Ao
prestar depoimento hoje (31) na Comissão do Impeachment, o professor adjunto da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (RJ), Ricardo Lodi Ribeiro,
especialista em direito tributário e financeiro, segundo nome indicado para
fazer a defesa da presidenta Dilma Rousseff, afirmou que há “incongruências” no
pedido apresentado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína
Paschoal.
Dividindo
os assuntos por tópicos de acusação, Lodi Ribeiro disse que, enquanto os
juristas afirmam que as pedaladas fiscais foram constituídas por operações de
crédito, o que houve foi um “direito de crédito”. Para explicar a tese, o
professor citou o exemplo de um contrato de reforma residencial em que o
arquiteto entrega a obra no prazo, mas o contratante não paga no dia acertado.
“Se
não pagou o projeto entregue no prazo, o arquiteto tem direito de crédito, mas
isto não constitui uma operação de crédito”, afirmou, fazendo uma analogia com
os contratos da União com agentes financeiros públicos. Lodi alertou que a Lei
do Impeachment não tipifica como crime de responsabilidade a violação da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF). “O que se pune é o atentado à Lei do Orçamento,
que prevê receitas e despesas. A LRF estabele normas gerais sobre gestão do
orçamento. Além de não termos uma operação de crédito e uma violação à LRF, não
houve violação à Lei do Orçamento”, ressaltou.
O
especialista em direito afirmou que, das acusações elencadas no pedido, em
relação ao ano de 2015, “só restou um caso apontado na denúncia, que é o do
Plano Safra que não tem qualquer participação da presidente da República. É
inteiramente regulado pelo Conselho Monetário Nacional. A presidente não tem
competência para contrair operação de crédito nestes casos”, disse.
Créditos Suplementares
Ricardo
Lodi Ribeiro disse que criminalizar a gestão da política econômica “não é algo
que possa se compatibilizar com a Constituição Federal”. Ele lembrou que os
gestores precisam fazer escolhas difíceis em momentos de crise e, reiterando o
discurso do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que falou minutos antes do
especialista, lembrou que a abertura de crédito suplementar não significa
necessariamente aumento de despesas.
“A
aprovação da lei do orçamento inseriu, no Artigo 4, a autorização para abertura
de crédito suplementar condicionada ao superávit primário. Como orçamento
anual, só podemos verificar a ocorrência dessa condição [cumprimento ou não da
meta] ao final do exercício anual.”.
O
professor Lodi reconheceu que a LRF estabelece a entrega de relatórios
bimestrais sobre as contas do governo, mas reforçou que o cumprimento da meta,
ainda assim, só pode se confirmar no balanço final. Ele lembrou que foi o
Congresso Nacional que aprovou a proposta de lei encaminhada pelo governo
Dilma, em 2015, alterando a meta e admitindo déficit.
“O
Congresso aprovou o PLN, que reduziu a meta, admitindo déficit de até R$ 100
bilhões. No momento que o Congresso aprova lei alterando meta, aquela condição
prevista na Lei do Orçamento não será realizada. Não se pode afirmar que a meta
de 2015 não foi cumprida”, completou.
Deputados
governistas defendem que não há razões jurídicas para o processo de
impeachment, seguindo o mesmo tom adotado pela própria representada, que diária
ou semanalmente, desde que o pedido foi acatado na Câmara, tem repetido que não
renunciará e afirmado que não cometeu crime de responsabilidade. Ontem (30),
Dilma Rousseff participou de um evento no Palácio do Planalto e reafirmou que a
tentativa é golpe. “Estamos discutindo um impeachment muito concreto e sem
crime de responsabilidade”, afirmou a presidenta.
As
oitivas na Comissão do Impeachment foram resultado de um acordo entre líderes
partidários, que concordaram em convidar duas pessoas de cada um dos dois
lados, contra e em defesa do governo, para esclarecer posições. Na primeira
sessão de depoimentos, ontem, nomes indicados pela oposição falaram em meio a
uma sessão marcada por tumulto. Autores do pedido que resultou no início do
andamento do processo, os juristas Miguel Reale Jr. eJanaína Paschoal afirmaram
que as pedaladas fiscais são elementos suficientes para que a presidenta seja
processada por crime de responsabilidade.
Miguel
Reale Jr afirmou que Dilma feriu a Lei de Responsabilidade Fiscal ao retardar o
repasse de recursos para bancos públicos. A advogada rechaçou a classificação
de golpe, assegurando que a denúncia está bem caracterizada. Os depoimentos
terminaram em confusão, quando o presidente da comissão, Rogério Rosso, decidiu
encerrar a sessão sem dar a palavra a parlamentares governistas, que esperavam
para fazer perguntas.
Rosso,
que argumentou que a Ordem do Dia tinha sido iniciada no plenário, foi acusado
de manobra a pedido do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já que havia
informado, no final da manhã, que não haveria necessidade de encerrar a
reunião, por não havia previsão de votações.
Relator
do processo, Jovair Arantes (PTB-GO) voltou na sessão de hoje para tentar
tranquilizar o colegiado. “Convidamos dois que fizeram a denúncia e dois que
falam contra a denúncia. Não para produzir provas. Evidente que a fala é livre,
mas nada de novo será acrescentado no relatório”, afirmou, tentando apaziguar
os ânimos já acirrados no início da sessão.
Fonte:
brasilpagina1
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