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“Golpes de estado mudaram seus métodos”, diz jornal alemão Die Zeit sobre a crise no Brasil

FOTO: INTERNET

O jornal alemão Die Zeit fez um perfil de Dilma e o atual momento político brasileiro. Alguns trechos:

A presidenta brasileira acredita que seu país entrou em muito mais que uma confusão democrática plenamente normal. É bem verdade: nas últimas duas semanas, o Brasil entrou em um tumulto político raramente visto em qualquer parte do mundo – com um escândalo de escutas, manifestações populares, confissões sobre a corrupção desenfreada da elite política e um ex-presidente caçado por um juiz de instrução.

O problema imediato de Rousseff é um processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Na semana passada, uma comissão parlamentar foi formada para decidir se a Presidenta deve ser retirada do poder por causa de má conduta. Em meados de abril o grupo deve chegar a uma conclusão, e é um processo cheio de absurdos. A comissão está cheia de inimigos políticos de Rousseff e não congrega, de maneira alguma, o que poderíamos chamar de boa sociedade: cerca de um terço dos deputados tem a polícia ou alguma comissão de investigação em seu encalço por conta de corrupção ou outros delitos. Um dos integrantes já foi procurado pela Interpol.

O chefe dessa comissão, um fanático religioso e mestre na intriga política de nome Eduardo Cunha, foi mencionado em uma série inteira de investigações criminais. Entre outros, ele possui contas secretas completamente obscuras na Suíça. “Ele foi indiciado pela polícia, mas não é nem mesmo investigado”, salienta Dilma Rousseff. Ela teria sido chantageada pelo político de oposição Cunha. A ideia: se o governo não deixar de lado as investigações contra mim, eu derrubo a presidenta.

“Eu não utilizei uma única vez o poder do governo para dar benefícios a alguém que não lhe coubessem”, diz Rousseff, e aqui sua voz aumenta de volume, seus olhos ficam maiores e seu dedo indicador perfura o ar com movimentos vigorosos. “Eu dei preferência aos mais pobres desse país. Eu dei algo aos que são mais fracos.”

De fato, Dilma é considerada amplamente como insuspeita de corrupção e, com isso, ela é uma exceção na política brasileira. Ela está sendo processada por conta de um detalhe técnico: em seu primeiro mandato, antes de sua reeleição em outubro de 2015, ela teria calculado o Orçamento estatal de maneira irregular. Todos no Brasil sabem que não se trata disso. Mas, de novo: um golpe de Estado?

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Os grandes meios de comunicação do país, especialmente a gigante de televisão e revistas Globo, fizeram apelos por manifestações contra a presidência e colocaram Lula da Silva e Dilma Rousseff como uma espécie de chefes mafiosos. Quando, na semana passada, uma batida policial na maior empreiteira do país fez surgir uma lista de políticos, dos quais muitos abertamente teriam sido subornados, a cobertura midiática foi visivelmente diminuída. Na lista estavam também muitos políticos da oposição.



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Dilma Rousseff permanece sentada, em pose combativa. Por vezes ela está irritada, por vezes ela detalha sua defesa, às vezes ela ri em voz alta. “Não é agradável ser o objeto de tais abusos”, diz ela, “mas eles também não me derrubam. Eu não sou uma pessoa com tendência para a depressão. Se eu soubesse, que tinha culpa [no caso de corrupção, ndr], aí eu estaria deprimida.”

Sua postura nessa situação é simples: resistir! Nunca desistir! Isso é uma retórica de esquerda bem conhecida, associada a uma dose de teimosia pessoal. Ambos têm a ver com os velhos tempos de Rousseff.



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E o que fazer contra essa extrema polarização do país, pela qual ambos os campos políticos se insultam de maneira desoladora? Qual é agora a tarefa de uma presidenta, que em pesquisas tem uma aprovação de onze por cento da população? Como o povo pode unir-se e, com isso, conseguir novamente a base para um bom funcionamento da democracia?

Aí a resposta de Rousseff é digna de nota e ainda mais longa que as outras. A crise de confiança causa preocupações, sim. Pois isso é base para brotarem desejos de “salvadores da pátria” autoritários. Ela fala sobre as dificuldades que o sistema político no Brasil lhe causou, que uma quantidade enorme de partidos políticos surgiu, com os quais é necessário estabelecer coalizões. Ela fala sobre seu antigo plano de reforma da Constituição para superar esse problema. Ela fica mais uma vez zangada com o planejado “golpe de Estado” e diz que tumultos como esse têm também impacto ruim na economia. Ela fala da crise da seca em partes de seu país e do orçamento estatal, da profunda crise econômica e da conjuntura que apenas lentamente melhora.

Há muito de certo nisso. Uma resposta direta à pergunta, no entanto, isso não é. Mais fácil lançar um olhar para fora do palácio presidencial sobre um povo sem rumo. E a perspectiva de uma experiente combatente, que agora se entrincheira para sua grande batalha: duas metades do Brasil colidem no centro do poder em Brasília. De um lado: o movimento de Rousseff com suas conquistas, seus avanços em benefício dos pobres. Do outro, poderes mais obscuros, que, de acordo com Rousseff, enganam o povo, justamente porque não querem esses avanços.


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