O
juiz do Tribunal de Justiça Federal do DF Itagiba Catta Preta Neto, responsável
pela liminar que suspende a posse do ex-presidente Lula como ministro nesta
quinta-feira, disse à BBC Brasil que não tem nada a esconder, admite que votou
em Aécio Neves nas eleições de 2014 e afirma: "não afetou minha
decisão".
Minutos
após o anúncio de que o juiz havia suspendido a nomeação de Lula, participantes
de redes sociais encontraram a página pessoal dele no Facebook – agora tirada
do ar –, na qual Catta Preta documentava sua presença em protestos contra o
governo Dilma nos últimos meses. Em outra foto, ele aparece com um distintivo
do candidato do PSDB à Presidência em 2014, Aécio Neves.
As
fotos geraram críticas que questionaram a imparcialidade do juiz para tomar a
decisão sobre Lula.
Questionado
sobre a influência do posicionamento político, explícito nas publicações, o
juiz disse que isso não teria influenciado a decisão de pedir a suspensão da
posse, mas admite que a vida pessoal acaba interferindo no exercício da
profissão.
"A
minha atuação de cidadania não influi no meu trabalho, mas quando eu julgo, o
faço como ser humano, e isso tem influência da minha religião, do meu contexto
familiar, do amor pelo meu país", disse.
Sobre
a influência da posição política dele, ele confirma que votou em Aécio Neves
nas eleições de 2014 e diz que antes era eleitor de Lula. "Eu parei de
votar nele (Lula) por causa da situação em que ele deixou o país",
afirmou.
Sobre
uma publicação em que incentiva a queda da presidente Dilma Rousseff porque
isso facilitaria as viagens a Orlando e Miami, afirmando que "quando ela
cai, o dólar cai", ele responde que isso "não passa de brincadeira
entre amigos".
"Eu
voltaria a escrever tudo, não tenho nada a esconder, faço a página novamente se
for o caso", disse à BBC.
Segundo
o magistrado, o perfil do Facebook com as postagens foi tirado do ar pelo
filho. "Ele ficou com medo do que aquilo poderia gerar para mim e minha
família."
O
juiz disse ainda que espera contestações ao pedido de liminar, e que o que o
teria levado a pedir a suspensão foi uma questão técnica e uma "convicção
de que a presença de Lula no governo seria uma tentativa de interferir no trabalho
do Judiciário".
"Tenho
convicção total e plena de que o poder Executivo, o Lula, a Dilma não podem
interferir no Judiciário, e não digo isso apenas como juiz que preserva a
instituição que eu integro, mas como cidadão brasileiro que não quer que a Constituição
do país seja tratada dessa forma", afirma.
Fotos: Divulgação/BBC Brasil/BBC Brasil.com
As
publicações do juiz lhe renderam críticas de que teria agido com fins
políticos.
"Esse
Juiz não tem a mínima possibilidade de tomar essa decisão. Ele está impedido
porque tem interesse na questão", disse à BBC Brasil o procurador
aposentado do MP-RS Lenio Luiz Streck.
"O
Código de Processo Civil estabelece a suspeição de parcialidade do juiz quando
ele está interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. Nunca
vi um caso deste tipo. E decisões como essa não são positivas para a imagem do
Judiciário."
No
Twitter, o escritor Marcelo Rubens Paiva disse que "a Justiça se
politizou".
O
jornalista José Roberto Toledo, colunista de política do jornal Estadão ,
comparou a progressão do caso à Operação Mãos Limpas, na Itália, afirmando que
o poder Judiciário "se desmoralizou", após o poder Executivo e o
poder Legislativo.
O
juiz chegou a virar um dos trending topics (assuntos mais comentados) do
Twitter brasileiro. Em seguida, seu perfil foi tirado do ar.
*Colaboraram
Camilla Costa e Fernando Duarte, da BBC Brasil em Londres.
Fonte:
terra
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