Da esquerda para a direita: Helenira Resende, Aurora Maria Nascimento Furtado, Soledad Barrett, Dinalva Oliveira Teixeira, Isis Dias de Oliveira, Ana Rosa Kicinski Silva |
Há
pouco mais de um ano, o mesmo Jair Bolsonaro que exaltou a tortura no último
domingo (17) banalizou o crime de estupro no Salão Verde da Câmara Federal ao
atacar a colega parlamentar Maria do Rosário afirmando que ela “não merece ser
estuprada” por “ser feia”. Desta vez o alvo foi a presidenta Dilma Rousseff,
contra quem ele não poupou crueldade ao exaltar um dos mais temidos torturador
das Américas, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Por
Mariana Serafini
A
reação nas redes sociais foi imediata, e os usuários do Twitter somaram
esforços com a hashtag #EmMemóriaDelas para contar as histórias de cada uma das
mulheres torturadas e assassinadas na ditadura militar. Todas vítimas desta
atroz homenagem de Bolsonaro ao ex-chefe do Doi-Codi.
Ustra,
conhecido nos anos de chumbo como o “Dr. Tibiriçá”, chefiou o Doi-Codi entre
1970 e 1974, neste período matou 60 pessoas e torturou mais de 500, entre elas,
a atual presidenta do país.
A
Tag #EmMemóriaDelas busca contar a história das mulheres que no auge da
juventude entregaram a vida para defender a liberdade e a justiça quando nosso
país passava por um dos momentos mais sombrios de sua história. Entre elas,
Helenira Resende, Aurora Maria Nascimento Furtado, Soledad Barrett, Dinalva
Oliveira Teixeira, Isis Dias de Oliveira, Ana Rosa Kicinski Silva e muitas
outras.
Em
memória delas e tantas outras
Helenira
Resende foi militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desapareceu em
1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos. Presa em uma emboscada
depois de ser metralhada nas pernas, foi presa, torturada e morta, sem entregar
nenhum de seus companheiros de luta. Aurora Maria Nascimento Furtado era ativa
militante do movimento estudantil nos anos 1967–68, estudava psicologia na USP
e atuava na imprensa da UNE. Seu corpo foi encontrado crivado de balas em uma
rua no Rio de Janeiro. Em uma primeira necropsia a causa da morte foi
“ferimentos penetrantes na cabeça”. Porém a família conseguiu uma nova
negrópsia do IML que constatou inúmeros sinais de torturas, como queimaduras,
cortes profundos e hematomas generalizados; um afundamento no crânio de cerca
de 2 centímetros, afundamento no maxilar, um corte do umbigo à vagina, fratura
externa num dos braços os seios dilacerados e um olho saltado.
Soledad
Barret foi uma militante comunista paraguaia que viveu no Brasil e militou na
Vanguarda Popular Revolucionária. Casada com o Cabo Anselmo, um militar
infiltrado, ela foi entregue por ele à repressão. Ele sabia que ela esperava um
filho dos dois. Foi presa, barbaramente torturada e morta. Antes do Brasil,
Soledad viveu no Uruguai, onde nazistas a torturam e fizeram duas marcas
enormes de suásticas em suas pernas. Neste período ela se refugiava com a
família da ditadura de Alfredo Stroessner no Paraguai.
Notícia sobre a tortura sofrida por Soledad Barret em jornal uruguaio |
Dinalva
Oliveira Teixeira, a Dina, também foi militante na Guerrilha do Araguaia.
Formada em Geologia pela Universidade Federal da Bahia, participou ativamente
do movimento estudantil e realizou trabalhos sociais em favelas do Rio de
Janeiro. Presa na base de Xamboiá, foi torturada durante duas semanas e não
entregou nenhuma informação ao Exército. Antes de ser assassinada perguntou
várias vezes ao seu executor: “vou morrer agora?”. Escolheu morrer de frente,
encarando-o nos olhos. Seu corpo nunca foi encontrado.
Isis
Dias de Oliveira era estudante de Ciências Políticas na USP, mas não conseguiu
concluir o curso, em 1972 foi presa e levada ao Doi-Codi, nunca mais foi vista
pelos familiares e amigos. Ana Rosa Kucinski integrou a ALN na clandestinidade.
Graduada em química e doutora em filosofia foi uma das mais jovens professoras
do Instituto de Química da USP. Em 22 de abril de 1974, após sair do trabalho
para encontrar o marido na Praça da República, no centro da capital paulista,
para um almoço em comemoração aos 4 anos de casamento, os dois foram presos e
nunca mais foram vistos. Em 2012 o torturador confesso Cláudio Guerra afirmou
que os corpos de Ana e seu marido foram incinerados no forno da Usina
Cambahyba, no Rio de Janeiro, junto com outros presos políticos. Ela tinha
marcas de mordias, provavelmente foi abusada sexualmente. O marido não tinha
unhas na mão direita.
Do
Portal Vermelho
Fonte:
vermelho
1 Comentários
É uma lástima estarmos revivendo este período nos dias de hoje por conta de um fascista e de um golpe de estado.
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