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A
crise que embala o jornalismo não é de hoje. Críticas a aspectos conceituais,
morais, editoriais e até financeiros já rondam esse importante pilar da
democracia há um bom tempo. O digital, então, acabou surgindo para dar um
empurrãozinho – tanto para o bem como para o mal – nas redações mundo afora.
Prédios esvaziados, startups revolucionárias, crise existencial e um suposto
adversário invisível: o próprio leitor.
O
leitor – e suas mídias sociais digitais conectadas em rede – passou a ser visto
como um inimigo a ser combatido, um mal necessário para que o jornalismo conseguisse
sobreviver. Não mais se fazia jornalismo para a sociedade, mas se fazia um
suposto jornalismo dinâmico e frenético para que os grandes nomes da imprensa
sobressaíssem diante dos “jornalistas cidadãos”. Esse era um dos primeiros e
mais graves erros – dentro de uma sucessão – que seriam seguidos.
As
redações continuaram a ser esvaziadas, a crise existencial tornou-se mais aguda
e o suposto adversário invisível cada vez se tornava mais forte. Havia um clima
de que os “especialistas de Facebook” superariam a imprensa. Não era mais
necessário investir em jornalismo, já que as mídias sociais supririam toda a
nossa fome por conhecimento e informação. O mito – surgido nas próprias redes
sociais – parecia ter sido absorvido de tal maneira que a imprensa não mais
reagia. Mesmo com o crescente número de startups sobre jornalismo, o fato do
canibalismo jornalístico parecia mais importante.
Agora,
outros erros tão graves quanto os citados estão sendo cometidos pela imprensa.
O comportamento infantilizado de muitos veículos através das mídias sociais,
por exemplo, demonstra imaturidade e desestruturação de pensamento. A aposta em
modismos – e não mais em jornalismo – tem causado um efeito em cadeia que faz
com que tanto canais grandes como pequenos se comportem de maneira duvidosa –
pelo menos perante os conceitos do que se entendia como jornalismo.
Comportamento
infantil e modismos
O
abuso de listas, o uso de “especialistas de Facebook” como fonte, pautas sendo
construídas com base em timelines alheias ou o frenesi encantador de likes e
shares têm feito com que uma das maiores armadilhas das redes sociais abocanhe
o jornalismo. O jornalismo, como instituição e pilar da democracia, agora se
comporta como um usuário de internet, jovem, antenado, mas que não tem como
privilégio o foco ou a profundidade. A armadilha se revela justamente no
momento em que “ser um usuário” passa a valer como entendimento de “dialogar
com o usuário”.
As
mídias sociais digitais conectadas em rede trouxeram a “midiatização da mídia”,
ou a “facebookização do jornalismo”. Quando se falava em jornalismo cidadão e
participação do usuário, muitos pensavam em um jornalismo global-local, com o
dinamismo e velocidade que a internet exige. Porém, o que temos visto não vai
ao encontro desse pensamento, já que o espaço do cidadão no jornalismo é medido
apenas pelo seu humor, a participação do usuário é medida em curtidas e o
jornalismo muitas vezes não é jornalismo, sendo apenas uma mera isca para likes
e shares.
***
Cleyton
Carlos Torres é jornalista e mestrando MDCC pelo Laboratório de Estudos
Avançados em Jornalismo, Unicamp. Editor do Mídia8!
Fonte:
observatoriodaimprensa
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