex-funcionário de
Lucas, o transporte das refeições era feito pela real empresa do sobrinho de
Alckmin, uma funerária, nos mesmos carros que levavam cadáveres. Apesar de o
Ministério Público ter anunciado que iria investigar e punir os culpados,
novamente o caso foi engavetado.
Em
2012, o MPE novamente “investigou” e denunciou 35 acusados de envolvimento na
chamada máfia da merenda, como ficou conhecido o grupo de empresas que fraudava
licitações para o fornecimento de merenda escolar. O grupo ainda foi acusado de
corromper políticos do PSDB e funcionários públicos, além de lavar o dinheiro
da organização criminosa. De novo o caso foi parar no fundo da gaveta.
Estamos
em 2016, e a máfia da merenda continua agindo São Paulo afora sem ser
incomodada.
Recentemente,
uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo informou que os delegados que
atuam na Operação Alba Branca afirmaram que o esquema mantido pela Cooperativa
Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) na venda de produtos para a merenda escolar
no governo Geraldo Alckmin e em prefeituras paulistas é uma verdadeira farra
com o dinheiro público.
Em
depoimento à Polícia Civil, funcionários da Coaf relataram que a propina
chegava a ser de 25% dos contratos. Eles contaram como eram feitas as entregas
de pacotes de dinheiro, depósitos em contas e acertos em postos de combustíveis
às margens de rodovias paulista.
Ao
longo das investigações da Máfia da Merenda, escutas telefônicas com
autorização da Justiça mostraram que foram citados os nomes do atual presidente
da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), e de outros
políticos paulistas: os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (SD) e Fernado
Cury (PPS), além dos deputados federais Baleia Rossi (PMDB) e Nelson
Marquezelli (PTB) e do deputado e ex-secretário de Transportes e Logística
Duarte Nogueira (PSDB). Todos negam ter participado do esquema.
A
Polícia Civil aponta o deputado estadual Fernando Capez, que foi promotor de
Justiça e aspira disputar a cadeira de Alckmin em 2018, e Luiz Roberto dos
Santos, o "Moita", ex-braço direito do secretário-chefe da Casa
Civil, Edson Aparecido, como beneficiários de propinas. Interceptações
telefônicas mostram que o deputado tucano é chamado de "nosso amigo"
pelos intermediários dos pagamentos. Mais uma vez, como num passe de mágica, os
nomes dos políticos do PSDB e aliados dos tucanos sumiram da imprensa.
E
como não há nada tão ruim que não possa piorar, documentos considerados
importantes para o avanço da Alba Branca, simplesmente desapareceram da
Secretaria Estadual de Educação. O documento em questão tratava de uma mudança
em um contrato entre a Coaf e o governo do estado. De acordo com a Corregedoria
Geral da Administração sumiram as provas contra os ex-secretários Herman
Voorwald, da Educação, de Duarte Nogueira e de Fernando Padula, ex-chefe de
gabinete de Voorwald.
É
estranho que justamente estes documentos tenham desaparecido. O governador
Geraldo Alckmin tem colocado sob sigilo diversos documentos antes acessíveis
pela Lei de Acesso à Informação, o que mantém as provas em questão longe dos
olhos do distinto público. Mas o sigilo não impede operações de busca e
apreensão com ordem judicial.
Para
agentes públicos corruptos, só a "queima de arquivos" resolve ou
reduz o problema, pela destruição de provas. Não é a primeira vez que
documentos supostamente comprometedores desaparecem no governo paulista. Há
pouco tempo, já ocorreu um suspeito incêndio em um depósito terceirizado de
guarda de documentos, destruindo papéis do Metrô paulista que interessavam para
elucidar o esquema de propinas pagas a autoridades tucanas no caso Alstom.
Governador,
corregedoria-geral e o Ministério Público paulista têm muitos esclarecimentos a
dar sobre o caso para lá de nebuloso.
Fonte:
redebrasilatual
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do BVO - Blog Verdades Ocultas. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Blog Verdades Ocultas para saber o que é impróprio ou ilegal.