A Petrobras anunciou recentemente que não vai recorrer ao mercado internacional para se capitalizar. Ao invés disso, a empresa pretende vender ativos que rendam pelo menos US$ 14,4 bilhões. A iniciativa dispensaria a necessidade da companhia de captar mais dinheiro pelo menos até julho de 2017.
Mesmo assim, os investimentos da estatal estão comprometidos. Os cortes começaram a ser anunciados no ano passado, quando a empresa iniciou a revisão do Plano de Negócios e Gestão para o período de 2015 a 2019.
A justificativa é que a queda do preço do barril no mercado internacional impactava adversamente as projeções. Além disso, a Petrobras precisou lidar com a crise política deflagrada pela Operação Lava-Jato.
Para detalhar a questão, o Jornal GGN entrevistou o professor do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE-IE-UFRJ), Helder Queiroz.
Ele deu um panorama do mercado internacional e explicou os motivos pelos quais o Brasil não aproveita a baixa do preço do petróleo bruto para desonerar os setores produtivos e os consumidores comuns na compra dos derivados.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Jornal GGN – Como a queda do preço do petróleo afeta o pré-sal e a Petrobras?
Helder Queiroz – Primeiro, o contexto geral. Não é um problema que aconteceu da noite para o dia. A demanda está estabilizada e a oferta está crescendo.
Os Estados Unidos reduziram a importação por conta do óleo e gás não convencional. Com isso a demanda cai e a oferta é excedente. Nos últimos dois anos o excedente de oferta ficou muito grande.
Você deve se lembrar que a OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] se reuniu no ano passado para discutir um corte de produção, que seguraria o preço. Por que isso não deu resultado? Porque tem uma guerra comercial por cliente.
Eu corto a produção e o que garante que quando eu retomar o meu comprador ainda vai estar lá? Isso fez com que uma solução de cartel não fosse possível.
Jornal GGN – Pela perda de competitividade diante dos concorrentes?
Helder Queiroz – Exatamente. Foi assim que o Iraque virou o principal exportador para a China, passando a Arábia Saudita. Praticando um preço abaixo do mercado.
Para os países produtores é terrível. Dois anos atrás estava US$ 100 o barril. Hoje está US$ 30.
Jornal GGN – Se para a Petrobras e para o Brasil é ruim, para a Venezuela é catastrófico...
Helder Queiroz – Catastrófico. A gente já vai chegar no Brasil.
Para a Venezuela é pior porque eles estão há cinco, seis anos, lidando com uma crise política e econômica. Mas mesmo para os países com dívidas menores, como Arábia Saudita e Kuwait, é ruim.
Para os importadores, no entanto, é bom. Em muitos países importadores os derivados têm o preço alinhado com o petróleo bruto. Ou seja, o petróleo cai, a gasolina cai.
Isso é bom para o setor industrial e para o cidadão comum, que poupa esse dinheiro e pode usar no comércio. Ou seja, movimenta a economia.
Jornal GGN – E o Brasil e a Petrobras?
Helder Queiroz – O Brasil também é considerado, hoje, um país exportador. Com a queda do preço do petróleo a Petrobras tem a receita frustrada.
Isso é ruim para a Petrobras e também para os estados e municípios, que arrecadam menos royalties. Então, compromete o plano de investimentos da Petrobras e ainda tem uma questão fiscal que preocupa.
Tem também um efeito macroeconômico. A Petrobras era o carro chefe da economia. Era ela que estava puxando para cima a relação investimento PIB.
Jornal GGN – Podemos dizer que é a empresa mais importante para a relação investimento PIB?
Helder Queiroz – Sim.
Jornal GGN – Por que no Brasil existe esse descompasso entre o preço do petróleo bruto e o preço dos derivados?
Helder Queiroz – No Brasil a gente nunca teve uma política de preço de derivado transparente. No passado, o preço estava abaixo do mercado internacional e agora está bem acima.
Jornal GGN – É uma questão política?
Helder Queiroz – O ministro da Fazenda – o Levy, e parece que isso foi mantido com o Barbosa – diz que a Petrobras tem liberdade para fazer a política de preço. Mas independentemente disso ela não é transparente.
Isso é ruim porque o preço é um sinal que afeta as decisões do investidor. Sem esse sinal, essas decisões não são tomadas.
Jornal GGN – A Petrobras disse que não vai a mercado para se capitalizar. Preferiu vender ativos. É uma decisão acertada, vender os ativos em um momento de baixa do mercado?
Helder Queiroz – Vender ativos em um momento como esse é sempre ruim.
Não só porque o mercado está em baixa, mas também porque todo mundo sabe da necessidade da Petrobras de vender.
Isso compromete o poder de barganha.
Fonte: ggn
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