A
Justiça de São Paulo aceitou a denúncia contra sete executivos acusados de
cartel e fraude à licitação de 2009, durante o governo José Serra (PSDB) em São
Paulo, para a criação de uma Parceria-Público Privada (PPP) no setor
metroferroviário paulista. A parceria, no valor total de R$ 1,8 bilhão,
contempla a aquisição de 288 carros novos para a frota da linha 8 - Diamante da
CPTM além da responsabilidade de realizar por 20 anos a manutenção preventiva,
corretiva e revisão geral da frota.
Para
a juíza Roseane Cristina de Aguiar Almeida, da 28ª Vara Criminal da capital, há
indícios de que os cinco executivos da Alstom e dois da CAF denunciados pelo
Grupo de Atuação Especial de Combate a Delitos Econômicos (Gedec) do Ministério
Público de São Paulo cometeram crimes. Diante disso, a magistrada aceitou a 8ª
denúncia contra empresários acusados de participar do esquema e deu o prazo de
dez dias para que os réus respondam às acusações e indiquem testemunhas.
A
denúncia tem por base as investigações do Ministério Público de São Paulo e o
acordo de leniência da multinacional alemã Siemens com o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2013. Nesta licitação, apenas o
Consórcio Paulista, formado pelas empresas CAF - Brasil Indústria e Comércio
S.A., CAF S.A. - Construcciones Y Auxiliar de Ferrocarriles S.A. e ICF -
Inversiones en Concesiones Ferroviarias S.A.,ofereceu proposta para assumir a
PPP e foi a vencedora do certame.
Ainda
assim, segundo Mendroni na denúncia, houve crime financeiro e crime contra a
administração pública, pois executivos da Alstom, CAF, Bombardier, Siemens,
MGE, Mitsui e Tejofran teriam discutido estratégias para dividir o certame e
até fazer parcerias.
Na
acusação são listadas 10 trocas de e-mails entre executivos da Alstom com
referência às reuniões com representantes de outras empresas e também com a
indicação de que eles não chegaram a um “acordo global” sobre como seria
dividido o contrato entre as empresas.
‘Competição
sem competidores’. Diante disso, a denúncia aponta que a CAF já sabia que as
outras empresas não iriam apresentar proposta para a licitação, o que
configurou uma “competição sem competidores”. “Exatamente pelo teor das
conversas (a CAF) teve a certeza da não participação de outras empresas na
‘concorrência’ e ofereceu o preço que bem entendeu - seguramente muito acima
daquele que resultaria de ambiente competitivo, já que não encontraria qualquer
resistência”, assinala Mendroni na denúncia.
Chamou
a atenção do Gedec o fato de que o preço oferecido pelo consórcio formado pela
CAF ser apenas 0,0099% abaixo do valor de referência estabelecido pela CPTM na
licitação. Além disso, dentre as trocas de e-mails que indicam as tratativas
entre empresas concorrentes, uma mensagem de Cesar Ponce de Leon de 19 de
setembro de 2009 mostra a preocupação do grupo em explicar para a CPTM o porquê
de apenas uma oferta, caso todas as empresas decidissem dividir o projeto.
“A
solução de se juntarem todos, tem para mim o problema de que teremos que
explicar ao cliente que só haverá uma oferta (pode-se justificar pelo problema
de capital, dos prazos de entrega etc.). Além do mais, se os trens novos são
para nós e para a CAF, acho difícil que Bombardier e Siemens o aceitem. A
segunda solução (CAF e nós, + MGE mais financeiro) me parece mais viável”, afirmou
o executivo para seus colegas de empresa. Em seguida, ele ainda sugere que não
haveria competição se uma das empresas não participasse. “Mas haverá
competição, a não ser que a Siemens ‘jogue a toalha’”.
Apesar
de indicar a participação de executivos de outras empresas na denúncia, o
Ministério Público afirma que não encontrou provas suficientes para
enquadrá-los nos crimes.
Aditivo.
Além da licitação com proposta única e dos e-mails indicando a estratégia
conjunta das empresas, chamou a atenção do Ministério Público o fato de o
governo do Estado de São Paulo ter assinado, já em fevereiro de 2015 no segundo
mandato do governo Geraldo Alckmin, um aditivo de R$ 13,3 milhões,
“praticamente equivalente àquele valor da diferença entre o valor de referência
(da CPTM e o valor proposta (da CAF)”.
A
justificativa do aditivo era a instalação de equipamentos de bordo de Controle
de Tráfego Automático em 36 novos trens fornecidos, o que não estava previsto
no contrato inicial. Apesar da referência, a denúncia não acusa nenhum
funcionário público, nem as estatais e nem o governo de São Paulo, de
irregularidades.
Na
ocasião da denúncia, a Alstom e a CAF informaram que estão colaborando com as
autoridades brasileiras. As informações são do Estadão Conteúdo
Fonte:
osamigosdopresidentelula
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