Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ |
por Alfredo Herkenhoff, no Facebook
"Os
Delegados da Polícia Federal receberam com extrema preocupação a notícia da
iminente saída do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em razões de
pressões políticas para que controle os trabalhos da Polícia Federal.
Os
Delegados Federais reiteram que defenderão a independência funcional para a
livre condução da investigação criminal e adotarão todas as medidas para
preservar a pouca, mas importante, autonomia que a instituição Polícia Federal
conquistou.
Nesse
cenário de grandes incertezas, se torna urgente a inserção da autonomia
funcional e financeira da PF no texto constitucional.
A
Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal permanece compromissada em
fortalecer a Polícia Federal como uma polícia de Estado, técnica e autônoma,
livre de pressões externas ou de orientações político-partidárias.
Contamos
com o apoio do povo brasileiro para defender a Polícia Federal".
De
cara um português pra lá de ruinzinho já no primeiro parágrafo. Olhe esse encadeamento:
"em razões de pressões políticas para que controle os trabalhos... ".
Considerando que delegados são formados por faculdades de Direito, o texto dá a
sensação de que foi feito de afogadilho. Cardozo não alegou estar sofrendo
pressão política. Mas claro que está. Sempre esteve. E pressões políticas
costumam ser legítimas.
Citando
frases e reflexões de grandes pensadores sem citá-los. Toda polícia, seja
civil, militar ou federal, tem de ter controle. Soldados são controlados pelos
seus superiores e estes, por seus ou nossos governantes. O Ministro do Exército
é controlado pela Presidência da República. A guerra é assunto sério demais
para ser deixada em mãos dos generais.
Autonomia
para investigar, sim, mas se faz investigações seletivas, se vaza trechos
seletivos de depoimentos colhidos ainda sob a égide do sigilo, se grampeia
acusados e seus advogados, e se não investiga corretamente os seus próprios
desmandos, uma polícia assim dá a cidadãos a possibilidade de suspeitarem de
que existe uma operação política e operação partidária na própria operação de
investigação criminal autodenominada Lava Jato.
Não
é nova a máxima de que Forças Armadas sem controle político só existem em
ditaduras. Polícia sem controle político só existe em sociedades sob risco de
rupturas institucionais graves. E o controle político tem de ser exercido pelo
governante no topo do Poder Executivo com mandato conferido pelas urnas.
O
primeiro parágrafo tem uma clara afirmação de que se trata de uma nota política
contrária à saída da pasta da Justiça de um ministro petista tido, por parte da
crônica jornalística dos nossos dias, como leniente diante das características
partidaristas da Lava Jato, e tido por parte da chamada grande imprensa como um
bom ministro que jamais cerceou a atuação de qualquer delegado.
O
concreto é que cabe à Presidência nomear ministros. E cabe a ministros da
Justiça controlar não a autonomia de funcionários encarregados de investigações
de crime, mas controlar quando a autonomia se transforma num braço político de
segmentos da oposição.
Desconhecendo
o estatuto da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, não dá para
saber se o texto da nota não fere alguma coisa em seus preceitos. Nem dá para
saber se reflete ou representa corretamente todo o corpo ou a maioria da
Polícia Federal.
A
nota diz que a categoria se quer livre de pressões externas ou de orientações
político-partidárias. Nunca a PF no Brasil teve tanta autonomia. E nunca,
depois da redemocratização, um segmento dessa mesma categoria teve uma atuação
tão abertamente orientada por simpatizantes da oposição encarnada no PSDB.
Blindados
pela grande mídia, segmentos da magistratura, da PF, e do MP estão pisando no
ordenamento jurídico. O domínio do fato está virando uma epidemia. A lei da
delação premiada pressupõe que um acusado aceita livremente, espontaneamente,
voluntariamente, um acordo para redução de pena em troca de sua ajuda para
elucidar crimes. Aqui a tortura das prisões preventivas é mais um escárnio ao
nosso Direito a ser devidamente exibido e estudado nos textos que nossos netos
lerão se resolverem e puderem cursar uma universidade.
Os
delegados, com um bom lobby, podem conseguir deste Congresso a inclusão de mais
autonomia na Constituição. Mas, por ora, melhor que trabalhem e aceitem as
orientações legais de seus superiores. Que parem de fazer investigação só de um
lado do espectro político-partidário.
A
nota termina com um estranho desejo: "Contar com o apoio do povo".
Que povo, que apoio? Essa expressão "apoio do povo" é típica de
político em campanha. E seu uso na nota dos delegados fortalece as suspeitas de
que há mais desmandos na Lava Jato do que faz crer um par de microfones em
grampos mal esclarecidos.
O
Brasil anda num retrocesso tal que tem muita gente no povo achando que
criminalista é o mesmo que crime, que advocacia criminal é coisa ruim ou boa só
para os criminosos. Está difícil ser um advogado criminal. Ele fica mal na
fita. Está difícil fazer julgamento justo no Brasil. A democracia está ameaçada
pelo moralismo de uma campanha partidarizada contra a nossa corrupção endêmica.
Prefiro
um ladrão solto do que segmentos do Poder Judiciário coletando provas
ilegalmente. Quando uma Justiça absolve seus próprios atos ilegais ela não faz
justiça. Faz política de afronta à Constituição.
Fonte:
ocafezinho
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