Grupo
de advogados, juristas e ex-presidentes da OAB entregarão nesta segunda feira
28 ao presidente da OAB, Claudio Lamachia, um requerimento para que a Ordem
faça uma ampla consulta aos advogados brasileiros sobre o pedido de impeachment
da presidente Dilma Rousseff; o documento foi formulado pelo Conselho Federal
da instituição e deve ser entregue também nesta segunda à Câmara; "Não há
condições jurídicas para que se possa iniciar um processo de impeachment contra
a presidenta Dilma", opina Marcello Lavenère, conselheiro da OAB e
ex-presidente da entidade, que há 23 anos entregou o pedido de impeachment que
resultou na saída de Fernando Collor; ele alerta que, "na reunião do
Conselho da OAB, não houve decisão no sentido de que a Ordem entraria com
pedido de impeachment"
A
decisão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de apresentar um novo pedido de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff vem enfrentando resistência da
categoria. Um grupo de advogados, juristas e ex-presidentes da OAB entregarão
nesta segunda feira 28 ao presidente da Ordem, Claudio Lamachia, um
requerimento para que a instituição faça uma ampla e direta consulta aos
advogados brasileiros sobre a entrega do documento.
O
pedido de impeachment foi formulado pelo Conselho Federal da OAB e o plano é
entregá-lo também nesta segunda-feira à Câmara dos Deputados, incluindo a
delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). O requerimento
aponta que a proposta da OAB é "um erro brutal", e que "essa
decisão, por sua gravidade e consequências, que lembra o erro cometido pela
Ordem em 1964, jamais poderia haver sido tomada sem uma ampla consulta aos
advogados brasileiros".
O
conselheiro da OAB e ex-presidente da entidade, Marcello Lavenère, que há 23
anos entregou a Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara, o pedido de
impeachment que resultou na saída de Fernando Collor de Mello da presidência da
República, é totalmente contra à iniciativa. "Não há condições jurídicas
para que se possa iniciar um processo de impeachment contra a presidenta
Dilma", disse, em entrevista ao Viomundo.
Lavenère,
que é membro honorário vitalício da OAB, foi um dos apenas dois votos
contrários na Ordem, junto com o Estado do Pará, ao posicionamento pelo
afastamento da presidente Dilma, definido há dez dias na reunião do conselho.
Ele alerta ainda que, "na reunião do Conselho da OAB, não houve decisão no
sentido de que a Ordem entraria com pedido de impeachment". "O tom do
debate foi outro. O de abrir o processo de impeachment para se poder investigar
se a presidenta cometeu crimes ou não", disse.
Leia
abaixo a íntegra do manifesto dos advogados que pedem cautela à OAB:
Excelentíssimo
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
1.
Ao ingressarmos na Ordem todos os advogados fizemos o seguinte juramento:
"Prometo
exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres
e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do
Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das
leis, a rápida administração da justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das
instituições jurídicas."
2.
O juramento, que deve pautar nossa atuação profissional, aplica-se com idêntica
carga imperativa ao exercício das altas responsabilidades de direção da Ordem
nos Conselhos Seccionais e no Conselho Federal.
3.
A crise política e econômica em que o Brasil está mergulhado demanda uma
solução política e jurídica, que respeite a Constituição, a ordem jurídica do
Estado Democrático, os direitos humanos e o aperfeiçoamento da cultura e as
instituições jurídicas.
4.
A consciência democrática e a consciência jurídica nacional estão em luta
aberta contra as soluções de natureza autoritária que rompam o processo democrático,
o respeito ao mandato da Presidente da República e ameaçam mergulhar o país
numa conflagração civil de grandes proporções, tempo indefinido, dores
incalculáveis e resultado incerto.
5.
O pedido de impeachment da Presidente da República, que tramita na Câmara dos
Deputados, é considerado pela maioria dos grandes juristas brasileiros
imprestável para a finalidade a que se propõe. Não há crime de responsabilidade
a fundamentar o pedido. Logo, trata-se de um golpe contra o mandato da
Presidente e contra as instituições democráticas mal travestido de legalidade.
6.
Advogados e juristas de todo o Brasil se reúnem em grupos e comitês e defesa da
democracia e contra o golpe. No entanto, o Conselho Federal da OAB, para a
surpresa e indignação da consciência cívica e democrática dos advogados e da
sociedade brasileira, e sem qualquer consulta ao conjunto dos advogados,
resolve somar-se ao movimento golpista de clara orientação partidária mediante
a apresentação de um pedido de impeachment da Presidente da República.
7.
Trata-se de um erro brutal e cujas consequências dramáticas em termos de perda
da respeitabilidade da Ordem perante a história e sociedade brasileira
sobreviverão em décadas o mandato dos atuais conselheiros da entidade. Essa
decisão, por sua gravidade e consequências, que lembra o erro cometido pela
Ordem em 1964, jamais poderia haver sido tomada sem uma ampla consulta aos
advogados brasileiros, em termos absolutamente transparentes e democráticos,
assegurando-lhes o acesso às diferentes posições a respeito do grave momento
nacional e das soluções adequadas do ponto de vista da preservação da
Constituição e do Estado Democrático.
8.
O fato inegável é que, a continuar o crescente isolamento da OAB em relação ao
amplo movimento de defesa da Constituição Federal e do Estado Democrático, a
Ordem sairá desse diminuída em sua importância e protagonismo institucional, em
prejuízo de toda a sociedade, mas especialmente dos advogados, que dependem de
uma entidade nacional forte e respeitada para o prestígio da profissão e a
defesa das suas prerrogativas.
9.
A situação atual não se compara com o impedimento do presidente Collor. Então
havia um virtual consenso na sociedade brasileira e era evidente a participação
do presidente da República na prática de crime de responsabilidade. Bem
diferente é a atual situação, em que o Conselho Federal da OAB arrisca-se a
apartar-se da melhor expressão consciente da consciência democrática e jurídica
nacional, servindo como instrumento de um golpe contra a democracia brasileira,
como o movimento do impeachment vem sendo compreendido internamente e assim
apresentado ao mundo por Chefes-de-Estado e pela mais séria imprensa
internacional.
10.
Neste sentido, por haver ainda haver tempo para evitar o erro na iminência de
ser cometido pelo Conselho Federal da OAB, requeremos, enfaticamente, que seja
suspenso o protocolo do pedido de impeachment da Presidente da República e se
proceda imediatamente a uma ampla e direta consulta direta aos advogados
brasileiros, através da Seccionais, de modo a permitir que cada colega possa
manifestar a sua opinião pelo voto a respeito da decisão da Ordem de pedir o
impeachment da Presidente da República sob os fundamentos preconizados pelo
Conselho Federal.
11.
Para que a democracia seja respeitada, é preciso assegurar de modo transparente
e sem limitações o mais amplo contraditório. Tal procedimento democrático
engrandecerá a Ordem, fortalecerá a nossa unidade e constituirá processo de
elevação da cultura jurídica e da consciência democrática do conjunto dos
advogados brasileiros.
12.
Na hipótese de que o Ilustre Presidente considere não ser possível
tempestivamente interromper o protocolo do pedido de impeachment, requeremos
que a consulta direta aos advogados brasileiros ora requerida seja submetida a
deliberação do Conselho Federal na primeira oportunidade, se possível por
convocação extraordinária de modo que de nova decisão do Conselho possa
rapidamente surtir seus regulares efeitos, em especial a retirada do pedido de
impedimento da Presidente.
Brasília,
27 de março de 2016
Fonte:
brasil247
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