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Kaefer no momento decisivo e no álbum de família com a filha Alessandra e a esposa Clarice; ambas foram acusadas pelo juiz Pedro Ivo de serem “testas-de-ferro” do deputado |
Por
Luiz Carlos Azenha
Ele
teve a fama de ser “o deputado federal mais rico do Brasil” por causa da declaração de patrimônio que fez à Justiça Eleitoral antes das eleições de 2014.
No
entanto, àquela altura seu império empresarial estava falido.
No
início de 2013, um episódio espantoso marcou os moradores de Capanema, no
interior do Paraná, onde ficam granjas fornecedoras do Grupo Diplomata, de
Alfredo Kaefer.
Galináceos
famintos, logo taxados de “canibais”, passaram a ciscar livremente quando o empresário
ficou sem dinheiro para alimentar cerca de 500 mil frangos em sua cadeia
produtiva.
O
mesmo aconteceu em Xaxim, Santa Catarina (ver vídeo no pé do post).
O
jornalismo bovino não se deu ao trabalho nem de ler detidamente a declaração de
patrimônio do tucano, que fornecia pista decisiva: lá está registrado que, dos
R$ 108 milhões de patrimônio que Alfredo Kaefer declarou, R$ 69 mi eram em
créditos a receber pela transferência de ações à esposa Clarice.
Um
indício de transferência de patrimônio para escapar dos credores.
OS
REIS DO FRANGO
A
família Kaefer é gaúcha, mas migrou para o Paraná. Dela fazem parte empresários
de sucesso, como Velci e Roberto Kaefer, donos da Globoaves. Eles enriqueceram
com a expansão repentina das exportações brasileiras de carne de frango e a
conquista de novos mercados.
Alfredo
foi o único que enveredou pela política partidária, depois de uma história
empresarial repleta de episódios obscuros.
Nos
últimos meses, o deputado vestiu verde-amarelo para frequentar manifestações
pró-impeachment.
Mais
recentemente, depois que tornou-se líder do PSL no Congresso, ajudou a
articular uma frente com outros partidos nanicos — PTN, PHS, PROS e PEN — para
dar votos à iniciativa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de golpear Dilma.
No
momento decisivo, 17 de abril, votou “pela liberdade, pela democracia, por um
futuro melhor”, em honra do povo do Paraná e “das pessoas de bem que querem
tirar uma oligarquia instalada nesse poder”. Referia-se, logicamente, à
oligarquia do PT.
Kaefer
foi muito aplaudido e disseminou nas redes sociais fotos registrando suas
aparições nas transmissões de várias emissoras de TV. O auge da atuação
parlamentar dele, ironicamente, veio quase junto com a falência empresarial.
FUGA
RUMO À POLÍTICA?
Jacob
Alfredo Stoeffels Kaefer é deputado federal em terceiro mandato.
Teve
82.554 votos em 2014. Declarou gastos de mais de R$ 4,7 milhões.
R$
1 milhão foi em dinheiro pessoal doado à própria campanha. Outros R$ 700 mil
vieram de empresas dos parentes da Globoaves. Outro milhão veio da Pluma Agro
Avícola. A Dial Distribuição e Logística entrou com mais de R$ 1,2 milhão. Ou
seja, o terceiro mandato foi majoritariamente bancado por gente muito próxima.
Mas
pelo menos Kaefer conseguiu evitar o vexame de 2010, quando o Grupo Diplomata
doou diretamente à campanha dele R$ 1,6 milhão, com registro na Justiça
Eleitoral.
Causou
mal estar entre os funcionários. Na época, ex-funcionários tinham descoberto
que empresas do grupo tinham deixado de depositar no Fundo de Garantia — em
alguns casos, desde 2009.
Fã
de Fernando Henrique Cardoso, Alfredo chegou a fazer parte da Executiva
Nacional do PSDB antes de mudar para o pequeno Partido Social Liberal (PSL),
por se julgar desprezado pelo governador tucano do Paraná, Beto Richa, depois
de se reeleger em 2014:
Foi
uma decisão difícil. Sempre fui companheiro de primeira ordem do governador
Beto Richa, desde os tempos em que era prefeito de Curitiba. Fui um dos
articuladores para que disputasse a eleição para o governo do estado em 2010.
Construí bases eleitorais no oeste, sudoeste e noroeste do estado que
trabalharam com afinco para elegê-lo, e fui relegado a segundo plano assim que
ele assumiu. Mesmo assim continuei dando total apoio ao seu governo. Em 2014
novamente trabalhei para que fosse reeleito e mais uma vez fui deixado de lado.
Se
deixou de fazer parte de um partido importante, tornar-se líder do PSL deu a
Kaefer um protagonismo inusitado. Foram dias em que ele, apesar de discreto,
teve a maior projeção midiática de seus dez anos de Parlamento.
Por
exemplo, o deputado paranaense teve o direito de discursar como liderança horas
antes da votação em que foi aberto o processo contra Dilma.
Não
desperdiçou a chance de detonar o PT:
Destruíram-se
os fundamentos econômicos, em que o zelo fiscal foi totalmente abandonado,
repercutindo a incerteza do mercado, que, como consequência, freou
investimentos, cortou perspectivas, reduziu o consumo e a demanda, levando
empresas a fazerem cortes, que refletiram em fechamento de negócios, comércios,
fábricas e serviços, tendo como consequência a perda de milhares e milhares de
empregos.
Para
quem conhecia nos bastidores as agruras do empresário Kaefer, ficou no ar a
sugestão de que ele estava atribuindo seu fracasso empresarial à má gestão
econômica do PT.
Como
veremos abaixo, não é exatamente o caso.
KAEFER
COMO OLIGARCA
Oligarquia
é “governo de poucos”. Se existe uma que dita as regras no Brasil, o deputado
federal é certamente parte dela.
Em
seu discurso na Câmara, o deputado condenou a gestão econômica de Dilma, mas o
mesmo pode ser dito sobre a atuação dele como empresário.
Kaefer
é réu no Supremo Tribunal Federal por crimes contra o sistema financeiro,
dentre eles o de gestão fraudulenta.
Os
crimes teriam sido cometidos em 2000, no governo FHC, portanto bem antes de o
PT “falir” o Brasil.
Ele
era presidente do conselho de administração da Sul Financeira e foi investigado
por deixar de declarar ao Banco Central que a empresa de crédito tinha
patrimônio de R$ 4,5 milhões e dívidas de R$ 72 milhões, com isso evitando a
intervenção do BC.
Na
mesma época, a Sul Financeira é suspeita de ter feito empréstimos a empresas do
Grupo Diplomata com a intenção de mascarar dívidas.
Quando
concorreu pela primeira vez à Câmara Federal, em 2006, Kaefer já era
investigado pelos crimes acima descritos.
Diplomado,
passou a ter foro privilegiado.
A
ironia é que ele pode ter se utilizado do subterfúgio que o partido dele, o
PSDB, atribui ao ex-presidente Lula.
Em
agosto de 2007, ano do primeiro mandato de Kaefer na Câmara, o processo 2589, originário do Rio Grande do Sul, passou a tramitar no STF..
O
deputado só se tornou réu em setembro de 2014, mais de sete anos depois, quando
uma das acusações já tinha prescrito.
Trecho
do relatório do ministro Luiz Fux, ao acatar a denúncia, diz:
4. In casu, a denúncia imputa ao denunciado a
suposta prática dos delitos de (i) prática de gestão fraudulenta, uma vez que,
na condição de Diretor-Presidente do Conselho de Administração da SUL
FINANCEIRA, autorizou a emissão de cartas-fiança para garantir a utilização de
créditos tributários vendidos à LEWINSTON IMPORTADORA S/A, sem proceder aos
devidos registros contábeis (art. 4º da Lei nº 7.492/86); (ii) induzir a erro e
prestar informação falsa à repartição competente, em virtude da apresentação,
por parte da SUL FINANCEIRA, de contrato de mútuo diverso daquele em que
assumiu obrigações efetivas junto a terceiros para fins de saneamento
patrimonial exigido pelo Banco Central (art. 6º da Lei nº 7.492/86); e (iii)
tomada de empréstimos vedados, porquanto a SUL FINANCEIRA realizou operações de
desconto de títulos à DIPLOMATA INDUSTRIAL E COMERCIAL LTDA, empresa cujo
controle acionário era exercido pelo ora denunciado, bem como firmou empréstimo
com a mesma DIPLOMATA INDUSTRIAL, valendo-se de pessoa jurídica interposta MRK
REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS LTDA, incorrendo os representantes legais da
instituição financeira, o que inclui o denunciado, no delito do art. 17 da Lei
nº 7.492/86.
5.
O crime de prestação de informação falsa ao Banco Central, que teria sido
praticado entre 2000 e 2001, já se encontra prescrito, considerado o lapso de
mais de 12 anos decorridos desde os fatos narrados na denúncia, que é o prazo
prescricional estabelecido no art. 109, III, do Código Penal para a pena máxima
cominada em abstrato ao delito tipificado no art. 6º da Lei 7.492/86.
6.
A denúncia preenche os requisitos formais do art. 41 do Código de Processo
Penal, relativamente aos crimes de gestão fraudulenta (art. 4º) e concessão de
empréstimo vedado (art. 17), todos da Lei nº 7.492/86 (Lei de crimes contra o
sistema financeiro nacional).
Deveras,
in casu:
a)
ao contrário do que a defesa alegou em sua resposta preliminar, não se pode
afirmar que o parlamentar foi denunciado meramente por ocupar a condição de
sócio ou que estivesse destituído de qualquer poder de tomada de decisão na SUL
FINANCEIRA.
Registre-se
a segunda ironia: a defesa alega que Kaefer, por ser sócio da financeira, não
era necessariamente sabedor ou autor das decisões da empresa.
Porém,
ele corre o risco de ser alcançado pela mesma teoria do domínio do fato que
levou petistas à cadeia no julgamento do mensalão.
O
inquérito corre no STF há mais de oito anos, ainda sem solução.
O
EMPRESÁRIO AFUNDA, O DEPUTADO SOBREVIVE
Em
2009, a financeira do deputado Kaefer foi oficialmente enterrada com uma dívida
de R$ 100 milhões.
Ainda
não ficou claro qual era exatamente a contaminação das outras empresas do grupo
pela crise.
Houve
atrasos no pagamentos de salários e de fornecedores, greves e protestos até
que, em agosto de 2012, o Grupo Diplomata pediu recuperação judicial.
Kaefer
causou um pequeno escândalo em 2014, quando alegou que precisava de
“assistência judiciária integral e gratuita” para não pagar R$ 910 das custas
de um processo.
Ao
negar o pedido, a juiza Gabrielle Britto de Oliveira, de Cascavel, escreveu:
“Não
é crível que o embargante [Alfredo Kaefer], com patrimônio declarado de mais de
100 milhões de reais, teria sua situação financeira abalada pelo pagamento das
custas do processo. Seria, no mínimo, total falta de bom senso acreditar nisso.
A fim de justificar o requerimento para concessão do benefício, o embargante
alega que, na condição de avalista dos contratos de sua empresa, vem sofrendo
diversas cobranças judiciais tendo que arcar com muitas custas processuais.
Aduz, ainda, que a única renda que obtém é a do cargo público que ocupa e que o
pagamento destas custas importaria em um desequilíbrio financeiro que atingiria
a manutenção das necessidades da família”.
O
fato é que as empresas do deputado já estavam falidas. O que no Brasil não
significa, necessariamente, redução do patrimônio pessoal.
O
impressionante é que Alfredo Kaefer se reelegeu assim mesmo.
O
Grupo Diplomata teve a falência decretada oficialmente em Cascavel, no interior
do Paraná, em dezembro de 2014.
A
decisão do juiz Pedro Ivo Lins de Moreira, da Primeira Vara Cível, acompanhou
parecer do MPE do Paraná e baseou-se em auditoria da Administradora Judicial
Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda.
Segundo
a sentença, a falência alcançou as seguintes empresas:
Diplomata
S/A Industrial e Comercial, Klassul Industrial de Alimentos S/A, Attivare
Engenharia e Eletricidade LTDA, Jornal Hoje LTDA, Paper Midia LTDA, União Alfa
de Educação e Ensino Superior LTDA, Alfredo Kaefer & Cia LTDA, Super DIP
Distribuição e Varejo LTDA, RCK Comunicações LTDA, DIP Petroleo Distribuidor de
Combustíveis LTDA, Kaeman Agricola LTDA, Cizal Construções e Empreendimentos
LTDA, Boa Vista Agropecuária LTDA, Electryx Serviços Eletricos LTDA, Sul
Supercred Cia Securitizadora de Creditos Financeiros, West Side Shopping Center
LTDA, Diplomata Oeste Avicultura LTDA, Diplomata Cascavel Cereais LTDA,
Interagro Frigor, Ecco Nature Ambiental LTDA, Mineral Stone LTDA, KIT Trading
Comercial Exportadora LTDA, Dip Card Administradora de Cartões de Crédito LTDA,
DIP Flex Comércio de Combustíveis LTDA, Aeroporto Regional Oeste Paraná LTDA,
Interagro Indústria e Comércio LTDA e Kaefer International Trading.
O
juiz descreveu assim os principais dirigentes do Grupo Diplomata:
JACOB
ALFREDO STOFFELS KAEFER: verdadeiro “controlador” do conglomerado. Ao que tudo
indica, participou intensamente das principais operações societárias (inclusive
as fraudulentas), que importaram confusão, dilapidação e desvio patrimonial.
Enfim, não se comportou de acordo com a boa-fé, sobretudo quando criou,
paralelamente, pessoas jurídicas para absorver as atividades das Recuperandas.
Sua situação patrimonial atual, enquanto deputado federal “mais rico do Brasil”
revela-se incompatível com a do empresário em situação de crise.
CLARICE
ROMAN, na qualidade de companheira, sempre atuou ao lado do Sr. Alfredo,
figurando, inclusive, como “testa-de-ferro” em algumas sociedades. Participou
de várias operações que prejudicaram os credores. O mesmo pode ser dito com
relação a FREDERICO AUGUSTO CECCATTO KAEFER e ALESSANDRA CENIRA CECCATO KAEFER,
filhos do Sr. Alfredo Kaefer e, por isso, colocados na qualidade de sócios ou
administradores de algumas sociedades, sendo induvidoso que conheciam todo o
esquema. Além disso, suas autonomias patrimoniais podem estar sendo usadas para
ocultar bens de seu genitor.
A
falência do Grupo Diplomata foi decretada quando já corria no STF outro
inquérito contra o deputado Alfredo Kaefer, que começou a tramitar na Corte em
22 de março de 2013.
Leva
o número 3.678, está sob responsabilidade do ministro Marco Aurélio Mello e
apura a acusação de “crimes contra o patrimônio”.
Kaefer
teria praticado “ato fraudulento” com o potencial de prejudicar credores, “com
fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem”.
TERCEIRA
IRONIA: O MORO DE CASCAVEL
Em
outra ironia, Kaefer moveu uma queixa-crime contra o juiz Pedro Ivo, o Moro de
Cascavel, assim que a falência de suas empresas foi decretada.
Segundo
a defesa, o magistrado incluiu na sentença afirmações que seriam equivalentes a
chamar o deputado de “indivíduo de má-fe, caloteiro, fraudador, manipulador
desonesto, predador, empresário desonesto, ímprobo entre outras expressões”.
O
Tribunal de Justiça do Paraná rejeitou a queixa por unanimidade.
Numa
investigação paralela determinada pelo juiz, apura-se agora a venda, em 2009,
da Sul Financeira ao BicBanco, pelo valor irrisório de R$ 1. Isso mesmo, um
real.
No
documento oficial de venda, datado de 30 de outubro de 2009, Alfredo Kaefer
admite que a empresa tinha patrimônio líquido negativo superior a R$ 100
milhões.
Posteriormente,
foi apurado que a financeira tinha uma carteira de R$ 30 milhões “a receber”.
Escreveu
o juiz Pedro Ivo:
“Logicamente,
a cessão de carteira gera relevante impacto nos ativos a serem transferidos
para o BicBanco, que, por óbvio tinha plena ciência dos mesmos, já que não
consentiria com prejuízos da ordem de mais de R$ 30 milhões de reais, sobretudo
porque auditou as contabilidades e tinha plena ciência dos números envolvendo a
Sul Financeira. Ninguém ‘adquire’ uma Instituição Financeira sem realizar todos
os cuidados e diligências prévias”.
O
que se busca saber é se o negócio de um real de alguma forma prejudicou os
credores do Grupo Diplomata.
JORNAIS
COMO INSTRUMENTO DE RECEBER DINHEIRO PÚBLICO
Desde 25 de outubro de 2010, a empresa RCK Comunicações — que controla três diários em Cascavel e Umuarama –, está cadastrada na Secretaria da Comunicação do Paraná para receber publicidade oficial do governo Beto Richa.
Há
três aditivos que estenderam a vigência do contrato até 24 de setembro de 2015.
O
juiz Pedro Ivo também enveredou pelo assunto.
Ele
suspeita que as empresas tenham sido utilizadas para esconder dinheiro de
credores.
No
mês passado, o juiz condenou Emilio Martini, administrador das empresas de
comunicação do deputado e presidente do Instituto Alfredo Kaefer, a devolver R$
3 milhões à massa falida.
Trechos
da sentença.
“Fica
fácil perceber que o Grupo Kaefer se utilizava, sistematicamente, da sucessão
empresarial como forma de enganar seus credores e driblar os óbices do
inadimplemento, principalmente aqueles advindos de dívidas tributárias, pois
grande parte da receita dos jornais advinha de contratos de publicidade com
órgãos públicos”.
“Ora,
em um grupo econômico operado por uma cúpula de aproximadamente 15 pessoas e
cujas dívidas são superiores à 1,4 bilhão, dificilmente algum desses agentes
poderá alegar ignorância ou desconhecimento da crise financeira”.
“Em
breve resumo, viu-se que o requerido atuou e participou frente a gestão temerária
e desastrosa, descurou-se dos atos da boa administração, violou os deveres
decorrentes da socialidade e da boa-fé, não agiu de forma diligente e
cuidadosa, desviou-se da função social e das finalidades da empresa, foi
conivente com os encerramentos das firmas e com a criação de novos CNPJs em
manifesta sucessão irregular, sonegou tributos, malversou recursos, participou
de liberalidade, permitiu a promiscuidade patrimonial entre as empresas do
grupo, fraudou credores e prejudicou terceiros. Fez tudo isso visando
prestigiar, em última análise, interesses de particulares contrários à lei”.
Nada
disso tirou o entusiasmo do deputado Kaefer pela campanha do impeachment. Ele
participou de manifestações, vestiu verde e amarelo, posou para fotos nas ruas.
Na
Câmara, passou a vestir uma faixa fechada com um botom do “impeachment já”.
Compartilhou nas redes sociais fotos do “Tchau Querida” e do “Acabou a
Boquinha”.
O
ponto alto foi no 16 de abril.
Da
tribuna, em nome do PSL, Kaefer denunciou o que chamou de “estelionato” de
Dilma em 2014 e afirmou que a corrupção brasileira nasceu junto com o PT:
Mas
há algo grave que não se destruiu no País, ao contrário, cresceu, multiplicou e
evoluiu nesse passado recente, presente nos dias atuais, a corrupção que se
instalou no Poder da República e que vem de longe, do berço do PT. Originou-se
nas estruturas do partido para financiar, lá no começo de sua vida, a caminhada
da busca ao Poder. Nesse Governo, os princípios do poder precedem ao Governo e,
mais, precedem aos princípios do Estado que deveriam ser a essência da
realização política. A corrupção evoluiu neste País a tal tamanho que
desencadeou a maior ação policial e jurídica em curso na história, não a maior
no Brasil, mas a maior da história mundial. A corrupção político-institucional
e governamental serviu, sim, para financiar o poder, as campanhas, os
apadrinhados, grandes corporações, amigos do rei e da rainha.
Talvez
Kaefer tenha deixado escapar aqui um certo ressentimento, ao falar no
financiamento das “grandes corporações”. Ele acredita que seus negócios foram
prejudicados por empréstimos do BNDES a empresas concorrentes, sem que ele
tivesse o mesmo acesso?
Indiferente
ao repentino protagonismo do deputado na Câmara, o juiz Pedro Ivo continuou
trazendo à tona as práticas do empresário Kaefer em Cascavel.
Na
antevéspera do dia histórico, foi a vez do Moro de Cascavel condenar a filha do
deputado, Alessandra, a devolver aos credores cerca de R$ 400 mil que recebeu
indevidamente quando trabalhou no Grupo Diplomata.
Trechos
da sentença batem duro no deputado por supostamente driblar os credores quando
suas empresas estavam em recuperação judicial:
“O
controlador do Grupo Diplomata tinha o hábito de (ab)usar de suas empresas para
favorecer seu núcleo familiar. Um dos esquemas utilizados, era a nomeação,
contra legem, de filhos para o exercício do cargo de conselheiro fiscal”.
“No
contexto dos autos, resta muito claro que a eleição da ré para o cargo de
conselheira fiscal serviu como disfarce a fraude contra credores espelhada em
parte dos valores que o Sr. Jacob Kaefer desviava dos cofres da Diplomata S/A
em prol de sua filha”.
“Em
breve resumo, viu-se que a requerida: (i) além dos pró-labores, recebeu,
injustificadamente, valores mensais cujo somatório alcança R$ 54.237,78; (ii)
embora tenha prestado serviços até 2012, a forma de pagamento via pró-labore
era ilícita porque (a) a ré nunca desempenhou a função de conselheira fiscal;
(b) era meio de sonegação tributária; (c) os valores pagos a este título, além
de remunerar os serviços prestados, serviam de doação na parte excedente, de
modo a caracterizar fraude contra credores; (iii) reduziu o patrimônio da massa
falida em R$ 45.050,23, pois teve seu veículo particular pago com recursos da
empresa, em nítida confusão patrimonial e fraude contra credores”.
Aparentemente,
nada disso desanimou o deputado — nem a mãe de Alessandra.
Clarice
costuma postar provérbios no Facebook e, no dia em que foi aberto o processo de
impeachment de Dilma no Congresso, caprichou:
“Um
rei justo e honesto ajuda seu pais a crescer e viver em paz; o rei que quer
ficar rico às custas do povo acaba destruindo sua nação.” Proverbios 29:4
“O
mundo não é dos espertos. É das pessoas honestas e verdadeiras. A esperteza, um
dia, é descoberta e vira vergonha. A honestidade se transforma em exemplo para
as gerações do futuro. Um corrompe a vida; a outra enobrece a alma.”
Já
o deputado, depois de ser um dos líderes nanicos da campanha contra Dilma na
Câmara, parece voltado a promover “reformas estruturantes” no Brasil.
Ele
tem grande interesse nas questões tributárias.
Nas quatro propostas de emenda constitucional que apresentou, o deputado não nega
suas raízes tucanas.
Uma
delas propõe o fim do monopólio da União na operação de usinas nucleares — é a
privataria do átomo.
Outra
estabelece um teto para toda a arrecadação tributária nacional — 25% do PIB
nacional do ano anterior.
Como
se vê, de um lado o deputado Kaefer não é um grande fã da cobrança de impostos.
Por
outro lado, das sentenças do juiz Pedro Ivo, o Moro de Cascavel, se depreende
que o empresário Kaefer não gosta de pagar impostos.
Uma
combinação perfeita para quem agora está engajado na construção da “ponte para
o futuro”.
Abaixo,
os “frangos canibais” em ação:
Fonte:
viomundo
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