O
post publicado há pouco pela Isadora Shutte em sua página do Facebook é tão bom
que eu não vou nem comentar. Só dar os parabéns para ela.
“Bom
dia,
Gostaria
de expressar o asco e decepção que eu senti na noite de ontem, e contar como as
coisas realmente aconteceram.
Às
18h30, eu sai do meu trabalho próximo a rua da Consolação como todos os dias. E
o Lucas, meu companheiro, foi me buscar de surpresa. Eu estava de bike e ele
estava de skate. Quando nos aproximamos do Masp vimos a via da ciclo-faixa
congestionada de pessoas carregando bandeiras do Brasil, e com cartazes contra
a posse do Lula no ministério da Casa Civil, etc.
Eu
sou contra essas manifestações, acho realmente uma palhaçada, mas respeito o
direito de opinião política de qualquer pessoa, esquerda, direita, ou o que
seja. Quando nos aproximamos, eu gritei “Sai da frente, vocês estão
congestionando a via”, ninguém se moveu, apenas olharam pra gente e começaram a
gritar seus discursos de ódio ao PT. Um homem muito mal educado veio com um
auto falante e gritou no meu ouvido “Lula ladrão”, enquanto eu insisti em pedir
para descongestionar a via.
Nesse
momento eu e o Lucas já éramos o centro da atenção dos “manifestantes”, antes
que eu pudesse dizer qualquer coisa, expressar qualquer opinião política ou
simplesmente dar um jeito de passar por ali para voltar pra minha casa, já
ouvíamos coisas do tipo “eles têm cara de comunista ladrão”, “a bicicleta é
vermelha, vai pra Cuba”, E um bando de gente ignorante, sem educação, sem noção
de civilidade soltando merda pela boca, afinal eu não comprei uma bicicleta
vermelha pra homenagear o PT.
Quando
eu me dei conta do que estava ouvindo, fiquei nervosa, e as pessoas já estavam
nos rodeando e xingando sem motivos. Eu mostrei o dedo do meio pra um babaca
que tava gritando do meu lado e tentamos nos retirar dali quando um animal sem
noção me empurrou da bicicleta e eu cai no chão. Nesse momento as coisas já
estavam fora de controle, muitas pessoas acertavam o cano das bandeiras na
nossa cabeça, nos empurravam, puxavam minha bicicleta e gritavam com força
discursos de ódio absurdos…
Ouvi tantas coisas que nem consigo citar tudo mas
me lembro bem de vários rostos e das vozes “putinha comunista”, “vadia”, “vai
pra Cuba filha da puta”, “petista ladrão”,” não vou deixar você destruir o meu
Brasil”.
Eu
não tenho medo de playboy ignorante e de início não me dei conta que eles eram
em muitos. As pessoas viam a confusão de longe e já colavam gritando e nos
xingando sem nem saber o que estava acontecendo. Eu tentava me defender,
segurava as bandeiras que eles estavam nos acertando e procurava um jeito de
sair dali. O Lucas tentava me proteger dos vândalos, enquanto puxava minha bike
porque os animais estavam tentando roubar do outro lado. Nessa hora vi varias
pessoas começando a gravar e fomos sendo empurrados para dentro do vão do Masp.
O
Lucas estava preocupado, querendo sair logo dali e eu estava muito exaltada e
desacreditada daquela situação toda, tentando exigir o meu direito de passar na
rua, de ter uma bicicleta vermelha, de ter minha opinião política, e não ser
linchada por isso.
De
repente vi o Lucas olhando no olho de um idiota que agredia a gente com tapas
na cabeça e falando “meu, para com isso, você tá batendo em uma mina, a gente
só tá tentando voltar pra casa”. E segundos depois o imbecil olhando no fundo
dos olhos dele deu uma cabeçada nele. Não foi nenhum ferimento grave, mas na
hora ele estava com o rosto sangrando muito, e nesse momento eu fiquei
apavorada, gritava pra alguém chamar a policia, afinal estávamos na frente de
uma base policial.
Nessa
hora já tinham muitas e muitas pessoas nos ofendendo e tentando nos agredir e
uns 3 homens que eu acredito que também eram manifestantes, porém civilizados,
tentavam barrar as agressões e falavam repetitivamente que a gente tinha que
sair dali rápido, para pularmos do vão que estávamos para a rua de baixo.
Foi
assustador, um homem cuspiu no meu rosto, ouvíamos muitos xingamentos e eu não
queria fugir dali e deixar esse bando de retardados impunes. Quando eu me dei
conta que não tínhamos escolha, pulamos, e atravessamos a rua.
Alguns
repórteres foram falar com a gente, disseram que a gente tinha que fazer um
boletim de ocorrência, falaram que havia tudo filmado e que nos mandariam o
vídeo. Atravessamos a avenida até a base policial, eu ainda estava nervosa,
tremendo, assustada com a situação inteira, e tentei explicar pro policial o
que havia acontecido.
Ele
nos disse “ Acho melhor vocês fazerem um B.O. on-line”. O Lucas estava
sangrando e o agressor estava do outro lado da rua, e o policia militar me diz
isso? Começamos a fazer um escândalo, falei que isso era um absurdo, e que ele
tinha que ir la com a gente pegar o cara porque a gente queria ir pra
delegacia. Tinha um repórter com tudo gravado com a gente e ele mostrou o vídeo
para o PM, que pediu que aguardássemos o superior dele chegar.
Quando
ele chegou fomos atrás do indivíduo da cabeçada acompanhados da Policia
Militar, que pediu que não respondêssemos as provocações e apenas mostrassemos
quem a gente conseguia identificar como agressor. Encontramos ele e a policia
pediu que ele nos acompanhasse porque ele foi acusado de agressão. O filho da
**** teve a cara de pau de dizer que ele que queria me denunciar por roubar a
bandeira dele, que por acaso era a bandeira que ele acertava na minha cabeça.
Seguimos
para a delegacia, enquanto ele ria da nossa cara, mandava beijinhos e espalhava
seu veneno de coxa escroto.
Na
delegacia, depois de 2h, conseguimos ser ouvidos e dar o nosso depoimento. O
animal de nome Marcelo, alegou que nós o agredimos, mostrou arranhões nos
braços e nos acusou de agressores, o que fica claro no vídeo que é mentira,
primeiro porque é muito óbvio quem que tá sendo agredido, segundo porque o
imbecil usava um casaco na hora da confusão que torna impossível que eu tenha
arranhado ele nos braços. Depois de 3 horas, saímos os três, eu o Lucas, e o
delinquente como “autores-vitimas” do caso, que vai ser julgado em tempo
indeterminado.
Gostaria
de expressar, que sim eu sou de esquerda, sim eu respeito a democracia e
acredito que a Dilma tem que terminar o mandato dela a menos que tenham provas
criminais contra ela, que no caso NÃO TEM. Sim, eu acho um absurdo o que a
mídia golpista tá fazendo, acho um absurdo a forma com que tratam o Lula e não
fazem o mesmo com outros políticos que têm acusações bem mais sérias, sim eu
acho um absurdo pessoas pedindo o impeachment sendo que o vice é um imbecil que
pertence ao partido mais corrupto do país, sim eu acho um absurdo a classe
privilegiada querer destruir um partido que fez grandes avanços sociais apenas
porque não querem dividir seus ambientes, sim eu acho ridículo playboy que
sempre teve tudo na vida com cartazes contra o Bolsa Família, cotas, Fies e
etc, sim eu acho o cumulo do absurdo a classe média branca e reaça pedindo
intervenção militar depois do período assustador de 64. Também gostaria de dizer
que eu não sou petista, e que eu jamais agrediria uma pessoa só por ter opinião
politica diferente da minha, ainda que eu sinta vontade, eu nunca faria isso.
Eu
fico triste pela situação que temos hoje no brasil em que eu não sei quem é
mais doente, o governo, a oposição, ou a população. Fico triste pela ignorância
das pessoas, pelo desconhecimento político das pessoas, pelos discursos falidos
de quem nem sabe o que está fazendo ali, sinto muito pela ingenuidade deles em
acreditar que uma pessoa é responsável por todo um sistema de corrupção que
existe há anos, sinto muito pela intolerância, pelo ódio que nos divide, sinto
muito em ver que essas manifestações da direita são mais uma festinha pra
postar foto no Instagram do que realmente a defesa de uma ideologia ou causa.
Me sinto responsável e protagonista assim como todos que acharam um absurdo tal
nível de violência, de combater isso. Devemos agradecer a democracia e
preservá-la, independente do lado que estamos.
Agradeço
de coração mesmo a todos que se solidarizaram, professores, amigos, familiares,
e desconhecidos, alguns pró outros contra governo, que acharam um absurdo tal
nível violência. Não vamos aceitar fascismo, agressão e intolerância política,
afinal vivemos um país livre e democrático.
E
por último, eu sinceramente adoraria ir pra cuba.
Fonte:
revistaforum
1 Comentários
Total suporte e admiração pela Isadora e o seu companheiro. Torço e luto pelo nosso direito de morar em qualquer lugar, inclusive no nosso próprio país!
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