As delações dos executivos da Andrade Gutierrez e a possibilidade de a Odebrecht também entrar no esquema como forma de sobrevivência das companhias expõem o modelo de negócios da política no Brasil: "grandes fornecedores do governo usavam caixa 2 para pagar campanhas políticas, sejam esses recursos de atividades legítimas das empresas, sejam de propinas de contratos com estatais", publicou Kennedy Alencar, em seu blog.
Apesar de ser o PT o alvo direto e principal afetado com as revelações, o atual discurso do PSDB é "hipócrita", aponta o jornalista, que completa: "[A oposição] usou as mesmas facilidades no poder, porque os grandes fornecedores são os mesmos. Políticos do DEM e do PSDB vociferam como vestais, mas podem estar apenas na fila das revelações que a Lava Jato está por descortinar". Leia a coluna:
Do Blog do Kennedy
PT pagará preço alto por corrupção, mas oposição faz discurso hipócrita
KENNEDY ALENCAR
As delações de onze executivos da Andrade Gutierrez expõem o modelo de negócios da política brasileira. Ao admitir que fez pagamento ilegal para a campanha de 2010 da presidente de Dilma Rousseff, a Andrade mostra como funciona o Brasil.
Essas delações terão um efeito mais amplo sobre a política brasileira como um todo e outro mais particular sobre a presidente da República.
Até há pouco, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, que foram grandes financiadoras de campanha, estavam numa posição contrária à delação premiada no âmbito da Lava Jato. Isso está mudando.
Onze executivos da Andrade aderirem à delação é resultado de uma estratégia geral do grupo para tentar sobreviver. A Andrade está fazendo com atraso o que a Camargo Corrêa fez na largada, contendo danos ao grupo com mais eficiência.
Também está na mesa a possibilidade de delação de executivos da Odebrecht. Isso só vai acontecer com o consentimento de Marcelo Odebrecht, que presidiu a companhia. Portanto, há um potencial enorme de revelações a surgir na Lava Jato.
Repetindo: as delações dos executivos da Andrade Gutierrez expõem o modelo de negócios da política no Brasil. É ainda ou era assim que as coisas eram feitas no país. Grandes fornecedores do governo usavam caixa 2 para pagar campanhas políticas, sejam esses recursos de atividades legítimas das empresas, sejam de propinas de contratos com estatais.
O PT pagará um preço mais alto porque está no poder há 13 anos e se lambuzou. O PT não inventou ou institucionalizou a corrupção. Mas foi pego na farra da corrupção depois de se dizer diferente dos outros partidos. É o pecado do pregador, digamos assim.
No entanto, como se trata de um modelo de negócios da política brasileira, a oposição faz neste momento um discurso hipócrita. Ela usou as mesmas facilidades no poder, porque os grandes fornecedores são os mesmos. Políticos do DEM e do PSDB vociferam como vestais, mas podem estar apenas na fila das revelações que a Lava Jato está por descortinar.
Esse discurso do PT de que o juiz Sérgio Moro seria um agente tucano é uma bobagem. Moro é sério. E a Lava Jato tem a obrigação de passar a política brasileira a limpo como um todo.
Seria muita ingenuidade achar que revelações como essa da Andrade Gutierrez aconteceram apenas com o PT e que temos santos na oposição que agora se escandalizam com dois pedalinhos num sítio em Atibaia. É hipocrisia demais. Parece que a oposição subestima a inteligência dos eleitores e dos investigadores da Lava Jato.
Dilma perde discurso
Se provado na Justiça o uso de caixa 2 em 2010, será derrubado o discurso da presidente Dilma de que suas campanhas nunca receberam dinheiro ilegal. Dilma e seus principais auxiliares repetem desde o começo da Lava Jato que não houve dinheiro ilegal em 2010 e 2014.
Pelo que se sabe até agora, parece que não será mais possível sustentar isso em relação à primeira eleição. A presidente sempre invoca a tese de que não existe uma Fiat Elba contra ela, reduzindo a questão da corrupção a um benefício de natureza pessoal.
A presidente e sua história, sobretudo a luta contra a ditadura militar, merecem respeito. Não há prazer em ver o país metido na atual crise, dividido politicamente e a caminho do abismo econômico. Mas Dilma está sendo engolida pela própria incapacidade de governar, de fazer avaliações políticas básicas e de elaborar um plano econômico viável para tirar o país da crise.
Dilma sempre achou que sobreviveria à Lava Jato deixando, como saída de emergência, a possibilidade de culpar o PT pelo que ela chama de malfeitos. Só que ela chegou ao poder e se reelegeu com os votos e o dinheiro que o PT arrumou.
Se houve dinheiro ilegal em 2010, ela tem responsabilidade política por isso, no mínimo. Dificilmente haverá punição a ela, porque há um entendimento no Supremo Tribunal Federal e na Procuradoria Geral da República de que o presidente só pode ser responsabilizado por atos ligados ao atual mandato. Como a revelação da Andrade é sobre 2010, isso preservaria o atual mandato, obtido em 2014.
Mas há um furo ético no discurso de Dilma. Cai no vazio a versão dela de que nunca houve dinheiro ilegal em suas campanhas. E deixa uma dúvida no ar. Se aconteceu em 2010, teria ocorrido também em 2014? As investigações vão responder.
Fonte: ggn
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