EDUARDO
GUIMARÃES
Eduardo
Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
Na
semana passada, a democracia brasileira deu mais um passo para baixo após
declaração do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, que
qualificou como “torpe e indigna” uma fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva em conversa privada, obtida e divulgada de forma ilegal pelo juiz Sergio
Moro.
Antes
de prosseguir, vale abordar informações divulgadas nesta segunda-feira (21)
pela colunista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, que explicam por que os
grampos encomendados por Moro contra Lula e a presidente Dilma Rousseff são
ilegais e imorais.
O
ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no STF, segundo a
colunista teria “feito críticas ao juiz Sergio Moro com outros colegas”.
Segundo ela, “o comportamento do juiz em alguns episódios tem merecido
ressalvas também de outros magistrados”.
Além
de Marco Aurélio Mello, que condenou a condução coercitiva de Lula para prestar
depoimento, segundo Bergamo “a ministra Cármen Lúcia, de forma mais moderada,
também já opinou que tal medida só seria cabível a investigados já intimados e
que se negaram a comparecer. O que não era o caso do ex-presidente”.
Dois
outros ministros também teriam dito que “o uso dos grampos autorizados por Moro
em Lula aparentemente não seguiu rigidamente as regras”. Esses ministros também
teriam dito que “a lei de interceptações telefônicas diz que todo e qualquer
diálogo de um investigado que não contenha indício de crime deve ser destruído
por determinação da decisão judicial”.
A
tese desses ministros – que seria majoritária no Supremo – é a de que a lei
para medida como interceptação telefonônica deve ser seguida à risca, já que a
quebra do sigilo está prevista exclusivamente para a investigação de crimes e
não para devassar a intimidade do investigado.
Ao
levantar o sigilo de todas as gravações telefônicas, inclusive de conversas
familiares, Moro divulgou até mesmo diálogo de Marisa Letícia com um de seus
filhos, Fabio, xingando os panelaços.
Um
dos ministros que opinaram sobre o grampo com a coluna de Monica Bergamo afirma
que, ao interceptar conversa com Dilma Rousseff, que tem foro privilegiado,
Moro deveria ter enviado o conteúdo ao STF (Supremo Tribunal Federal), sob
sigilo, para que a corte então examinasse se houve tentativa de obstrução da
Justiça.
“O
magistrado se apossa do sigilo para investigar, e não para fazer divulgação ou
qualquer ato político”, teria afirmado o ministro em questão.
Eventuais
irregularidades na captação das conversas podem gerar, inclusive, nulidades,
diz o outro ministro com quem a coluna conversou. Segundo ele, é preciso
redobrar o cuidado em casos de quebra de sigilo de cidadãos investigados, para
evitar abusos.
Essas
ponderações vêm a calhar para analisarmos uma reação estarrecedora à declaração
de Lula ao telefone, em conversa privada, no sentido de que o STF estaria
“acovardado”. O ministro do STF Celso de Mello afirmou que essa opinião do
ex-presidente seria uma “reação típica de mentes autocráticas e arrogantes”.
A
atitude do ministro Celso de Mello de responder a Lula sobre o que o
ex-presidente disse em privado – e que foi divulgado graças a uma ilegalidade
-, portanto, vai se mostrando um absurdo. Em vez de Mello atacar as
ilegalidades envolvidas na escuta, responde a uma declaração feita na
intimidade, o que é perturbador porque sugere que indivíduos não podem nem mais
externar opinião em conversa privada.
Coisa
de Estado policial. Absurdo capaz de surpreender até George Orwell.
Seja
como for, a opinião de Lula quanto ao comportamento do STF, sobre a corte estar
acovardada diante da mídia e de seu apoio à Lava Jato, não é uma opinião
isolada e tampouco inédita. Há uns bons anos o presidente daquela Corte disse
mais ou menos a mesma coisa.
Em
30 de agosto de 2007, a Folha de São Paulo publicou matéria de primeira página
contendo um relato virtualmente estarrecedor. A repórter do jornal Vera
Magalhães ouviu telefonema de cerca de dez minutos feito pelo então ministro do
STF Ricardo Lewandowski dois dias antes, em 28 de agosto daquele ano, por volta
das 21h35.
Lewandowski
jantava, acompanhado, no então recém-inaugurado restaurante Expand Wine Store
by Piantella, na Asa Sul, em Brasília. Apesar de ocupar uma mesa na parte
interna do restaurante, o ministro preferiu falar ao celular caminhando pelo
jardim externo, que fica na parte de trás do estabelecimento, onde havia mesas
– entre elas, uma estava ocupada pela repórter da Folha, a menos de cinco
metros de Lewandowski.
Naquela
oportunidade, Lewandowski reclamou de suposta interferência da imprensa no
resultado do julgamento que decidiu pela abertura de ação penal contra os 40
acusados de envolvimento no mensalão. “A imprensa acuou o Supremo”, avaliou
Lewandowski para um interlocutor de nome “Marcelo”. “Todo mundo [no STF] votou
com a faca no pescoço”.
Confira,
abaixo, a matéria completa, divulgada em 30 de agosto de 2007. Após a
reprodução do texto, confira a pergunta que não quer calar sobre esse episódio.
Pode-se
dizer, portanto, que aquele ministro do STF bisbilhotado pela Folha lá em 2007,
e que hoje preside aquela Corte, afirmou a mesma coisa que Lula, que o Supremo
tem o péssimo hábito de se “acovardar” diante da imprensa. Será que o ministro
Celso de Mello diria sobre Lewandowski a mesma coisa que disse sobre Lula?
Fonte: brasil247
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do BVO - Blog Verdades Ocultas. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Blog Verdades Ocultas para saber o que é impróprio ou ilegal.