Carlos Lima, da Lava Jato, em palestra na AMCHAM |
O
procurador Carlos Fernandes dos Santos Lima, membro da força-tarefa da Operação
Lava Jato, deu uma palestra na manhã desta quinta-feira (30) sobre as famosas
10 medidas para combater a corrupção.
Ele
falou por mais de uma hora na AMCHAM Brasil, em São Paulo. “O nosso trabalho é
criticado e eu estou aqui para ouvir todas as perguntas, de forma democrática”,
afirmou.
Com
37 anos de experiência, Lima contou que a real inspiração da Lava Jato foi o
caso Banestado, que ganhou fama em 2003 ao trazer a primeira delação premiada
de Alberto Youssef antes de envolver a Petrobras. O caso envolvendo o Banco do
Estado do Paraná teria gerado prejuízos de cerca de R$ 42 bilhões.
“O
Banestado foi a operação que criou o modelo da Lava Jato. Nós nos inspiramos na
Justiça norte-americana ao trazer o método de delações premiadas naquela
ocasião. A ideia era justamente que o acusado fizesse uma confissão de crime
que atinja corruptores maiores para atenuar sua punição”, falou.
É
uma versão diferente da de Sergio Moro, segundo o qual a investigação foi
inspirada na Operação Mãos Limpas da Itália.
Numa
reportagem divulgada pela revista Istoé, ele é descrito como uma “raposa no
galinheiro” pelo fato de sua esposa ter trabalhado naquele banco. Ele também
teria engavetado a investigação para a CPI na época, que poderia incriminar o
economista Gustavo Franco, o ex-prefeito falecido Celso Pitta, num total de 91
indiciados.
“A
história da revista é uma mentira absoluta. Minha esposa era escriturária do
Banestado, sem nenhum cargo de gestão, eu processei a Istoé e ganhei. No
entanto, como eles estão em recuperação judicial, eu não vi a cor do dinheiro
até hoje. Acredito eu que a matéria foi publicada por interesses dos próprios
integrantes da CPI. Na época, o governo Fernando Henrique Cardoso estava com o
dólar em alta, assim como hoje, e existia uma pressão para abafar as
investigações”, disse ao DCM.
Ele
afirma que a cultura europeia, raiz do Direito brasileiro, não costuma ver com
bons olhos o uso de depoimentos de delatores para punição de crimes. No
entanto, Carlos Lima acredita que esta é a única forma efetiva de punir
adequadamente grandes esquemas de corrupção, e não vê problema num criminoso
receber uma pena menor em nome de punições “mais justas” para os políticos
beneficiados com propinas e caixas dois.
“O
juiz [Sergio Moro] divulgou os grampos envolvendo o ex-presidente Lula e a
presidente Dilma na Lava Jato por decisão dele, mas é importante salientar que
essa publicidade aconteceu a pedido do próprio Ministério Público. Além disso,
a Polícia Federal selecionou as gravações. A responsabilidade é de cada um de
nós”, frisou.
O
procurador afirma que tem formação de esquerda e que seu pai foi deputado no
Paraná durante a década de 1970. “Ele chegou a hipotecar a própria casa e
desistiu da política pelo custo. Por isso, eu te pergunto: se é tão cara a
candidatura de governantes, não é melhor que tudo seja investigado e
esclarecido?”.
Carlos
Lima diz que mudou de mentalidade ao estudar crimes do colarinho branco na
Cornell Law School, nos Estados Unidos.
Ele
disse que votou em Brizola e Lula e fez um elogio aos governos petistas sobre a
atuação da própria Justiça. Para o procurador, graças à autonomia concedida
pelas gestões federais, seu trabalho foi executado com mais independência e
teria retornado cerca de R$ 4 bilhões de corrupção da Petrobras aos cofres
públicos na Lava Jato. Carlos Lima também não espera que um governo Michel
Temer vá abafar as investigações, o que seria um retrocesso.
Questionado
sobre o prêmio que Sergio Moro recebeu da Rede Globo e sobre as participações
do juiz em eventos do LIDE, grupo de empresários do tucano João Doria, ele
afirma que a atitude é normal e que não configura conflito de interesses. Lima
também não acredita numa partidarização da Lava Jato e acha que essas insinuações
são realizadas por “blogs políticos” que fazem “acusações irresponsáveis”.
“Eu
acredito na independência do juiz Moro. Hoje em dia as pessoas vêm qualquer
coisa publicada e tomam como verdade”, diz.
Para
o procurador, a condução coercitiva com Lula foi uma atitude calculada com o
objetivo de “proteger a população”: “Se soubesse do que ia acontecer, acredito
que o ex-presidente estaria ‘regendo’ sua própria militância da sacada do seu
apartamento, provocando o caos. A Lava Jato se destaca por uma atuação pública
que não compromete suas investigações”.
Carlos
Lima diz que a prática de vazar dados para veículos de imprensa é um método
oficial da operação e que apenas é mantido em sigilo informações que podem
comprometer familiares inocentes dos acusados. “Estamos vivendo tempos de ódio
e é fundamental ter diálogo nestes momentos. O sigilo estabelecido na Lava Jato
é apenas o necessário e a devida publicidade do processo é realizada”.
O
procurador diz também que um pedido de prisão pode ser expedido para os
acusados nos próximos dias. “Para o Lula?”, perguntaram os repórteres.
O
procurador preferiu não confirmar, alegando que é necessário trabalhar de
maneira justa e não fornecendo nenhum prazo para tal atitude. Para ele, Moro
tem autonomia no processo.
“O
que não podemos fazer é sempre jogar os crimes para o Supremo. Eles são um
tribunal formado por constitucionalistas. Não tem experiência penal e esses
casos de corrupção deveriam sim ter uma punição mais adequada em processos em
primeira instância”.
Fonte:
diariodocentrodomundo
1 Comentários
Alguém tem de jogar toda essa porcaria no ventilador!!
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