Artigo
publicado pelo "filósofo" Luiz Felipe Pondé nesta segunda-feira
representa a quintessência do pensamento reacionário; segundo ele, o Partido
dos Trabalhadores, criado por Luiz Inácio Lula da Silva no calor das greves do
ABC, deveria voltar para o chão de fábrica, "de onde nunca deveria ter
saído"; por essa mesma lógica perversa, o escravo nunca deveria ter saído
da senzala, a mulher nunca deveria ter saído da cozinha, o gay nunca deveria
ter saído do armário e o porteiro de Danuza Leão nunca deveria ter ido a Paris;
tão ou mais do que a crítica à corrupção, é essa mentalidade egoísta que hoje
alimenta o discurso do ódio ao PT
Um
artigo publicado pelo "filósofo" Luiz Felipe Pondé, na Folha de S.
Paulo (saiba mais aqui), serviu para escancarar a mecânica do pensamento
reacionário. "Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive
seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca
deveria ter saído", disse ele.
O
PT, como se sabe, nasceu no calor das greves de metalúrgicos do ABC, em 1980,
quando o então operário Luiz Inácio Lula da Silva liderava multidões nos
comícios da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP). Chegou ao poder em
2002 e representa a mais bem-sucedida experiência de construção de um partido
de massas, na segunda metade do século XX. Desde então, o PT governa um país
continental e, hoje, acumula ainda cinco governos estaduais e mais de 700
prefeituras.
Segundo
Pondé, no entanto, é hora de voltar para o chão de fábrica, de onde o partido
nunca deveria ter saído. Afinal, trabalhador tem que obedecer. Operário não
pode ser patrão.
Esse
lógica perversa permite que algumas perguntas sejam feitas ao filósofo:
1)
será que os negros deveriam voltar para a senzala, de onde nunca deveriam ter
saído?
2)
será que as mulheres deveriam voltar para a cozinha, de onde nunca deveriam ter
saído?
3)
será que os gays deveriam voltar para o armário?
4)
será que os palestinos deveriam aceitar a opressão imposta por Benjamin
Netanyahu?
A
ordem social expressa por Pondé é avessa ao conceito de igualdade. Lembra até o
pensamento da ex-colunista Danuza Leão, que disse que Paris perdeu a graça
depois que ela descobriu que seu porteiro também podia visitar a cidade-luz
(relembre aqui o caso).
Aliás,
mais uma pergunta: o porteiro de Danuza deveria voltar para a guarita, de onde
nunca deveria ter saído?
Esse
tipo de discurso, tão ou mais do que o repúdio à corrupção, é o que alimenta a
pregação do ódio a um partido político. Como expressou o cientista político
André Singer em entrevista publicada neste fim de semana, há um fenômeno a ser
estudado no Brasil: a rejeição da elite ao povo brasileiro.
Fonte:brasil247
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