Ilda
diz que sente o receio de algumas pessoas em chamá-la de negra.
Ela
chegou ao Brasil com três anos, graças a uma bolsa de estudos do pai.
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Ilda Lando por Laine Alcântara (Foto: Divulgação/ Laine Alcântara) |
"Por
favor, sem medo de me ofender, me chame de negra. Eu amo. E se for com carinho
pode me chamar de neguinha. Eu sou negra, nasci negra, vou morrer negra e tenho
muito orgulho da minha cor". O desabafo é da angolana Ilda Isabel Lando,
de 23 anos, que mora em Campo Grande há duas décadas, e foi postado por ela nas
redes sociais na segunda-feira (25).
Em
entrevista ao G1, Ilda contou que a postagem não teve relação direta com alguma
situação constrangedora ou de preconceito recente, mas foi feita para estimular
outros negros a terem orgulho da raça.
"Foi
mais uma reflexão mesmo. A gente sempre vê que as pessoas acham que chamar de
negra é uma ofensa. Tem gente que fala que eu sou uma morena bonita, com medo
de chamar de negra, acha que vai ofender, talvez porque negra é uma palavra
muito forte. Mas, pra mim é um elogio, eu gosto, tenho orgulho de ser
negra", contou.
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lda nasceu em Angola e chegou ao Brasil com 3 anos (Foto: Ilda Isabel Lando/ Arquivo Pessoal) |
Filha
de uma técnica em enfermagem e de um economista, Ilda nasceu na província de
Luanda, em Luanda, na capital da Angola, e veio para o Brasil aos 3 anos,
depois que o pai ganhou uma bolsa de estudos para a faculdade de economia.
Na
época, Angola vivia uma guerra civil que durou 27 anos. A luta na ex-colônia
portuguesa foi o conflito militar mais longo da África e deixou um milhão de
mortos e quatro milhões de refugiados, além de destruir a infra-estrutura do
país.
Dificuldades
Chegar
ao Brasil criança, negra e com sotaque e cultura diferentes tornou o processo
de adaptação mais difícil, principalmente no convívio com outros colegas na
escola, lembra Ilda.
"Quando
entrei no pré ainda tinha aquela coisa do sotaque, além de negra e africana,
mas, graças a Deus e com ajuda da minha família superei e deu tudo certo",
afirmou.
Ter
orgulho da própria beleza e se enxergar tão bonita quanto as outras colegas foi
questão de tempo. "Antigamente eu me incomodava um pouco, mais na questão
da escola, porque tinha aquela coisa de se autoafirmar, de ter o padrão de
beleza, durante a infância e a adolescência tinha esse negócio e foi difícil,
porque a beleza negra nunca foi vista como padrão", afirmou.
Sobre
o preconceito e o racismo, ela afirma que já foi vítima de situações veladas,
mas que aprendeu a lidar. "Já passei sim, por situações de racismo, mas
não explícito. Foi aquele preconceito mais escondido, porque hoje em dia as
pessoas sabem que é crime, então, a pessoa não vai chegar em você e falar que
não gosta de negro", ponderou.
Segundo
dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de janeiro a
dezembro de 2015 foram registrados 12 casos de racismo, preconceito e
discriminação em Mato Grosso do Sul, sendo 4 deles em Campo Grande.
Superada
a fase difícil, Ilda passou a ser ícone de beleza negra para si mesma e para os
outros também. Em 2011, foi eleita miss beleza negra de Campo Grande. Nos anos
seguintes participou de outras concursos de beleza e até hoje faz alguns
trabalhos freelances de modelo, mas atualmente divide a maior parte do tempo
entre os estudos e o trabalho em um hospital de Campo Grande.
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Ilda postou desabafo nas redes sociais (Foto: Reprodução/ Facebook) |
Gabriela
Pavão
Do
G1 MS
Fonte:
g1
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