Ao lado da disputa parlamentar pelos votos para o impeachment ou para brecá-lo, das disputas judiciais e governamentais, se dá uma intensa e decisiva disputa pelo sentido comum do pais.
Na origem da crise atual, a opinião pública foi bombardeada por uma campanha sistemática que desembocava no “Fora Dilma”. Seus supostos são os de que o problema principal do pais está na existência do governo do PT, corrupto, incompetente. Esses argumentos, difundidos por todos os monopólios privados dos meios de comunicação, conquistaram a amplos setores das classes medias, além daquelas das camadas mais ricas, especialmente dos grandes centros urbanos, enquanto os setores políticos da direita articulavam o impeachment, como forma de solucionar o que consideram o problema central do pais.
Seu auge se deu há um ano, com as maiores manifestações que a direita tinha conseguido fazer no pais, tiveram um refluxo no segundo semestre de 2015 e recrudesceram no primeiro trimestre deste ano. Suas expressões foram cada vez mais radicalizadas, verbal e fisicamente, com agressões que manifestavam sua intolerância e seu ódio em relação a tudo que tenha que ver com a esquerda: a Dilma, o Lula, o governo, o PT, a cor vermelha.
Os dois eixos da campanha desestabilizadora da oposição têm sido o fracasso econômico do Brasil e a corrupção do PT. O Brasil não dá certo e tudo o que PT fez foi fraude, via corrupção. Tudo é manejado de forma a que a solução do pais seria alijar o PT, tanto com o impeachment da Dilma, como com a prisão do Lula.
Mas conforme os movimentos populares foram se recompondo e as denuncias do verdadeiro caráter da ofensiva conservadora contra todos os avanços sociais dos governos do PT, e como a tentativa de impeachment é de fato um golpe, foram se difundindo, a capacidade de reação e de mobilização dos setores democráticos foi se intensificando. Até ganhar proporções extraordinárias, como as atuais, combinando grandes marchas e concentrações de rua, manifestações dos mais variados movimentos da sociedade – de juristas a intelectuais, de artistas a religiosos, do hip hop às universidades, entre tantos outros.
No bojo dessas mobilizações e da consciência social que foi se difundindo, surgiu um outro lema – “Não vai ter golpe (Vai ter luta)”- com um diagnostico radicalmente diferente do que o pais está vivendo. Significa denunciar o objetivo central da direita e como todo tipo de impeachment contra a Dilma nao tem fundamento, levando a que se trate de tentativas de golpe.
Ao mesmo tempo, conforme a ânsia de assumir o governo pelo golpe, fez com que a direita fosse divulgando seu programa economico, confirmando que se trataria de uma brutal regressão social, retirando maciçamente direitos dos trabalhadores, revelando abertamente um revanchismo contra a massa pobre da população.
O “Não vai ter golpe” passou a sintetizar muitas coisas: que não vão derrubar a Dilma, que não vai haver retrocesso, que a mobilização popular se alastrou como ninguém imaginaria no Brasil de hoje, que um lema disseminado pelas manifestações e pela mídia alternativa, pode se tornar um grito generalizado no pais. Que é possível construir visões alternativas do pais, mesmo contra o massacre midiático dos monopólios privados de comunicação.
O Brasil que sairá da crise atual – talvez agora mesmo em abril – será um pais diferente. Nenhum pais vive uma crise profunda e prolongada como esta sem ser afetado no seu âmago por transformações irreversíveis. Uma delas é a capacidade de mobilização popular via organizações populares, meios alternativos de comunicação, lideranças populares com prestigio politico, e como essa combinação pode mudar corações e mentes dos brasileiros.
O “Não vai ter golpe” ja triunfou como lema e como visão da crise atual do Brasil. Calou os lemas das marchas da direita, reduziu seus porta vozes ao silencio, foi murchando sua capacidade de mobilização, promovendo as condições de uma solução positiva da crise.
Fonte: 247
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